• Entrevista por:
  • Alexandre Batista

“A população é egoísta. Vota em quem lhe dá mais”

Isaltino Morais cumpre 40 anos em Oeiras. Chegou aquando da adesão à CEE, ainda proliferavam as barracas. Esteve preso, voltou com maioria. Em 2025, procura a nona eleição.

Isaltino Morais cumpre este ano quatro décadas desde que debutou como presidente da câmara de Oeiras, onde o PS só governou no primeiro mandato autárquico da democracia, de 1976 a 1979. O boletim de voto de 1985 serve de metáfora à transformação do país. Dos partidos no boletim de voto de Oeiras, o PRD (partido apadrinhado por Ramalho Eanes) extinguiu-se, a APU deu lugar à CDU e a UDP tornou-se constituinte do Bloco de Esquerda. Do mesmo modo, o país deixou pelo caminho as barracas, uma vastidão de casas sem saneamento e uma taxa de escolarização dos jovens de 15 anos que nem chegava aos 50%.

Em ano de autárquicas, acompanhámos um dos “dinossauros” da política local portuguesa. Desde a primeira vitória, Isaltino foi eleito mais oito vezes, com resultados especiais em 1997, primeira maioria absoluta de um partido em Oeiras, e em 2005, quando pela primeira vez apareceu sem o apoio do PSD — no seu pior resultado de sempre, com 34%. Se tivesse ido a votos em 2013 e ganho a câmara, o atual mandato seria o seu último em Oeiras. Mas Isaltino estava preso quando o seu delfim Paulo Vistas ganhou a câmara em 2013 como cabeça de lista do Movimento Isaltino Oeiras mais à Frente.

Na noite da vitória, na sala cantou-se “Isaltino, Isaltino, Isaltino”, e Vistas, no palco, envia “um abraço a Isaltino, carregado de saudade”. O autarca ídolo estava noutro concelho, o de Sintra, no Estabelecimento Prisional da Carregueira.

Mais tarde, nas autárquicas de 2017, aparecia de novo a eleições, obtendo maioria absoluta com o movimento Isaltino – Inovar Oeiras de Volta. “As pessoas são egoístas”, diz, nesta entrevista ECO/Local Online. Ganharia ainda em 2021, a maior vitória de sempre, oito em 11 deputados e todas as freguesias de Oeiras.

Este ano, 40 após a primeira eleição, vai de novo a jogo. Se ganhar, sairá aos 79 anos da câmara de Oeiras, concelho que escolheu para viver quando, residente em Santo António dos Cavaleiros, fazia o “passeio dos alegres” com a mulher.

Em 1985, há 40 anos, foi eleito pela primeira vez como autarca. Como é que um transmontano veio parar a Oeiras?

Quando se deu o 25 de abril, a coisa estava muito complicada, eu trabalhava e tinha casa em Coimbra. Em 76, regressei a Lisboa. Trabalhava na estatística [INE]. Num fim-de-semana qualquer, vim fazer o ‘passeio dos alegres’ que toda a gente fazia. Marginal, Serra de Sintra, Colares, Lisboa. Passei aqui na A5, na altura só havia até ao Estádio Nacional, olhei para a diretia e vi Carnaxide. Pensei “que coisa tão bonita”. Nesse dia comprei casa em Carnaxide. Vendi a que tinha em Ponte de Frielas e comprei logo uma ali, nesse dia.

E como chegou à política?

Em 1982, fazia parte do núcleo da JSD [Juventude Social Democrata] da Faculdade de Direito, vou ali ao Sport Algés e Dafundo a uma assembleia do PSD aqui de Algés. Chamei-lhes todos os nomes, que não sabiam o que andavam a fazer, que tinham de ganhar a câmara. O Victor Gonçalves era o presidente da comissão política. Todos se questionaram “quem é aquele, de onde é que ele saiu”. Na altura, eram muito mais espertos do que são agora. Hoje, no PSD ou no PS, se aparece um tipo vivaço, o que fazem é fechar-lhe a porta, porque pensam que lhes quer tirar o lugar.

Passados dois ou três dias estavam a convidar-me para vogal da comissão política. Fui vogal e, passados um ou dois anos, fui presidente da comissão política de Algés.

E, daí, como chega à câmara em 1985?

