Numa Câmara onde o PSD governa há décadas, à exceção de um mandato "rosa" no pós-25 de Abril, os partidos da oposição tentam de tudo para quebrar o ciclo. Será desta?
Há 46 anos que o PSD governa a Câmara da Maia sozinho ou em coligação com o CDS/PP sem que a oposição consiga romper este ciclo, iniciado com o “dinossauro” José Vieira de Carvalho (1979 a 2002). Os socialistas apenas saíram vitoriosos nas primeiras autárquicas após o 25 de Abril, mas foi “sol de pouca dura”, com um único mandato. Desta vez estão confiantes num trunfo de peso: foram buscar José Manuel Ribeiro, que cumpre o terceiro e último mandato consecutivo na autarquia de Valongo, para continuar a fazer política na cidade maiata vizinha.
Desde a revolução dos Cravos a cidade da Maia só teve quatro presidentes de câmara, três deles um legado “laranja” partidário. A exceção foi o médico socialista Jorge da Costa Catarino (1976 a 1979) que perdeu a câmara para o PSD, situação que se mantém até aos dias de hoje. Seguiu-se José Vieira de Carvalho de 1979 a 2002, que foi sozinho a votos ou em coligação; depois Bragança Fernandes (2002 a 2017) e a seguir o atual edil António Silva Tiago que concorre a um terceiro e último mandato em coligação com o CDS-PP, empunhando o lema “Maia em Primeiro”.

Comecemos pelo atual autarca António Silva Tiago, que pretende dar continuidade a um legado de peso político, com maiorias eleitorais, que já vem desde 1979. António Silva Tiago quer por “a Maia em Primeiro”, o lema da campanha, reforçando o concelho como motor de desenvolvimento económico do país, em pujante crescimento e com um “magnetismo” que “atrai investimento”. E não se cansa de assinalar que o concelho “é o quarto maior exportador do país — o primeiro da Área Metropolitana do Porto (AMP) –; e o segundo consumidor de energia elétrica de Portugal, depois de Lisboa.
Numa cidade que já foi considerada um mero “dormitório, o edil garante ter provas dadas para convencer o eleitorado maiato a votar a 12 de outubro na coligação de que é cabeça de lista. O seu opositor socialista, José Manuel Ribeiro, também afiança ter “obra feita” e “testada” como mais-valia, mas desta feita no município vizinho de Valongo que preside há 12 anos consecutivos e “com maiorias absolutas”. Obrigado a deixar os Paços de Concelho de Valongo por limitação de mandatos, o socialista dá um salto até à Maia a convite do partido, que aposta as fichas na sua candidatura para acabar com um ciclo social-democrata.
Recentemente o líder do PS, José Luís Carneiro, frisou que a “Maia precisa agora de uma nova energia, de um novo impulso, e de uma nova capacidade para inovar”, contribuindo ainda mais para a economia nacional.
PS quer acordar “gigante adormecido”
Durante a sua campanha eleitoral, José Manuel Ribeiro não se cansa de notar que quer acordar o “gigante adormecido” que é a Maia, apontando o dedo ao Executivo por ter “o cimento e o urbanismo” como prioridades. Se ganhar, o socialista vai colocar a tónica da sua política nos maiatos, implementando políticas municipais destinadas às pessoas.
Criticado por ter entrado na corrida por “ambição pessoal”, José Manuel Ribeiro responde prontamente que é um “apaixonado pela política” que não resistiu ao convite do partido para ser cabeça de lista nas autárquicas. Além de provas dadas na esfera política, o autarca puxa dos galões do “percurso transparente” que tem trilhado. Foi deputado na Assembleia da República (entre 2006 e 2007), e presidente do Instituto de Defesa de Consumidores e diretor-geral do Consumidor. Atualmente, é presidente do Conselho de Administração da Lipor – Serviço Intermunicipal de Gestão de Resíduos do Grande Porto, membro do Comité das Regiões na União Europeia.

Além de António Silva Tiago (PSD/CDS) e José Manuel Ribeiro (PS) entram a corrida Carlos Luís Ramalhão (BE), Joana Machado (CDU) — uma das candidatas mais novas nestas eleições autárquicas — e André Almeida (Chega) que garante ir a sufrágio para ganhar a Câmara. António Fonseca (IL), Helena Pedroso (JPP) e Paula Neves (PAN) — que quer aumentar a representatividade do partido no município — são mais alguns dos candidatos num concelho com um pujante ADN industrial instalado, com empresas como a Sonae, por exemplo.
Com um legado peso “laranja”, a luta promete ser renhida com cada um dos candidatos a lançar a melhor cartada para convencer o eleitorado maiato. A habitação surge à cabeça das promessas de grande parte deles. O atual autarca António Silva Tiago acena ao leitorado com a promessa mais 734 casas, das quais 520 estarão prontas até 2026 e uma segunda linha de metro da Maia em 2030, fazendo da habitação e da mobilidade as bandeira de campanha.
Já o seu concorrente socialista aposta na habitação cooperativa, com cedência de terrenos e isenção de taxas municipais, ainda que não coloque de parte as rendas acessíveis e a construção pública ou público-privada. Diz que é preciso “sensibilizar a Banca [para o facto de] que não pode só funcionar para os investimentos privados”.
Igualmente defensor das cooperativas, o bloquista Carlos Luís Ramalhão compromete-se com um gabinete de apoio ao desenvolvimento desta solução para travar o flagelo da habitação na cidade, além de criar zonas com casas de apoio a emergências para alojamento temporário.
Já Joana Machado, cabeça de lista da CDU, propõe a criação de uma bolsa de edifícios e terrenos municipais, assim como a implementação da gratuitidade das refeições escolares para todas as crianças do 1.° Ciclo. Uma eficaz rede de transportes públicos e lutar pela eliminação das portagens nas ex-scut na Maia (A4, A28 e A41) são mais algumas das suas premissas.
A área da mobilidade também faz parte das preocupações de Paula Neves, do PAN, que vai apostar na isenção de taxas de parqueamento para veículos elétricos e lutar pelo avanço da nova linha do metro prevista para a Maia.
Uma auditoria às contas da Câmara da Maia seria uma das primeiras medidas de André Almeida, cabeça de lista do Chega, para os eleitores saberem onde o dinheiro foi gasto. Também elege como bandeiras a mobilidade e a criação de um gabinete ambiental municipal.
Já o liberal António Fonseca propõe-se quebrar o “bipartidarismo” instalado na Maia, com PSD no poder e PS na oposição. Se ganhar, António Fonseca vai de imediato analisar a despesa pública e reorganizar prioridades, baixar os impostos e criar mais zonas verdes.
Resta agora saber quem vencerá o sufrágio de 12 de outubro e se o poder PSD/CDS-PP cai por terra. Nas autárquicas de 2021 a coligação PSD/CDS-PP saiu vitoriosa com 40,42% dos votos (24.73 votos) e seis mandatos, seguido do PS com 32,26% dos votos (19.740 votos) e cinco mandatos, posicionando-se como a principal força partidária da oposição no município.
A 12 de outubro, a decisão cabe aos eleitores: se mantêm um legado de 46 anos ou se mudam a cor dos Paços do Concelho da Maia.
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Autárquicas na Maia: Conseguirá a oposição romper 46 anos de poder “laranja”? PS quer acordar “gigante adormecido”
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