Galiza é mais rica e exporta mais 460 milhões de euros que o Norte de Portugal
Perda de população e assimetrias territoriais afetam Galiza e Norte de Portugal, assinala relatório do Eixo Atlântico. Região espanhola é mais exportadora e já saiu do grupo das regiões mais pobres.
O Norte de Portugal e a Galiza são regiões tradicionalmente exportadoras. Em 2022, a Galiza exportou 2.800 mil milhões de euros e o Norte de Portugal 2.340 mil milhões de euros, em contraste com o caráter deficitário das balanças comerciais de bens dos respetivos países. Em ambas os casos, o principal destino das vendas externas são os países da União Europeia, representando 75% das vendas galegas e 73% das nortenhas, contabiliza o segundo relatório socioeconómico do Eixo Atlântico, divulgado esta terça-feira.
Em termos de emprego, o setor primário (agricultura, florestas e pesca) tem um peso maior na Galiza (6%) do que na Região do Norte (2,4%), enquanto na indústria transformadora o peso é maior na Região Norte (24,4%) quando comparado com os vizinhos galegos (15,2%). Já o setor da construção tem um peso semelhante nas duas regiões (6,7%), enquanto nos serviços é do outro lado da fronteira que tem um peso superior (72,1% vs. 65,4%), nota o mesmo relatório, apresentado esta terça-feira em Braga.
Ambas as regiões foram desenvolvendo o setor dos serviços, designadamente o do turismo, que na Região Norte atingiu uma expressão relevante mais tarde do que na Galiza. “O turismo é, sem dúvida, um setor com um contributo incontornável para as duas economias, mas terá de evoluir para patamares mais exigentes de qualidade e de criação de valor, sob pena de ser um setor de baixos salários”, alerta o relatório socioeconómico do Eixo Atlântico.
No ano passado, o PIB galego cresceu 3,8%, um pouco abaixo da média nacional espanhola, enquanto na Região Norte também se terá aproximado da média portuguesa. Apesar de só se conhecer oficialmente a estimativa para o ano de 2021: 5,4%, um valor também próximo do crescimento do PIB português nesse ano, de acordo com o relatório do Eixo Atlântico.
“O crescimento do PIB dos dois países ibéricos e das duas regiões do noroeste peninsular foi muito impulsionado pelo aumento da procura externa, com um menor contributo da procura interna”, lê-se no mesmo documento.
Desemprego de longa duração pesa mais no Norte
Em 2022, na Região Norte verificou-se um aumento na taxa de emprego referente a pessoas com qualificação superior e secundária, e uma redução da população ativa com formação inferior ao 3º ciclo do ensino obrigatório. Contudo, a taxa de desemprego na região continua a ser menor no nível do ensino superior (4%), seguido pelo nível de qualificação até ao terceiro ciclo obrigatório (6%) e pelo do segundo ciclo (7,2%). “Não deixa, porém, de ser preocupante que o desemprego de longa duração ainda seja quase metade do desemprego total (47,5%)”, assinala o documento.
Na Galiza também se observou um aumento da taxa de ocupação e uma redução do desemprego, cuja taxa foi maior para as mulheres, jovens, imigrantes e pessoas com menores estudos. Verificou-se também uma redução da sazonalidade do trabalho, em resultado da nova legislação laboral aprovada em finais de 2021. O desemprego de longa duração também atinge um valor elevado (37,8% do número total de desempregados), embora bastante abaixo da expressão que tem na Região do Norte.
As duas regiões que integram o Eixo Atlântico têm estatutos diferentes no quadro da Política de Desenvolvimento Regional da União Europeia. A Região do Norte é considerada uma região menos desenvolvida, por ter um PIB per capita inferior a 75% da média comunitária, enquanto a Galiza é uma região em transição, por ter um PIB per capita situado entre 75% e 90% daquela média.
No passado, ambas tiveram o mesmo estatuto de regiões de convergência, agora designadas como menos desenvolvidas. No entanto, enquanto o Norte ainda não conseguiu mudar de estatuto, a Galiza teve um processo mais avançado de convergência, a ponto de ter saído do grupo das regiões mais pobres da União. Em ambos os casos, porém, o nível de rendimento, medido pelo mesmo indicador, é inferior à média nacional dos respetivos países numa percentagem bastante próxima uma da outra: 87,1% e 85,5%, respetivamente.
A sombra das assimetrias territoriais
O mesmo relatório assinala que as duas regiões apresentam “disparidades internas consideráveis”, ao evidenciar um modelo de desenvolvimento territorial bastante desequilibrado. Em 2022 o PIB per capita da Galiza representava 85,5% do valor médio de Espanha e o da Região Norte 87,1% do de Portugal.
Em ambas os casos, as principais assimetrias internas refletem essencialmente diferenças entre o litoral e o interior, ainda que não de forma exclusiva. Na Região Norte, o litoral representa 77% do PIB regional, 72% da população, 70% do número total de empresas, 85% das grandes empresas, 82% do valor total de faturação das empresas, ou ainda 77% da oferta hoteleira.
Na Galiza, o litoral representa 78% do PIB total da região, 72% da população, 72% da população empregada ou 75% da oferta hoteleira (número de camas). Assimetrias internas desta ordem surgem nas duas regiões em praticamente todos os domínios de atividade, incluindo a educação, qualificações, investigação, desenvolvimento e inovação (IDI), dinâmicas demográficas, etc., conforme resulta da leitura deste relatório socioeconómico.
De acordo com o Eixo Atlântico, na última década ambas as regiões perderam população, em termos absolutos e relativos face aos países em que se integram. Assinala ainda que têm ambas um grau de envelhecimento da população superior ao dos respetivos países, uma taxa de fecundidade muito baixa e um aumento acentuado da população com mais de 75 anos, em contraste com a evolução dos menores de 14 anos. Os territórios interiores tiveram maiores perdas de população e são mais envelhecidos do que as zonas do litoral.
Espanha tem maior fatia nos fundos europeus
Espanha encaixou 35,4 mil milhões de euros da Política de Desenvolvimento Regional e de Coesão (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional-FEDER, Fundo Social Europeu-FSE e Fundo de Coesão-FC), mais 44,2 mil milhões da PAC, 10,9 mil milhões do REACT e 878 milhões de euros do Fundo para a Transição Justa (FTJ).
Por outro lado, Portugal beneficiou de 23 mil milhões da Política de Desenvolvimento Regional (FEDER, FSE e FC), mais 9,8 mil milhões da Política Agrícola Comum, 1,6 mil milhões do REACT e 225 milhões do FTJ.
No que respeita à Política de Desenvolvimento Regional, a afetação de 3,4 mil milhões de euros para o Programa Operacional do Norte, que corresponde a 14,8% da dotação total para Portugal e a 35% da dotação para os Programas Operacionais Regionais, incluindo as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Por seu turno, a Galiza mobilizou 2.300 milhões de euros do FEDER e do FSE para reformar a coesão económica, social e territorial neste período.
Mais produtividade do outro lado da fronteira
Já no que diz respeito à produtividade dos recursos, Portugal apresenta ao longo de todos os anos analisados valores que ficam sempre abaixo daquilo que são os valores da média da UE relativamente ao ano de 2015, apresentando um menor montante de produto gerado face ao consumo de materiais utilizados. Em 2022, os valores da produtividade dos recursos em Portugal (59,6) ficou muito aquém da média da União Europeia (122,7) e Espanha (167,6).
Espanha, ao longo dos anos analisados, apresenta sempre valores de produtividade acima da média da UE de e de Portugal a partir de 2015.
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