Em 83 pediram-me para fazer as listas de candidatos à câmara. Bati nas portas todas, não consegui, teve de ficar o mesmo, o [João] Silva Ramos [presidente da câmara de 1979 a 1985], que era do CDS, na altura da AD [Aliança Democrática]. Disse para mim “ninguém quer ser presidente da câmara, em 85 sou eu”. Em 82/83 comecei a trabalhar para ser eu [o candidato]. Entre 82 e 85 li todas as atas da câmara.

(E-D) Pedro Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa, Amândio de Azevedo, Calvão da Silva, Cordeiro Pereira e Isaltino de Morais, na romagem ao túmulo de Francisco Sá Carneiro no quarto aniversário da sua morte, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, a 4 de dezembro de 1984, 12 meses antes da primeira de nove vitórias autárquicas do edil em Oeiras.Luís Vasconcelos / Lusa

A política era outra realidade.

Não era como hoje: na altura, os apoiantes, os militantes, eram maus, exaltavam-se, atacavam, havia pancadaria. Tive campanhas em que houve tiros, aqui na Avenida dos Bombeiros Voluntários, em Algés. Mas os candidatos davam-se todos bem. Hoje, é ao contrário. Os candidatos hoje insultam-se e é o povo que fica surpreendido. Na altura, perguntava ao candidato do PS: você sabe onde fica o Casal das Chocas? A Bica do Sargento? Ninguém sabia nada. Candidatavam-se e não sabiam nada. Eu dediquei-me a sério. Foi assim que fui parar a presidente da câmara.

Diga-me uma coisa que tenha mudado bastante no seu quotidiano na câmara.

Quando cheguei à câmara, tinha uma dúzia de arquitetos, hoje tenho uns 80. Os fiscais das obras chamavam-se olheiros. O empreiteiro punha alcatrão na estrada, o encarregado chamava o olheiro para ir beber uma cerveja e quando voltava o alcatrão já estava posto. Sabia lá o olheiro se tinha dois centímetros de alcatrão, ou se tinha três. Pus-me a olhar para aquilo e pensei que mais vale pagar a um engenheiro como deve ser. Hoje são os engenheiros civis que acompanham as obras.

Os fiscais das obras chamavam-se olheiros. O empreiteiro punha alcatrão na estrada, o encarregado chamava o olheiro para ir beber uma cerveja e quando voltava o alcatrão já estava posto. Sabia lá o olheiro se tinha dois centímetros de alcatrão, ou se tinha três

Pelo meio há 40 anos, dos quais só não esteve como presidente da câmara em meia-dúzia, contando a breve passagem pelo Governo como ministro e depois o mandato em que não concorreu devido à detenção. Quando regressa, a população volta a acreditar em si e dá-lhe a maioria em 2017 e a maior vitória de sempre em 2021. Como explica isto?

A população é muito egoísta. A população vota em quem lhe dá mais, em quem melhor a serve. “Este serve-me bem, é neste que eu aposto”. Não é pelos meus lindos olhos. As pessoas apostam em mim porque sabem que eu faço. E quando prometo, cumpro. Nunca deixei de cumprir uma promessa.

Em 2013, na noite eleitoral em que Paulo Vistas ganha a câmara com um movimento chamado Isaltino Oeiras Mais à Frente, a sala gritou “Isaltino, Isaltino”. Como se consegue esta idolatria?

Com muita proximidade, claro. Eu todos os dias ando no município. Ao fim de semana, de propósito, sento-me na esplanada. As pessoas vêm ter comigo para reclamar disto, daquilo, umas elogiam, outras agradecem, outras pedem isto ou aquilo. “Oh presidente, desculpe lá incomodar, sei que é domingo, mas era só para…” E eu digo que estou ali exatamente para isto. Eu não sou hipócrita, gosto mesmo das pessoas. A mim dá-me um conforto extraordinário quando alguém se dirige a mim a agradecer-me qualquer coisa, a reconhecer um trabalho. É um prémio. Podem dizer mal de mim, dizer tudo, mas chega alguém ao pé de mim e agradece algo feito há 30 anos ou 20, uma bolsa [de estudos], os medicamentos… as pessoas arranjam sempre maneira de agradecer. É esta a diferença entre poder local e quem está no poder central. Quem está no poder central muitas vezes, seja na oposição ou não, tem aquela retórica abstrata. Eu trabalho com coisas concretas, com as pessoas, conheço os problemas delas. Obviamente que as pessoas confiam em mim só por uma razão. Sabem que quando põem um problema, eu digo que ou resolvo ou não resolvo. Mas se digo que resolvo, é para resolver mesmo. Há aqui um egoísmo enorme. Isto não se devia dizer (riso).

