Portugal Digital – ligado à máquina
O Digital faz parte da nossa existência. Portugal teve, recentemente, iniciativas importantes que dinamizaram o Digital no país e na economia, mas a máquina está a perder gás e é importante reagir.
Quando há menos de uma década foi pensada a criação da Estrutura de Missão Portugal Digital, cujo objetivo principal era o de definir, acompanhar, operacionalizar e implementar as medidas previstas no Plano de Ação para a Transição Digital, estaríamos longe de imaginar que esta tivesse uma existência tão curta.
De facto, o importante desígnio desta estrutura, permitiu ao país fazer um trabalho de fundo sobre a necessidade de digitalização ao nível das pessoas, das empresas e da Administração Pública, e definir um conjunto de iniciativas estruturantes para dar resposta a essas mesmas necessidades.
Foi talvez por isso que quando o mundo foi abalado pela Covid e a Europa desafiou os países a reagir, Portugal estava tão ou mais preparado que os restantes países da União para solicitar as verbas necessárias para financiar a recuperação no pilar da Transição Digital: iniciativas como a Academia Digital, as Zonas Livres Tecnológicas (ZLTs), os Digital Innovation Hubs (DIH), e muitas outras, fizeram parte da estratégia apresentada a Bruxelas no contexto do PRR.
Mas como tantas vezes acontece no Digital, o foco mudou, a guerra chegou à Europa, a crise energética tomou conta do palco e da atenção mediática e, pouco a pouco, com a centralização política da gestão dos fundos europeus promovida pelo anterior Governo, o Portugal Digital perdeu poder, depois talento e acabou finalmente absorvido pela máquina, quando em dezembro passado, o Executivo, já em gestão, decretou que o cumprimento dos objetivos da estrutura de missão passaria a ser assegurada pela Agência de Modernização Administrativa.
Ora não está minimamente em causa a capacidade de execução da AMA, que com um trabalho sustentado tem suportado a progressiva transformação digital dos serviços públicos, prestando um serviço de inegável valor ao Estado, aos cidadãos e aos agentes económicos, mas é verdade que o foco da AMA é a Administração Pública e não as empresas, pelo que fica órfã uma parte importante da execução do Plano de Ação para a Transição Digital.
E, de facto, o sentimento geral é que o Digital em Portugal continua a evoluir, mas está a perder gás. Alguns dos projetos lançados estão a atravessar dificuldades, outros estão a ser modificados para cumprir expectativas de mínimos e seguramente os próximos 18 meses vão ser muito duros para que startups e empresas do chamado universo digital materializem os benefícios esperados (e contratualizados) no âmbito do PRR.
Com a crise política em Portugal, e a entrada do novo executivo, num governo que já não é de gestão mas que está claramente a tentar gerir equilíbrios e reivindicações, não se vislumbra a curto prazo, a capacidade de criar iniciativas tão agregadoras e estruturantes como aquelas que foram desenhadas nos últimos anos.
É por isso muito importante que PME e startups maximizem as oportunidades, tirem o melhor partido possível dos apoios disponíveis na Agenda 2030 e aproveitem o momento para sair de uma certa letargia e sentimento de desânimo que se tem vindo a instalar.
Com o lançamento nas últimas semanas de um conjunto de incentivos importantes no âmbito do Compete 2030, o Estado português deu finalmente um empurrão decisivo na execução do novo quadro de fundos europeus.
Existem neste momento avisos para a apresentação de candidaturas ou pré-qualificações nas áreas de Inovação Produtiva, Descarbonização, Internacionalização, Digitalização e Qualificação que oferecem às empresas um caminho de apoio ao investimento na modernização e formação dos seus quadros, que não devem ser desaproveitadas.
Mais do que escolher um dos concursos, há que tentar maximizar as oportunidades, partindo de um plano de investimentos bem estruturado e analisando a melhor forma de o materializar através da combinação dos apoios que estão disponíveis.
Sendo certo que a Estrutura de Missão Portugal Digital já não existe (e que uma qualquer réplica não voltará tão cedo), continua a ser fundamental para o nosso tecido empresarial o investimento contínuo na digitalização dos processos, a automatização das fábricas, a introdução de soluções de Inteligência Artificial e o reforço das capacidades em termos de Cibersegurança, temas que “cabem” sem qualquer margem para dúvida na estrutura dos apoios disponíveis.
O crescimento da economia portuguesa na próxima década depende da forma como estes apoios forem utilizados e o digital será uma pedra basilar nesse crescimento. Em momentos críticos, estar ligado à máquina é condição de sobrevivência. Importa por isso reagir, esquecer os contratempos, ligar de novo as máquinas, carregar baterias, aproveitar os recursos e acelerar a digitalização… porque sem um Portugal Digital não há futuro!
Nota: Os pontos de vista e opiniões aqui expressos são os meus e não representam nem refletem necessariamente os pontos de vista e opiniões da KPMG em Portugal.
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