Valongo recusa pagar academia de futebol no Porto: “Não prestamos vassalagem” a Rui Moreira
O apoio da AMP à construção da academia da Associação de Futebol do Porto gerou troca de acusações entre autarcas do Porto e de Valongo. Este último diz que "não presta vassalagem à câmara do Porto".
Continua o mal-estar entre municípios na Área Metropolitana do Porto (AMP). Desta vez, no centro da polémica está o apoio das autarquias à construção da academia da Associação de Futebol do Porto (AFP), na Prelada, que levou à troca de galhardetes entre o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro, que é o único município a recusar apoiar financeiramente, e o número dois da autarquia do Porto, Filipe Araújo. Ambos apresentaram declarações de voto durante a reunião desta sexta-feira e as acusações foram subindo de tom.
Na declaração de voto a que o ECO/Local Online teve acesso, o socialista José Manuel Ribeiro deixa um recado ao autarca do Porto, Rui Moreira. “Há uma mensagem que quero que leve ao seu presidente: Valongo não presta vassalagem ao presidente da Câmara Municipal do Porto, ponto!” E acusou mesmo o número dois de Moreira de ser “desagradável e ofensivo com o município de Valongo”, apontando-lhe o dedo por querer “palco, visto que é candidato a candidato” da câmara da Invicta.
Nem Moreira ficou de fora nas críticas de José Manuel Ribeiro: “O único autarca excêntrico em Portugal é o senhor presidente da Câmara do Porto que, por razões incompreensíveis até à data, decidiu sair da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), mas não recusa nem agradece todos os benefícios que o seu município recebe devido à boa ação da ANMP na defesa de todos os municípios portugueses”.
O apoio dos municípios do distrito do Porto da AMP à candidatura da Associação de Futebol do Porto para a criação da Academia de Futebol, na Prelada, foi esta sexta-feira aprovado por unanimidade dos presentes na reunião do Conselho Metropolitano do Porto — órgão que reúne os 17 autarcas da AMP. Apenas a câmara de Valongo recusou comparticipar financeiramente.
O Porto vai contribuir com 750 mil euros, e Vila Nova de Gaia, Maia, Matosinhos e Gondomar com 500 mil euros cada. Os restantes municípios — Paredes, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Trofa e Vila do Conde — à exceção de Valongo, apoiam com 200 mil euros cada.
Há uma mensagem que quero que leve ao seu presidente: Valongo não presta vassalagem ao presidente da câmara municipal do Porto, ponto!
Já o vice-presidente da Câmara do Porto teceu duras críticas na sua declaração de voto: “O princípio de solidariedade e de pertença à área metropolitana por parte do município de Valongo vale zero euros, quando outros municípios contribuem com centenas de milhares de euros“.
Para Filipe Araújo, “está em causa aquilo que é o espírito metropolitano, que preside à constituição de uma área metropolitana”, estando “a pôr em causa o futuro de uma organização que tem alguns pressupostos e alguma lógica de potenciar os 17 municípios no seu todo”.
Mas o autarca de Valongo contestou na sua declaração de voto: “Fazemos parte da Área Metropolitana do Porto com muito orgulho, sempre demos provas de ter espírito metropolitano, somos o único município que sempre participou em todas as reuniões do Conselho Metropolitano“. Aliás, realçou no mesmo documento: “Fomos um dos municípios mais prejudicados na repartição dos fundos europeus dos Investimentos Territoriais Integrados (ITI) da Área Metropolitana do Porto no Portugal 2030, mas no entanto, fomos dos poucos municípios que cederam verbas europeias municipais para todas as ações promovidas pela Área Metropolitana do Porto”.
O princípio de solidariedade e de pertença à área metropolitana por parte do município de Valongo vale zero euros, quando outros municípios contribuem com centenas de milhares de euros.
Mas Filipe Araújo contra-ataca, lembrando quando Valongo também se recusou a apoiar as obras do Coliseu do Porto: “Perante a segunda vez que este município se recusa a participar — nunca se recusou a receber verbas, mas quando é para contribuir para projetos metropolitanos, recusa-se – eu acho que está na hora de Valongo considerar se deve pertencer ou não à Área Metropolitana do Porto”.
Recorde-se que sete municípios da AMP, entre eles Valongo, se opuseram, em dezembro de 2023, a apoiar as obras deste espaço cultural da cidade portuense. Argumentaram com a necessidade de haver uma reflexão mais profunda e levantamento dos equipamentos que, tal como o Coliseu do Porto, sejam de âmbito metropolitano. Entre os opositores estavam Valongo, Arouca, Vale de Cambra, Espinho, S. João da Madeira, Santa Maria da Feira e Oliveira de Azeméis.
Depois, Valongo acabou por apoiar com cinco mil euros, quando os municípios da primeira apoiaram com 175 mil euros, e o Porto com 350 mil euros.
O autarca socialista de Valongo justificou a não comparticipação à construção da academia da Associação de Futebol do Porto: “O município de Valongo não confundindo solidariedade metropolitana com subordinação metropolitana, decidiu não apoiar financeiramente a construção de um novo equipamento desportivo na cidade do Porto, por razões de coerência perante toda a comunidade desportiva valonguense“.
José Manuel Ribeiro vai mais longe: “Não são nada claros os motivos que levam a tentar defender que o novo equipamento desportivo da Associação de Futebol do Distrito do Porto, um desporto que move milhões, possa ser considerado de interesse metropolitano”.
Na sua declaração de voto, durante a reunião da AMP desta sexta-feira, o autarca de Valongo fez questão em lembrar que a construção de estádios para o Euro2004 “levou a União Europeia a considerar negativo o apoio a novos investimentos em infraestruturas desportivas independentemente de serem ou não ligadas ao futebol”.
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