Se há dois anos a Câmara de Braga anunciava duas linhas do BRT para 2025, agora reduz-se a uma, e só em 2026, como admite o presidente da autarquia. A mobilidade sustentável é ainda embrião no Minho.

A Câmara de Braga acaba de anunciar a adjudicação da linha vermelha do Bus Rapid Transit, ou BRT, um sistema de autocarro articulado elétrico em canal próprio que outras localidades se preparam para lançar. É uma das formas de trazer modernidade à mobilidade, atualmente apenas revigorada na valência rodoviária, com múltiplas autoestradas. Apesar disso, o atraso já superará um ano. Pior, o comboio, que para já funciona numa linha com 150 anos. “Termos uma ligação de comboio daqui a Vigo de duas horas, num comboio completamente decrépito, como é o caso do da linha do Celta, por mais atratividade que tenha do ponto de vista do potencial de ligação entre os dois territórios, não é aceitável”, denuncia Ricardo Rio, presidente da autarquia bracarense, em entrevista ao ECO/Local Online.
Com a prometida chegada do comboio de alta velocidade, a mobilidade no Minho irá ter uma reconfiguração, acredita o presidente da Câmara, desde logo numa nova ligação em transporte público entre o seu concelho e Guimarães.
Para quem venha de Lisboa por comboio e queira ir a Braga e a Guimarães, duas cidades próximas e de grande importância na região, tem de se deslocar para a frente e para trás, em dois ramais distintos a partir da Linha do Minho, ligações construídas no século XIX. Como se promove mobilidade sustentável desta forma?
Temos aqui 2 dimensões, o que podemos chamar de macromobilidade e a micromobilidade. Na macromobilidade, este território tem perdido muito ao longo dos últimos anos, porque um projeto como o da linha de alta velocidade não avançou tão cedo quanto nós desejaríamos. Termos uma ligação de comboio daqui a Vigo de duas horas, num comboio completamente decrépito, como é o caso do da linha do Celta, por mais atratividade que tenha do ponto de vista do potencial de ligação entre os dois territórios, não é aceitável. Ou demorarmos ainda para o Porto, em boa parte das ligações, mais de uma hora em ligação ferroviária. A linha de alta velocidade para todo o território vai ser aqui uma enormíssima mais-valia, ao ficarmos a meia-hora de distância de Vigo, a meia-hora de distância do Porto, a duas horas e meia de Lisboa.
Do ponto de vista da micromobilidade, o que nós temos que criar são condições para, em primeiro lugar, criar alternativas ao transporte automóvel. É uma questão não apenas de eficiência, mas também de sustentabilidade. Nós temos uma sobrecarga enorme do transporte automóvel nestas zonas. Depois acaba por convergir para problemas de trânsito já relevantes em todos estes concelhos.
Já autoestradas, é só escolher entre A3, A7, A11…
Do ponto de vista rodoviário, não temos falta nenhuma, pelo contrário, com todas as ligações possíveis e imaginárias. Depois, ligando à A41, à A17, à A27. Todas essas ligações acabam por nos colocar em ótimas condições do ponto de vista rodoviário. Mas é importante criar projetos de transporte público que facilitem essa mesma intermodalidade e a ligação dentro deste território.

E o que é que está a ser feito nesse particular?
O projeto que está a ser valorizado é o do BRT.
Esse projeto deveria estar a circular em 2025. Ainda agora foi anunciada a adjudicação e afinal será só de uma linha, e não as duas anunciadas inicialmente.
É só a linha vermelha. Estamos a falar do BRT dentro do concelho de Braga. [Adicionalmente] o que está a ser desenvolvido em parceria é, desde já, com financiamentos também do fundo Ambiental, um projeto de ligação de Guimarães a Braga, não apenas ao concelho, mas também à estação de alta velocidade, que entretanto vai ser criada no concelho de Braga.
Qual é o calendário dessa obra?
O que está estabelecido pelo Ministério das Infraestruturas, do ponto de vista da linha de alta velocidade, é que até 2032 estará em plena operação. Portanto, nós já fechámos com a IP o desenho da linha, o local da estação. Os concursos, julgo que serão paulatinamente lançados, e, como é sabido, haverá uma primeira ligação para Norte a partir da linha de alta velocidade, manter-se-á durante um determinado período a ligação para o Porto relativamente condicionada por causa do nó de Ermesinde, que é o grande estrangulamento, mas também paulatinamente será depois, numa segunda fase, intervencionado.