Isaltino Morais (E), ex-autarca de Oeiras, acompanhado pelo seu advogado, Pinto de Abreu, à saída do Estabelecimento Prisional da Carregueira, Sintra, 24 de junho de 2014. Isaltino Morais, condenado a dois anos de prisão por fraude fiscal, vai cumprir o resto da pena em liberdade condicional, estando impedido, por decisão do Tribunal da Relação de Lisboa, de se ausentar de Portugal continental até abril de 2015. MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Há 40 anos que é político. Como vê o caso de Hélder Rosalino, que ia para o Governo com vencimento que era mais do dobro do primeiro-ministro.

Está tudo errado. Ninguém devia ganhar mais que o Presidente da República e o primeiro-ministro.

Mas o problema é de Rosalino, que ganha muito, ou dos governantes, que ganham pouco para a responsabilidade que têm sobre os ombros?

Com certeza que ganham pouco. Os magistrados do Ministério público, ou judiciais, ganham mais que qualquer ministro. Os magistrados hoje são uns 4.000 no país. Presidentes de câmara são 300 [308], ministros são 17 ou 18. Só faz confusão, pelos vistos, o ordenado dos ministros e presidentes de câmara, não faz dos outros.

E por que não o critica?

Ninguém fala mais que eu nisso. Acho uma vergonha. Sabe o que é que vale? A política tem algum retorno psicológico, é muito realizadora e uma atividade de uma nobreza extraordinária. Fica nas suas mãos com o poder de resolver problemas, transformar a vida das pessoas. E elas agradecem, reconhecem. Não tenho dúvidas de que à maior parte dos políticos, pelo menos a nível local, lhes dá um prazer enorme os cargos que desempenham e que o fazem com espírito de serviço público.

E é por prazer que quer estar até aos 80 anos, em 2029, como presidente de Oeiras?

Parece que é só até aos 79. Depois não me posso candidatar mais.

Em que momento destes 40 anos começou a ser abordado na rua pelos munícipes?

Foi logo no final do meu primeiro mandato. O meu estilo foi sempre este. Sempre fui muito próximo. Todas as segundas-feiras há uma reunião de planeamento da câmara com dirigentes da câmara. Todas as terças-feiras de manhã recebo empresas, há reunião de planeamento onde estão diretores de departamento, engenheiros, arquitetos.

Todas as sextas-feiras de manhã faço visitas ao concelho — aparece um processo qualquer no meu gabinete que tenho dificuldade em despachar porque não conheço, e não gosto de despachar no gabinete sem ver. À sexta-feira, juntam-se os casos e vou visitar esses casos com dirigentes da câmara, e são resolvidos no local.

À quinta de manhã há despacho com vereadores. Da parte da tarde recebo munícipes. Desde o que vai pedir emprego ao que vai pedir habitação, recebo toda a gente. Se vai pedir emprego, digo para concorrer. Claro que se é para operário, é mais fácil, estamos sempre a contratar gente.

O seu legado em 40 anos é extenso. O novo edifício da câmara é a sua obra de regime, um ícone de betão como o Centro Cultural de Belém foi para o primeiro-ministro Cavaco Silva?

O ‘Centro de Cultural de Belém’ será o Palácio do Marquês, que será um dos melhores centros culturais deste país. Está ocupado com serviços administrativos e vai passar a centro cultural. Para fazer o Palácio do Marquês, nem com 300 milhões de euros você o faria [hoje].

Eu, ao construir um novo edifício para os serviços da câmara, elimino sete edifícios, tenho poupança e liberta-me um edifício como o Palácio do Marquês, onde vou fazer um centro cultural de referência nacional.

Eu, ao construir um novo edifício para os serviços da câmara, elimino sete edifícios, tenho poupança e liberta-me um edifício como o Palácio do Marquês, onde vou fazer um centro cultural de referência nacional

Obra para quando?

