Disparo no custo do ouro, da prata ou dos diamantes condiciona a joalharia nacional. A indústria voltou a juntar-se na Exponor, com a Portojóia a mostrar ligações à moda, decoração ou pastelaria.
Seja nos diamantes, no ouro ou na prata, o aumento do custo das matérias-primas nos mercados internacionais está a “tirar brilho” aos negócios da joalharia, da ourivesaria e da relojoaria em Portugal. A indústria volta a juntar-se na Portojóia, uma das maiores montras do setor a nível ibérico, que acontece até domingo na Exponor, em Matosinhos. O evento junta mais de cem empresas nacionais e internacionais e são esperados mais de sete mil visitantes.
“A matéria-prima é muito cara e tem subido muito nos últimos dez anos. É, sem dúvida, um entrave. Na última década, o preço do ouro disparou. Há dez anos, o ouro custava trinta mil euros o quilo; hoje custa 60 mil euros, o que torna a peça mais cara”, constata Rómulo Silva, proprietário da Goris, que já participa neste certame desde a primeira edição, que conta com 32 edições. O gestor realça ainda que “numa peça de joalharia de 1.000 euros, 60% é para matéria-prima e mais de 20% para impostos”. “Não nos deixa muita margem para trabalhar”, desabafa.
Há dez anos, o ouro custava trinta mil euros o quilo; hoje custa 60 mil euros, o que torna a peça mais cara.
Outra dor de cabeça na atual conjuntura é a perda do poder de compra. O proprietário da Goris conta que “muitas pessoas gostam de comprar e ter ouro, mas a realidade faz com que não seja possível concretizar muitos negócios, precisamente pelo preço da matéria-prima”. Por outro lado, reconhece que a inflação vertiginosa no setor não afeta os consumidores com maior capacidade aquisitiva. “Compram peças de 30, 40, 50 mil euros e não têm problemas com isso”, remata Rómulo Silva, que é filho e neto de ourives.
No stand da Goris há peça para todos os gostos e carteiras, que vão desde os 70 euros aos 20 mil euros. Fundada em 1990, a empresa já vai na terceira geração. É na fábrica de Gondomar que produz peças de joalharia que chegam a mais de mil ourivesarias a nível nacional. A nível internacional, exporta mais de 40% da produção para os EUA e vários países asiáticos.
No stand da JLD Jóias, que marca presença na Portojóia pelo terceiro ano consecutivo, Ana Dias, designer de joias e filha do fundador da empresa, com mestrado em design de ourivesaria, conta ao ECO/Local Online que esta feira é uma “excelente oportunidade para angariar novos clientes”.
No entanto, apesar da oportunidade, também atesta que o aumento do custo das matérias-primas “acaba por refletir-se no preço final das peças”. A designer exemplifica que o “ródio subiu 900% nos últimos anos” e que, a nível geral, verifica-se um “incremento das matérias-primas entre os 20% e 30%”. Apesar da inflação, a gestora não sente que a perda de poder de compra esteja a afetar tanto negócio, atestando que está a “faturar mais do que o ano passado”.
De acordo com os dados disponibilizados pela Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal (AORP), este setor emprega quase dez mil pessoas e registou em 2021 um volume de negócios de 1,2 mil milhões de euros. O ranking das exportações portuguesas do setor é liderado por Itália, Alemanha, Espanha, França, Reino Unido, EUA e Coreia do Sul.
Já numa área reservada da feira estão expostas criações nascidas de parcerias entre a joalharia e outras áreas criativas, associando artistas a designers. As duplas inovadoras deste ano combinam o universo da joalharia com a moda, a arte, a decoração ou até a pastelaria. A JLD & Miss Pavlova apresentaram uma peça que junta pastelaria fina com a joalharia. O ovo, de prata com banho de ouro, foi desenvolvido pela JLB e custa 1.500 euros ao consumidor final.

Fundada em 1979 por José Lino Dias, que herdou do pai a paixão pela arte da ourivesaria, a JLD, sediada em Senhora da Hora, no concelho de Matosinhos, é liderada por Ana e Marta Dias, que aliam a experiência e a herança familiar a uma visão moderna do negócio. Depois de se ter formado em Engenharia Eletrotécnica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), não estava nos planos de Ana Dias seguir as pisadas da família. No entanto, as “peripécias” na carreira profissional levaram-na a reconsiderar a opção. E “depois de começar nunca mais [largou]”. Está na empresa há 18 anos e garante que “será para sempre”.
O espaço de Sara Sousa Pinto, que já no ano passado ganhou o prémio de “melhor stand” e de “melhor montra”, volta a destacar-se nos corredores da Portojóia. Lá dentro há produtos que vão desde os 50 euros aos 1.500 euros. As joias artesanais são da autoria de Sara Sousa Pinto, que soma 26 anos de experiência no setor. A designer assume que a subida vertiginosa das matérias-primas é um “problema transversal a todas as áreas” e nota que a joalharia não é exceção.
As peças de joalharia de Sara Sousa Pinto, que são produzidas em Leça do Balio, são exportadas para países como Alemanha, Áustria e Suíça. Além dos mercados internacionais, as joias artesanais desta criadora já chegaram igualmente às orelhas de várias figuras públicas, como Fátima Lopes, Iva Domingues, Maria Cerqueira Gomes, Ana Marques ou Vanessa Oliveira.
À semelhança da JLD & Miss Pavlov, também Sara Sousa Pinto uniu esforços com a artista plástica Maria Beatitude para criar um toucado. Esta peça exclusiva, com edição limitada a 26 unidades, tem o valor de 1.190 euros.

Amélia Estevão, diretora de marketing da Exponor, conta ao ECO/Local Online que faz “todo o sentido” a Portojóia realizar-se no Norte do país, tendo em conta que “80% do fabrico deste setor está representado” nesta região.

Para a diretora de marketing da Exponor, a compra de uma peça de joalharia deve ser “encarada com um investimento”. E além de ser “um investimento seguro”, é uma peça que “passa de geração em geração”, o que acaba por “transmitir a herança e a vivência dos nossos antepassados”. “São peças que estão cheias de simbolismo e história”, conclui Amélia Estevão.
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Inflação nas matérias-primas “tira brilho” ao negócio das joias
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