ECO da campanha. Spinumviva volta à cena com ‘drama’ eleitoral no Porto e Lisboa

A três dias de cair o pano sobre a campanha autárquica, os atores partidários optaram por seguir guiões antigos para tentar conquistar o papel principal na liderança das maiores cidades do país.

No dia em que os estilhaços dos novos desenvolvimentos do caso Spinumviva voltaram a atingir o social-democrata Luís Montenegro, a socialista Alexandra Leitão esteve debaixo de fogo de Carlos Moedas na primeira aparição com a bloquista Mariana Mortágua nas ruas da capital, enquanto no Porto, entre “planos secretos e “enviados pelo Governo de Lisboa”, a campanha escaldou depois de uma sondagem mostrar que está tudo empatado entre Pedro Duarte e Manuel Pizarro.

No pouco tempo em que não foi obrigado a justificar-se sobre a novela que envolve a empresa da família há vários meses, o presidente do PSD admitiu que a relação entre Governo e câmaras será “tão mais firme” quanto as ideias e objetivos forem “mais próximos ou coincidentes”. Em Castelo Branco, num almoço do candidato apoiado por PSD, CDS-PP e um movimento independente, assegurou, porém, que essa cooperação será estreita “seja qual for o autarca”.

Pela região de Coimbra andou José Luís Carneiro (PS), deixando um alerta de que a democracia não é só feita no momento do voto, mas com os eleitores a acompanharem durante quatro anos o que se faz na câmara, na assembleia municipal e na junta de freguesia para garantir que as promessas eleitorais são cumpridas.

No Sabugal, André Ventura não deixou cair o tema da imigração para acusar o Executivo de ser corresponsável pelo “estado de caos e de insegurança a que o país chegou”.

Já ao final da tarde, em Vale de Cambra e após a novidade de que a proposta de Orçamento do Estado será, afinal, apresentada já na quinta-feira, um dia antes do prazo, o líder do Chega atacou o Governo por tentar “desviar atenções” do caso Spinumviva e “usar o Governo do país para fazer eleitoralismo”. Sinalizou ainda que “de cada vez que o primeiro-ministro anuncia o que quer que seja em véspera de autárquicas, não é com o dinheiro dele, é com o dinheiro dos contribuintes”.

“Está pronto e, por isso, não era preciso estar a adiar”, justificou Luís Montenegro durante uma arruada em Tomar, acrescentando que o documento até podia ter sido entregue esta quarta-feira na Assembleia da República, mas o Ministério das Finanças optou por rever este “documento pesado” para garantir que não há erros na versão final da proposta. José Luís Carneiro até considerou positiva a antecipação para não coincidir com o encerramento da campanha autárquica.

Tema quente

Spinum – de novo – viva numa campanha eleitoral

O caso Spinumviva, que já tinha provocado eleições antecipadas e dominou a corrida às legislativas de maio que a AD voltou a vencer, voltou em força a outra campanha eleitoral. Após ser noticiado que o Ministério Público já analisou ao detalhe todas as denúncias e queixas que recebeu relativas à empresa familiar de Luís Montenegro e que os magistrados responsáveis pela averiguação preventiva defendem que deve ser aberto um inquérito-crime para esclarecer o caso, que inclui as obras na casa de Espinho e férias no Brasil, a Procuradoria-Geral da República veio sublinhar que ainda não há decisão, aguardando ainda a documentação pedida ao primeiro-ministro.

Ainda na terça-feira à noite, em Albufeira, a primeira reação do líder do PSD foi dizer que ficou “estupefacto e revoltado” com as notícias e a falar mesmo “em pouca-vergonha”. Já esta quarta-feira, Montenegro frisou que falará “diretamente com Ministério Público”.

“Como também é suposto que o Ministério Público fale comigo diretamente e não através da imprensa”, advertiu, apelando a que todos os intervenientes processuais usem a sua intervenção “para promover a descoberta da verdade e o esclarecimento”.

“É aquilo que se pretende e é nisso que estou concentrado. Tudo o resto é luta política”, completou.

Nesse plano político, o socialista José Luís Carneiro disse ser “incompreensível que não tenha sido aberto um inquérito-crime”, mas notou que “só o PGR pode responder” a isso. Mais comedida, a liberal Mariana Leitão pediu apenas serenidade e uma investigação sem qualquer tipo de “interferência” na ação do Ministério Público.

André Ventura considerou que o primeiro-ministro está “a arrastar a situação” sobre a Spinumviva ao não prestar todos os esclarecimentos e avisou que Montenegro não pode ter tratamento privilegiado. Rui Tavares (Livre) acusou-o de não conseguir “manter uma história certa do princípio ao fim” e de ter “um caso não muito sério com a verdade”.

Paulo Raimundo (CDU) desafiou Montenegro a “assumir responsabilidades” se estiver a questionar os tempos da Justiça e previu que o próprio terá de “tirar conclusões” políticas, apesar de não pedir a sua demissão.

Mariana Mortágua (BE) indicou que o caso vai perseguir o primeiro-ministro e a sua credibilidade, esperando que a justiça faça o seu trabalho, mas que tenha prazos. E Inês Sousa Real (PAN) lamentou a “vitimização” do líder social-democrata, exortando-o a prestar “toda a informação” às autoridades para se poder dedicar ao país.

A figura

Alexandra Leitão

A candidata da coligação de esquerda à Câmara de Lisboa teve pela primeira vez ao lado a bloquista Mariana Mortágua, regressada da flotilha que tentou chegar a Gaza e que tinha faltado ao grande comício na segunda-feira, com quem visitou o Centro de Apoio Social dos Anjos e almoçou, já depois de ter descido a Avenida de Roma com Rui Tavares (Livre).

