Centro de Coimbra perde comboio no primeiro semestre de 2024

Sistema de autocarros vai substituir ligação ferroviária entre Coimbra-B e Estação Nova. Movimento cívico defende que os dois meios de transporte podem ser compatíveis.

O centro de Coimbra vai deixar de ter comboios a partir do primeiro semestre de 2024. A partir daí, quem morar no centro da cidade dos estudantes só poderá contar com um autocarro articulado e em via dedicada (BRT) para chegar à estação ferroviária de Coimbra-B. A Metro-Mondego alega que esta é a única solução para a cidade melhorar a sua rede de transportes públicos. Há um movimento cívico que defende que comboios e autocarros são compatíveis no centro da cidade.

“Se não houver alterações na programação da obra, a ligação entre Coimbra-B e Coimbra-A deverá ser desativada no primeiro semestre de 2024, por forma a poder ser realizada a intervenção no canal”, refere ao ECO fonte oficial da Metro-Mondego, a empresa que vai gerir o Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM). O SMM é uma rede de BRT para voltar a ligar o centro de Coimbra a Lousã e Miranda do Corvo. Esta foi a solução encontrada para substituir o serviço ferroviário no antigo Ramal da Lousã, fechado em 2010 e que esteve para ser transformado num metro de superfície. O plano foi cancelado, os carris foram levantados e a solução de compromisso encontrada foram os autocarros articulados.

Mapa da rede do Sistema de Mobilidade do Mondego

No local onde ainda circulam os comboios entre Coimbra-B e o centro da cidade também os carris vão ser levantados. As automotoras elétricas vão ser substituídas por autocarros elétricos com 18 metros de comprimento e um total de 135 lugares (50 deles sentados). A Metro-Mondego defende que estes autocarros vão “garantir um nível de serviço semelhante ao modo ferroviário” até na hora de ponta, quando estarão previstas 12 circulações por hora e por sentido na cidade. São 1.620 lugares por hora e por sentido.

Se for usado o comboio, durante a hora de ponta da manhã e da tarde, há pelo menos três circulações por hora e por sentido – entre as 8h e as 9h chegam a haver cinco viagens entre Coimbra-B e Coimbra-A. A automotora elétrica com três carruagens da CP consegue transportar um total de 536 passageiros numa só viagem, de três minutos. São 1.608 lugares por hora e por sentido – entre as 8h e as 9h, chegam a ser 2.680 lugares.

A Metro-Mondego defende que entre as 8h e as 9h da manhã haverá cerca de 900 passageiros em Coimbra-B e partidas a cada cinco minutos. No SMM, de Coimbra-B até à atual Estação Nova (designada de Aeminium) haverá paragens intermédias, em Casa do Sal, Açude e Arnado. O Movimento Cívico pela Estação Nova (MCEN), contudo, levanta a questão sobre a hora de ponta.

“O grande problema é que quase todos esses 900 passageiros chegam num espaço de 12 minutos, por volta das 8h30. Que frequência de metrobus será necessária para dar resposta a esta procura? Quantos passageiros terão de esperar por um segundo ou terceiro autocarro porque os anteriores partiram completamente cheios?”, questiona ao ECO um dos líderes do movimento, Luís Neto.

Conjugar autocarros e comboios

Para garantir que quem precisar de chegar a Lousã ou Miranda do Corvo não precisa de mudar de meio de transporte, o movimento cívico defende a conjugação do serviço de autocarros com a opção pelos comboios. Para isso, o BRT passaria pela Av. Fernão de Magalhães e não pela atual linha sobre carris, junto ao rio.

“O impacto do metrobus na circulação desta avenida seria reduzido. Desde logo, importa reduzir o número de carros que ali circulam, sobretudo como tráfego de atravessamento”, refere Luís Neto. Com uma largura de quase 40 metros, nesta avenida seria possível colocar “duas vias para o BRT, duas vias automóveis por cada sentido e ainda mais passeios, de largura generosa“. Em suma, “se não é possível ter via dedicada numa avenida como a Fernão de Magalhães, não haverá muitas avenidas de cidades médias europeias que o consigam”.

Mapa de rede proposto pelo Movimento Cívico pela Estação Nova

Fonte oficial da Metro-Mondego defende que esta solução “foi estudada com a câmara de Coimbra” quando estava prevista a instalação de um metro de superfície, “tendo-se considerado que não era viável em termos de circulação do tráfego rodoviário numa artéria tão importante para a cidade como esta”. No entanto, a hipótese não foi considerada na hora de colocar o sistema BRT. A empresa alega ainda que substituir o comboio pelo autocarro “apresenta importantes vantagens em termos de mitigação do efeito barreira criado por este canal, estando alinhado com os planos do Município de reforçar a ligação entre a cidade e o rio Mondego”.

Consequências para Coimbra

Num concelho onde moram 140.838 pessoas, o fim do comboio em Coimbra-A vai levar à “perda da centralidade de Coimbra na região Centro” e a “ainda menos movimento na Baixa” da cidade, pois “toda a rede de serviços suburbanos da região parte da ainda estação ferroviária”, antevê o movimento. “Este facto não é um mero capricho, acontece porque a cidade sempre foi um polo agregador de serviços (universidade, hospitais e outros organismos do Estado), que geram um grande número de deslocações pendulares. Tal como em Lisboa ou no Porto, ter o comboio a trazer toda a gente da região, com rapidez, alta capacidade e sem transbordos, até ao centro da cidade, é uma mais-valia que poucas cidades têm a sorte de ter”.

Se o calendário for seguido, o autocarro BRT vai começar a circular entre Coimbra-B e o centro da cidade no último trimestre de 2024, segundo a Metro Mondego. Mas o movimento cívico lembra que “todas as obras do SMM têm derrapado e será necessário escavar um túnel com quatro metros de profundidade debaixo de Coimbra-B, precisamente numa área onde é expectável que existam achados arqueológicos”.

(Notícia atualizada às 10h01 com indicação dos comboios entre as 8h e as 9h de Coimbra-B para Coimbra-A)

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