Daqui a dois, três anos, à medida que for sendo desocupado. Já se está a trabalhar numa área das ciências da vida, porque uma das coisas que lá vai ficar é o Museu de Ciências da Vida. Conhece aquele museu que está no Porto na antiga casa da Sophia de Mello Breyner, da Faculdade de Ciências?

A Galeria da Biodiversidade.

Aquilo são três ou quatro salas. Agora multiplique por cinco ou seis.

Também vai envolver uma universidade?

Já estamos a trabalhar com uma universidade do Porto, mas vamos introduzir mais conselheiros.

Por falar em Cavaco Silva, o seu vice-presidente disse há uns tempos, numa conferência do ECO, que ele tentou travar o Tagus Park.

Isso era complexo dele. Recordo-me bem das conversas que tivemos. Como estavam criadas as condições para o Taguspark vir para aqui, e depois havia alguém em Sintra que falava de Sintra, o (José) Tribolet queria levar para Santarém com o INESC, e o Cavaco tinha alguns complexos. “Oh Isaltino, Oeiras é uma câmara laranjinha, vão dizer que estamos a favorecer Oeiras”. Eu disse “tanto dá, em Oeiras vai haver um parque tecnológico”. Fiz-lhe frente. Está aí.

O Primeiro-ministro Cavaco Silva, acompanhado do ministro da Indústria e Energia, Mira Amaral, e pelo Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, no lançamento da primeira pedra do Parque da Ciência e Tecnologia, Taguspark, em Oeiras, a 10 de novembro de 1993. Inácio Rosa / Lusa

Mas não está a correr muito bem.

Como não? Está ocupado a 95%.

Várias empresas de ponta já de lá saíram.

É a transumância. Estão dentro do concelho. O Tagus Park agora vai entrar na segunda fase. Estamos a planear a expansão para o lado dos terrenos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Mais uns 30 hectares. Estamos a trabalhar no plano.

Quais as suas prioridades de governação?

Há duas para mim fundamentais. Habitação e educação. Aqui em Oeiras, o acesso à universidade é universal. Permitimos que todos os jovens que terminam o 12º ano entrem na universidade.

A câmara paga as propinas?

Tudo! Cinco Milhões de euros. Todos os que terminam o 12.º ano, querem entrar na universidade e não têm dinheiro, a câmara paga.

Quantos beneficiários tem nessa situação?

Já temos 1300. São mais bolseiros do que no país todo junto.

Frequentam universidades da Área Metropolitana?

Podem estar em qualquer universidade. Alguns até estão no estrangeiro, os de artes, por exemplo. A educação é o melhor elevador social. Você pode ter um jovem de um bairro municipal — neste momento, temos 55 jovens que frequentam universidade e vivem em bairros municipais — e na mesma família haver um filho toxicodependente, outro que é marginal. O que anda na faculdade faz a sua licenciatura, arranja um emprego, ganha melhor e quebra o ciclo da pobreza.

Quando iniciou esse plano?

Existe desde 2017. Tínhamos 33 bolsas em 2017. Agora temos 1300.

 

“Penso que os autarcas, de forma geral, melhoraram”

Há um ano, a Pordata revelava que 62% dos portugueses não confiam nos políticos da Assembleia da República. As pessoas procuram referências no poder local?

O poder local adquiriu mais relevância também porque foi aumentando as competências e a máquina administrativa foi-se modernizando. As câmaras municipais têm um aparelho administrativo muito eficiente, que ombreia com Estado e os técnicos superiores não são inferiores aos da administração central. Houve um apetrechamento técnico muito melhor. Penso que os autarcas, de forma geral, também melhoraram. Logo a seguir ao 25 de abril, havia muito voluntarismo, muita gente eleita não tinha preparação adequada. Hoje em dia, há muita gente melhor preparada para desempenhar o cargo de autarca. O que não quer dizer que seja fácil preencher os lugares, pelas remunerações.

E isso afeta a formação da sua equipa governativa?

Voltamos ao mesmo, os ordenados dos políticos são baixos. Eu tenho muitas negas. Ao longo da minha vida de autarca já fiz convites a muitas pessoas para vereadores, e perguntam quanto é o ordenado, e quando eu digo, dão-me tampa, dizem-me que com esse ordenado não há hipótese.