A presença da líder bloquista serviu de mote para Carlos Moedas aludir a “um projeto de ódio”, acusar a opositora de sofrer de “cegueira ideológica” e estar sempre “do lado errado” em temas como a insegurança e a regulação da imigração. Acompanhado do dirigente social-democrata Hugo Soares, reclamou que “o PS de Lisboa está refém do Bloco de Esquerda” e piscou o olho ao PS moderado: “Quantos mais votos, melhor”.

“Carlos Moedas está totalmente de cabeça perdida para dizer que eu imponho o ódio e quero acabar com o nosso modo de vida. A nossa coligação está unida e não é pelo ódio nem contra ninguém”, ripostou a socialista, crítica de uma “Lisboa descuidada, cheia de lixo, sem habitação e caótica na mobilidade”.

Questionou ainda “se os extremismos são só para um lado”, para sugerir que o cabeça de lista da coligação “Por ti, Lisboa”, que junta PSD, CDS-PP e IL, pode vir a entender-se com o Chega a partir de domingo. “Estamos todos cá dentro, não está ninguém fora nem ninguém com pé dentro e pé fora”, insistiu Alexandra Leitão, que tem também o apoio do PAN.

Quem quis mesmo ficar de fora da ampla coligação de esquerda à capital foram os comunistas. Voltam a candidatar João Ferreira, que esta quarta-feira de manhã esteve quase 40 minutos a tentar encontrar uma bicicleta da aplicação municipal GIRA para se deslocar dos Olivais ao Marquês de Pombal. “Na cidade dos unicórnios, não se consegue pôr uma aplicação para gerir um sistema de bicicletas partilhadas a funcionar convenientemente”, desabafou o cabeça-de-lista da CDU.

O número

Há 335 freguesias onde a corrida eleitoral do próximo domingo vai ser a solo, resumida a uma única lista concorrente, o que corresponde a quase 11% das 3.092 juntas existentes no país. Segundo dados da Comissão Nacional de Eleições (CNE), a maioria destes candidatos que já sabem que vão ser presidentes durante os próximos quatro anos estão localizadas no Interior Norte e Centro do país, destacando-se os distritos da Guarda (74 freguesias), Bragança (54), Viana do Castelo (52), Braga (38), Viseu (37) e Vila Real (35) e Castelo Branco (16).

 

A frase

"Nesta campanha não fugi das pessoas. Não apareci em julho, apareci muitos meses antes. A gestão do meu principal adversário foi desastrosa. Quem o diz é o Tribunal de Contas e até um ex-presidente do PSD, o doutor Rui Rio, disse que o doutor [Luís Filipe] Menezes era o campeão da dívida. A dívida do município em 2013 era de 370 milhões de euros. A questão é: quem é que pagou essa fatura? Foram os gaienses que andaram a pagar com impostos no máximo.”

João Paulo Correia

Candidato do PS à Câmara de Gaia, referindo-se ao cabeça de lista da coligação PSD/CDS-PP/IL, que liderou o município durante 16 anos (a que se seguiram os últimos 12 de liderança socialista)

 

A surpresa

Porto ao rubro entre “planos secretos e “enviados pelo Governo de Lisboa”

Se a corrida pela Câmara do Porto já estava quente, ficou a ferver depois da sondagem da Pitagórica, divulgada pelo ECO, a dar conta de um empate em toda a linha entre Pedro Duarte e Manuel Pizarro, separados por apenas 0,1 pontos percentuais. Com os indecisos (21,8% dos inquiridos) a serem determinantes para o resultado e os candidatos ainda a disputarem os votos que já foram de Rui Moreira, a campanha subiu de tom esta quarta-feira

Ligeiramente à frente, o líder da coligação PSD/CDS/IL reagiu que “não é necessário haver uma maioria estável ou um acordo de governação” para garantir estabilidade no Executivo municipal, admitindo governar “ponto a ponto, caso a caso”. Disse que tem “muita experiência de diálogo, de convergência e de consensos”, mas não poupou o candidato do Chega, Miguel Côrte-Real, que o acusou de ter um discurso sobre segurança que “não passa de uma simulação”.

“Se há discurso em que estou absolutamente convicto é nesse. Eu ignoro galhardamente e orgulhosamente o Chega”, garantiu Pedro Duarte, que tem acusado Manuel Pizarro de ter um “plano secreto” na habitação.

Ora, o rival socialista, que à terceira tentativa de ocupar a cadeira do poder na Invicta, lembrou que apresentou o programa para o setor a 10 de julho, enquanto o ex-ministro de Montenegro “ainda anda a descobrir onde é que ficam as freguesias do Porto”.

Numa arruada no centro histórico em que afirmou sentir o apoio “inteirinho” do PS, apesar de Carneiro ainda não ter participado na sua campanha, Pizarro confiou ainda no eleitorado para escolher “de forma útil e inteligente” entre “alguém que [teve] sempre com os dois pés no Porto ou alguém que é enviado pelo Governo de Lisboa para ver se vem tomar conta” da cidade.

Quem não engole esta bipolarização entre PS e PSD é o independente Filipe Araújo, apesar de na sondagem da Pitagórica recolher apenas 5,4% das intenções de voto. Argumenta que “há 12 anos os portuenses decidiram que o melhor para o Porto era um movimento de cidadãos para governar”.

“Aquilo que está em jogo no domingo é se querem continuar a ter uma gestão por parte de um movimento independente que eu encabeço, por pessoas que mantêm os princípios e valores que levaram a esta gestão, ou se querem voltar atrás, ao tempo dos partidos”, resumiu o líder do movimento “Fazer à Porto”.

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