“Em dois anos já conseguimos poupar 1,8 milhões de metros cúbicos de água”, diz presidente da Águas de Gaia

Águas de Gaia quer ser das melhores na eficiência e gestão hídrica. E ser a primeira entidade pública de água, saneamento e resíduos em Portugal com um sistema anticorrupção.

A poucos meses de assinalar um ano de presidência no Conselho de Administração das Águas de Gaia, Miguel Lemos Rodrigues faz um balanço do trabalho feito e dos avultados investimentos que tem em carteira para pôr travão às perdas de água na rede de abastecimento. “Em dois anos já conseguimos poupar 1,8 milhões de metros cúbicos de água“, divulga o economista. E em parte graças à implementação do Programa de Redução Global de Perdas e Gestão de Eficiência Hídrica, orçado em três milhões de euros.

Miguel Lemos Rodrigues considera o programa crucial, tendo em conta a seca e consequente escassez de água que assolou o país. Entende que da mesma forma que é pedido à comunidade que faça o uso racional da água, também a empresa municipal deve ter o seu papel nesta matéria com estratégias para evitar as perdas deste bem essencial.

O administrador da Águas de Gaia quer ainda colocar a empresa municipal ao nível das melhores no que toca a eficiência hídrica. “Queremos ser uma das melhores empresas ao nível da redução de perdas e de água não faturada”, frisa em entrevista ao ECO/Local Online.

Outra medida estratégica passa pela implementação de contadores inteligentes no concelho, entre 2023 e 2025, envolvendo um custo de 6,6 milhões de euros. Miguel Lemos Rodrigues destaca ainda o investimento de sete milhões de euros na reconstrução e ampliação do atual edifício da empresa municipal, cujo lançamento da obra a concurso está previsto para o próximo ano.

Quais são os principais objetivos da Águas de Gaia delineados para os próximos anos?

Temos um objetivo claro e estratégico para a Águas de Gaia, que temos vindo a trabalhar, que tem a ver com a eficiência hídrica, ou seja, tornarmo-nos uma das melhores empresas ao nível da redução de perdas e de água não faturada. Trata-se de reduzir a percentagem de água que é perdida, seja na rede por questões técnicas — as chamadas perdas reais –, ou as perdas aparentes que podem incluir fraude, isto é, as ligações diretas, erros de faturação ou de cobrança.

Qual é o valor do investimento deste projeto e em que consiste?

É um projeto único de dois milhões de euros que já arrancou, focado na redução das perdas de água. Mas para o atingir é preciso fazer vários caminhos, como renovar a rede mais antiga que já dá sinais de desgaste e provoca fugas, assim como criar e constituir zonas de medição e de controlo. É muito mais fácil conseguir controlar perdas de água num espaço mais delimitado do que numa rede que abrange todas as 15 freguesias do concelho de Vila Nova de Gaia.

Temos perto de 140 mil clientes entre domésticos e não-domésticos, cerca de 1.500 quilómetros de rede de abastecimento de água e quase outro tanto de rede de drenagem de águas residuais. E gerimos todo o ciclo urbano da água, desde a distribuição de águas residuais, fluviais, linhas de água e a componente das praias, além da gestão de recolha dos resíduos sólidos urbanos.

Em dois anos já conseguimos poupar 1,8 milhões de metros cúbicos de água; o que representa um ganho de eficiência muito grande.

Qual é a meta a atingir?

É um projeto a cinco anos e já está a meio. Quando começámos o programa, estávamos nos cerca de 26% de água não faturada (água que se perde). Decidimos ser mais ambiciosos para atingir a meta dos 10%. Agora, estamos perto de atingir 14% de água não faturada.

Em dois anos já conseguimos poupar 1,8 milhões de metros cúbicos de água; o que representa um ganho de eficiência muito grande. Temos, assim, uma maior eficiência ao nível do nosso balanço hídrico com a implementação do Programa de Redução Global de Perdas e Gestão de Eficiência Hídrica.

Enquanto entidade distribuidora da água, a empresa adquire a água ao chamado sistema em alta, neste caso às águas de Douro e Paiva. Somos uma empresa distribuidora de água, ou seja, compramos a água em alta e distribuímos pelos nossos clientes.

Se estamos a pedir um esforço coletivo à população para poupar água, acho que é absolutamente contraditório que as empresas de água depois não caminhem para uma maior eficiência.

O que é que a comunidade ganha com este projeto?