 

Uma vendedora de lotaria mostra a Isaltino Morais, candidato pelo PSD à presidência da câmara de Oeiras, uma foto sua que transporta diariamente na sua carteira de documentos.ANTONIO COTRIM/LUSA

E para pessoal da câmara, é fácil contratar?

Os de menores qualificações, consegue-se. Pessoas muitas vezes numa idade acima de 50 anos. Por outro lado, pessoas com alguns problemas, de álcool, por exemplo. Às vezes, recruta-se quase num gesto de caridade.

ao nível dos técnicos superiores, engenheiros, arquitetos, as câmaras em geral sofrem com a evolução cíclica da procura. Quando a iniciativa privada está bem, os engenheiros e arquitetos têm tendência para serem recrutados por privados. Quando os privados estão mal, há mais tendência para procurarem o público, e é nessa altura que aproveito para fazer projetos. Tenho projetos para tudo.

Houve um grande desinvestimento do Estado na Linha do Estoril. Nas câmaras de Cascais, Oeiras e Lisboa, já desafiámos vários governos a que entregassem às câmaras municipais essa linha

Nesse caso, tem alguém a estudar uma solução para responder aos seus munícipes na Linha de Cascais, que continua à espera de investimento? Por que não se faz ali um metro de superfície, como no Porto?

Achava uma excelente ideia.

Nunca foi falado?

Foi. Repare, Há 70 anos que não põem uma carruagem nova na linha. Houve um grande desinvestimento do Estado na Linha do Estoril. Nas câmaras de Cascais, Oeiras e Lisboa, já desafiámos vários governos a que entregassem às câmaras municipais essa linha.

E conseguiam as três pôr-se de acordo?

Eventualmente. Teria de ser do Cais de Sodré a Cascais.

Tem algum projeto para isso?

Não foi feito um estudo. Foram feitas várias sugestões para sensibilizar, mas o Governo pôs logo isso de lado.

Este Governo?

A última vez foi com o Governo do António Costa. Ficou afastado. Assim como a via dedicada na A5, também não se compreende por que não se faz.

Implicaria passar de três para duas faixas, presumo. Acha que seria pacífico?

Passava a duas. Uma delas ficava para autocarros, transportes públicos e para carros privados que levassem duas ou mais pessoas. Carros que levassem só 1 pessoa iam nas outras 2 vias. Demoravam uma hora a chegar a Lisboa, os outros chegavam em 10 minutos.

Nos EUA, entre a Universidade de Stanford e Silicon Valley já existe isso há mais de 20 anos.

É uma ideia sua?

É minha ideia e do [Carlos] Carreiras também.

Já a apresentaram a alguém?

Já apresentámos, mas a Brisa é todo poderosa e está sempre a argumentar que quando se for discutir o contrato de renovação da concessão, nessa altura é que pode ser analisado.

Em termos de obra, há vários projetos de que se fala há anos no concelho. Um deles, nos terrenos junto ao Estádio Nacional onde estava a fábrica da Lusalite. Falávamos há pouco sobre ser autarca há 40 anos. Há 40 anos teria avançado mesmo por cima das questões ambientais?

Teria avançado cumprindo as regras. Já na altura não podia estar no leito de cheia. Aquilo não está na zona de leito de cheia. Tem lá uma pequena parte de reserva ecológica, que é salvaguardada. Hoje, seria domínio hídrico, mas na altura que foi comprada não era.

Essa foi a razão por que o Duarte Pacheco expropriou tudo ali à volta, mas não expropriou a Lusalite quando se fez o Estádio Nacional, porque tinha de pagar. O projeto [de urbanização] que foi apresentado salvaguarda todas as regras. A construção é 70 cm acima da previsão da subida das águas do mar.

O candidato do movimento Isaltino – Inovar Oeiras de Volta, Isaltino Morais, brinca com crianças durante uma ação de campanha no Bairro dos Navegadores em Porto Salvo, Oeiras. 25 de setembro de 2017.JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Mas é um projeto muito apetecível, milionário. Não é do tipo que levava a falar nos presidentes 10%?

O que é que tem uma coisa a ver com outra? Essa dos 10% não passa de demagogia, oportunismo, miserabilismo. Isso é desonestidade!

