Cruzeiros em Lisboa geram impacto de 800 milhões, quase tanto quanto o excedente previsto para 2025
Cada navio atracado no terminal de cruzeiros de Santa Apolónia representa 2,29 milhões de euros, 910 mil euros de impostos e 59 empregos, mostra o estudo da Nova SBE apresentado esta terça-feira.
Os passageiros dos paquetes que atracam no terminal de cruzeiros de Lisboa deram, em 2023, um contributo médio de 159 euros per capita para a economia nacional, representando, no total das despesas efetuadas, 0,3% do Produto Interno Bruto do país (PIB). Os dados constam do estudo “A Indústria dos Cruzeiros em Lisboa – Avaliação de Impacto Económico”, feito pela Nova SBE para o Porto de Lisboa, que nesta terça-feira assinalou o seu 137.º aniversário. Estes 0,3% do PIB são praticamente o dobro dos 0,16% verificados em 2019, ano a que se reportava a edição anterior do estudo da universidade de economia.
Os quase 160 euros por passageiro, valor fortemente influenciado pela circunstância de o mapa da viagem incluir o início ou final da viagem na capital portuguesa, representam um crescimento de quase 100% face aos 82 euros registados em 2022.
A dimensão do ganho para a cidade, cujo presidente, Carlos Moedas, já se manifestou publicamente contra o terminal de cruzeiros, difere consideravelmente consoante se trate de uma simples escala, em que tipicamente os passageiros dormem e tomam pelo menos uma refeição a bordo, ou do chamado turnaround. Nesta situação, a viagem implica que os passageiros fiquem mais um, ou vários dias, na capital ou nos arredores, para iniciar ou finalizar o roteiro em Lisboa.
Quando se considera apenas o turnaround, mostram os dados da Nova SBE, cada passageiro deixa na Área Metropolitana de Lisboa 573 euros (dos quais 288 euros se referem a alojamento). Refira-se que, em 2022, a despesa por pessoa não ia além dos 367 euros. Esta subida é explicada pelo economista Pedro Brinca, que apresentou o estudo, como resultado do aumento da inflação (somatório de 10% em apenas dois anos) e pela maior presença de viajantes norte-americanos.
Caso muito distinto ocorre quando apenas existe uma escala, o designado passageiro em trânsito, situação em que cada viajante aporta à economia, em média, apenas 39 euros.
Individualizando o tráfego de 360 navios que tocaram a margem do Tejo em 2023, cada um destes gigantes aportou ao país 2,29 milhões de euros, gerou 59 empregos e ofereceu 910 mil euros ao Fisco.
Partindo do trânsito de passageiros em 2023, das despesas manifestadas pelos passageiros durante os inquéritos efetuados já em 2024 e do cruzamento com dados de fornecedores do setor dos cruzeiros, a Nova SBE conclui que os impactos diretos, indiretos e induzidos (o valor que é obtido em resultado dos cruzeiros e depois é reinvestido na economia nacional) representam 1.934 milhões de euros de atividade económica. Deste bolo, uma fatia de 542 milhões de euros é produção direta para a economia, distribuídos em metade deste valor pelo alojamento (142,2 milhões de euros) e agências de viagens (113 milhões de euros). Abaixo, vendas a retalho, restaurantes e bares e transporte terrestre.
No balanço final, a economia nacional regista 794 milhões de euros de valor acrescentado, referente ao que, efetivamente, fica alocado ao país. Ou seja, distingue-se aqui a aquisição de um perfume fabricado em França de uma garrafa de vinho nacional. Os quase 800 milhões de euros equivalem ao “excedente do Orçamento do Estado de 2025, ou 0,3% do PIB”, como notou Pedro Brinca na apresentação do documento. Deste montante, 288 milhões são obtidos de forma direta.
No que toca a impostos, o país arrecadou 317 milhões de euros só com a atividade do terminal de cruzeiros de Lisboa. A empregabilidade supera os 20 mil postos de trabalho, dos quais 8.390 gerados diretamente pela atividade.
A dar peso à dimensão dos benefícios económicos dos cruzeiros para o país, Pedro Brinca destacou os multiplicadores, efeito de geração de receita a partir de cada euro gasto. Assim, uma moeda de um passageiro de cruzeiro representa mais em receitas para o país do que um estrangeiro que venha ao país e aplique essa moeda em hotéis, alojamento local, bares e restaurantes. Nos exemplos deixados pela Nova SBE, apenas a receita gerada pelas agências de viagens tem um multiplicador superior.
Individualizando o tráfego de 360 navios que tocaram a margem do Tejo em 2023, cada um destes gigantes aportou ao país 2,29 milhões de euros, gerou 59 empregos e ofereceu 910 mil euros ao Fisco.
Depois do recorde de 2023, a “consolidação”
Apesar dos ventos favoráveis para o porto de cruzeiros de Lisboa, a perspetiva de trânsito de passageiros na capital aponta para uma queda dos 758.328 em 2023 para 740.125 durante este ano, ainda que o número de escalas saia reforçado, de 347 para 360. Pelos números do ano passado, Lisboa foi o sexto porto mais movimentado por paquetes, próximo das 360 escalas de Cádis e acima de Málaga (301), Funchal (273), Valência (269) e Açores (180).
Do ponto de vista da receita, o turnaround (porto de início ou final de cruzeiro, quando os passageiros mais gastam, de acordo com o estudo da Nova SBE), acaba por cair cerca de 20%, para cerca de 185 mil pessoas, ao passo que aqueles que apenas fazem escala, e menos contribuem para receitas e PIB, subiram ligeiramente para 555.594.
Referindo-se a 2024 como “o ano da consolidação”, após o recorde verificado em 2023, o economista da Nova SBE salientou uma vertente que vai além da folha de Excel do impacto económico para o país e para a cidade: ao registar o seu pico de passageiros antes e depois do verão, com uma curva descendente precisamente nos meses em que a cidade está pejada de turistas chegados sobretudo pelo aeroporto Humberto Delgado, o turismo de cruzeiros é um fator de combate à sazonalidade, ajudando a manter operacional a cadeia de fornecimento de serviços turísticos na capital.
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