Primeiro, a comunidade ganha do ponto de vista ambiental, porque não estamos a deitar um recurso hídrico fora, ou seja, perde-se menos água. Uma empresa que se torna mais eficiente pode servir melhor os clientes, reinvestir no seu sistema e inclusive baixar as tarifas. Ainda assim, temos uma tarifa de água equilibrada do ponto de vista de preço. Não somos uma empresa deficitária. Apesar de sermos uma empresa pública, não dependemos de nenhum subsídio público, seja da Câmara Municipal ou outro. Depois, a Águas de Gaia ganha do ponto de vista financeiro, porque deixa de pagar ao sistema em alta um determinado número de metros cúbicos de água que depois não distribui e não fatura.

Se estamos a pedir um esforço coletivo à população para poupar água, acho que é absolutamente contraditório que as empresas de água depois não caminhem para uma maior eficiência.

A substituição dos contadores convencionais por outros inteligentes também contribui para evitar essa perda de água?

Sim. Temos a perspetiva de investir três milhões de euros em contadores inteligentes que permitem ter acesso às leituras dos clientes em tempo real. Esta medida vai permitir ter um ganho de eficiência, porque os contadores inteligentes apresentam uma enorme fiabilidade de leitura e, por consequência, maior eficiência na nossa faturação. Por exemplo, podemos receber alertas de fugas de água e mais informações que os contadores tradicionais não nos dão.

Vamos fazer a massificação do projeto de forma gradual. O nosso objetivo é termos, a partir do início do próximo ano, 50% da nossa rede coberta com contadores inteligentes; o que nos vai permitir gerir melhor. Depois vamos avançando gradualmente para o resto do concelho. Será um investimento plurianual num total de 6,6 milhões euros, ou seja, um milhão euros em 2023, mais 3,4 milhões euros em 2024 e 2,2 milhões euros no ano de 2025.

Fizemos recentemente dois projetos-piloto em duas freguesias — Afurada e Canidelo –, onde instalámos cerca de 1.700 contadores inteligentes para testar e avaliar esse tipo de tecnologia.

Uma empresa que se torna mais eficiente pode servir melhor os clientes, reinvestir no seu sistema e inclusive baixar as tarifas.

A Águas de Gaia tem a sustentabilidade ambiental como prioridade?

Logo à partida, somos sustentáveis na nossa gestão, além da questão da redução dos custos energéticos nas nossas estações elevatórias. Também gerimos o programa bandeira azul nas praias da nossa Costa. Todas as 20 praias concessionadas têm bandeira azul. Somos o segundo concelho com mais praias com bandeira azul a seguir a Albufeira, porque termos equipas dedicadas à conservação dos ecossistemas nas nossas linhas da água, como as ribeiras.

Temos as linhas de água totalmente despoluídas assim como um sistema de drenagem e tratamento de saneamento eficiente que não polui a nossa Costa nem os nossos rios. Portanto, tudo em conjunto faz com que a Associação de Bandeira Azul atribua a Gaia o pleno das bandeiras azuis, porque faz análises de água e as águas balneares estão em plenas condições.

Uma das missões da empresa é contribuir para a qualidade de vida das pessoas.

Temos 90% do concelho com cobertura em saneamento. Para 2023, temos o projeto ‘Gaia 100% Saneamento’, um programa plurianual de investimento, que vai dar resposta à população que ainda não está ligada à rede de saneamento, contribuindo para a qualidade de vida da comunidade.

Ainda em 2023 vamos concluir o alargamento do sistema de telegestão a todas as 70 estações elevatórias de saneamento que constituem a rede em baixa, com elevados ganhos de fiabilidade e redução de custos energéticos.

Lançámos, no ano passado, um programa turístico-ambiental que convida a população a percorrer diversas rotas que estão sinalizadas com placas com QRCode e o telemóvel transforma-se num audioguia com informações sobre a fauna, flora, histórias do local, mas sempre com a água como cenário.

Também gerimos dois espaços de importância de educação ambiental, sendo um deles a Estação Litoral da Aguda que é constituída pelo museu das pescas, um aquário com espécies autóctones e um centro de investigação em parceria com a Universidade do Porto. O outro espaço é o Centro de Educação Ambiental das Ribeiras de Gaia que tem a particularidade de ser um edifício sustentável, ou seja, é alimentado por fontes de energia renováveis e tem sistema de reaproveitamento de águas pluviais nas casas de banho.

A Águas de Gaia implementou, recentemente, um sistema anticorrupção…

…é um processo que demos recentemente pontapé de saída. Pretendemos ser a primeira entidade pública de água, saneamento e resíduos em Portugal com esta norma de Gestão Anticorrupção que certifica as boas práticas da gestão transparente e legal.

Para quando a nova sede das Águas de Gaia?

Vamos lançar o concurso público de reconstrução e ampliação do atual edifício em 2023. Vai ser um edifício mais sustentável e mais moderno. Pretende-se que seja um projeto âncora para esta zona da cidade e vai incluir a criação de um jardim com água. Calculamos que este projeto ronde os sete milhões de euros.

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