Mas conhece a expressão.

Ou se cumpre a lei ou não se cumpre. Essa coisa de se andar a falar de corrupção e de 10%, com os planos diretores municipais em vigor, com o escrutínio que há dos planos de pormenor, seria preciso que toda a gente numa câmara fosse corrupta. Não é o presidente da câmara. É o presidente da câmara, o diretor municipal de planeamento, o diretor de departamento, o chefe de divisão, uma dúzia de técnicos. Anda tudo a brincar. Sabe o que é o mal deste país, pior que a corrupção? Aí é que deveriam dar o nome de corrupção. É a gestão danosa. Milhões e milhões e milhões de euros, provocada muitas vezes por incompetência… nem sei se é incompetência. Veja a privatização das barragens: foram privatizadas por 180 milhões e dois meses estavam a ser vendidas por 1000 milhões. Isso é que é mau. Nas empresas públicas, que às vezes apresentam prejuízos de milhões, a gestão danosa é que tem de ser bem vigiada. Já as câmaras municipais, não há organismo tão escrutinado! Toda a gente escrutina uma câmara municipal. O povo, os partidos políticos, o Tribunal de Contas, a Inspeção [Geral] de Finanças, a autoridade disto, a autoridade daquilo.

Mas na prática, a urbanização da Lusalite avança, ou não?

Está em tribunal. Aqui, em Oeiras, tudo o que é urbanismo vai para tribunal. O Ministério Público tem que investigar, o Bloco de Esquerda manda tudo para tribunal, tudo é ilegal. Estas coisas demoram tempo.

Consegue prever quando se irá construir ali?

Não faço ideia. Na providência cautelar, o tribunal já deu razão à câmara, que já pode emitir licenças, mas a ação principal está a decorrer. Está-me a ver a mim a emitir licenças de construção, para daqui a 10 anos ou 20 o tribunal vir dizer que afinal não está bem? Claro que não vou emitir licença nenhuma para ali enquanto o tribunal não decidir.

Mas há uma questão de saúde pública patente. O amianto já foi detetado nas imediações, fora da fábrica.

Alguns ambientalistas preferem aquela vergonha, aquela ocupação extensiva, aqueles armazéns miseráveis.

O argumento da subida do nível do mar não lhe faz soar o alarme?

Sabe o que os cientistas dizem? Se as alterações climáticas determinam que nos próximos 100 anos o nível das águas do mar subirá 50 cm, as estruturas têm que estar acima dos 50 cm. A mitigação das alterações climáticas não é irmos todos para a gruta. Quando se faz habitação ou qualquer estrutura, tem de ser acompanhada de estruturas minimizadoras.

Nessa mesma frente de rio e mar em Oeiras, a conclusão do paredão é para avançar?

Estamos a ultimar o projeto. Não sei se ainda este ano abrimos concurso. Se não for este ano, será em 2026. O troço que vai de Paço de Arcos a Caxias vai ser feito em duas fases. A próxima fase é de Paço de Arcos ao Instituto de Socorros a Náufragos, frente ao hotel Vila Galé. Será feita em enroncamento. Depois, haverá a última fase, do Instituto de Socorros a Náufragos ao Forte de São Bruno. Na zona de Caxias, entre Forte da Giribita e Forte de São Bruno, eu pretendia fazer passadiço com estrutura de madeira, mas os técnicos dizem que é difícil fazer estrutura de madeira, pelo que vai ser em enroncamento. Vai diminuir a extensão, em largura, da praia, mas no essencial mantém-se. E depois haverá a última fase, no terrapleno de Algés, no âmbito do Ocean Campus.

Ainda há outra obra importante que nós temos, o estudo prévio está pronto, que é o desnivelamento da marginal em Santo Amaro. Para ligarmos o jardim à praia.

Quanto custará essa obra?

São 12 milhões, numa extensão de 100 metros

Também para fazer no seu mandato?

Eu só tenho mais quatro anos. Faço o que puder.

Mas ainda vai ser consigo como presidente?

Vai, vai.

Nos últimos tempos, Isaltino Morais transportou a sua popularidade para as redes sociais. Aqui, a preparar-se para um vídeo em que exaltará a sua obra na habitação públicaHugo Amaral/ECO
  • Alexandre Batista

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