Do ponto de vista das ligações de BRT, o projeto da primeira linha dentro do concelho de Braga ficará concluído com a linha vermelha até 2026. Os outros estão neste momento pendentes de linhas de financiamento, quer de fundos comunitários, quer do orçamento de Estado, e aquilo que o Quadrilátero [Barcelos, Braga, Famalicão e Guimarães], ou agora o Pentágono, terá que reivindicar junto do Governo é, obviamente, a dotação de meios financeiros para a concretização, não apenas das soluções intraconcelhias, mas também das interconcelhias, daquelas que liguem não apenas estes dois concelhos, mas também os outros no âmbito dessa mesma linha.
Faz sentido ter aqui uma ligação como existe na Área Metropolitana do Porto, com um metro com uma capilaridade muito abrangente?
Os territórios são diferentes e no caso destes quatro concelhos do Quadrilátero isso chegou a ser estudado, e nós fizemos este trabalho em articulação com a Universidade do Minho. Não há massa crítica para nós termos uma solução de transporte como o metro. Olhando o ciclo de paragens que o metro teria de ter para ser rentabilizado, há demasiado espaço em vazio. Se olharmos para a ligação entre Guimarães e Braga, quase faz mais sentido ter um shuttle entre Guimarães, com uma paragem nas Taipas, porventura, e depois ligação a Braga, do que pensar numa rede de metro consolidada. Pelo menos de acordo com aquilo que é a realidade perspetivável no futuro próximo desta mesma evolução.
Já o BRT, não. Cria aqui uma solução que faculta essa mesma agilidade, garante a fiabilidade do serviço, garante uma cadência de serviço interessante e que obviamente pode ser uma solução valorizável nesse contexto.
Em relação às duas linhas, houve uma questão: uma das linhas obrigava à ocupação de uma via titulada pela IP. Não chegámos a acordo em relação ao modelo sobre o qual essa ocupação deveria ser concretizada e, portanto, obviamente que isso pôs em causa o desenvolvimento do projeto. Acabámos por suprimir a concretização dessa linha, caso contrário, não iríamos cumprir com julho de 2026.
No BRT de Braga, o que falhou para os prazos terem sido incumpridos? E para ser feita apenas a linha vermelha, e já não a amarela?
Houve uma questão de natureza técnica. Em primeiro lugar, estamos a falar de prazos, para um projeto desta envergadura, basta pensar naquilo que aconteceu noutros concelhos, o caso do metro do Mondego, ou mesmo no BRT no Porto. Estamos a falar de projetos que tiveram uma extensão temporal bastante maior do que aquele que temos aqui.
Em relação às duas linhas, houve uma questão: uma das linhas obrigava à ocupação de uma via titulada pela IP. Não chegámos a acordo em relação ao modelo sobre o qual essa ocupação deveria ser concretizada e, portanto, obviamente que isso pôs em causa o desenvolvimento do projeto. Acabámos por suprimir a concretização dessa linha, caso contrário, não iríamos cumprir com [o prazo de implementação de fundos do PRR, em] julho de 2026.
A linha amarela está cancelada ou adiada?
Está adiada. Aliás, é uma reivindicação que nós temos, no caso do concelho de Braga, é que essa via [rodoviária] seja alvo de uma espécie de permuta de titularidade, atendendo a que ela, sendo hoje classificada formalmente como uma via intermunicipal, é uma verdadeira avenida no centro da cidade de Braga, por força da expansão da cidade para Norte. Deve passar para a tutela do município, e aquilo que se designa como a variante do Cávado, ou seja, uma via externa circular que permita o atravessamento de todo o trânsito que vem da zona norte e da zona dos parques industriais e não precisa de vir para o centro da cidade, possa passar para a tutela da IP.
É a chamada Avenida António Macedo, que era a continuidade da estrada que vinha do Porto para Braga e para o centro da cidade. Neste momento ela já está, digamos assim, completamente diluída na malha urbana.
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“Não há massa crítica para termos solução como o metro do Porto”
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