De Torres Vedras, Ovar até à ilha da Madeira, as autarquias aumentam os custos com o Carnaval por causa da inflação, mesmo com impacto nas contas municipais e em ano de eleições autárquicas.
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Com uma pitada de sátira política e diversão à mistura há municípios a gastar mais dinheiro com a folia do Carnaval devido ao aumento dos preços dos bens e serviços, a reboque da inflação, e a pouco meses das eleições autárquicas. O centenário Entrudo de Torres Vedras surge logo à cabeça com um orçamento de 1,15 milhões de euros, seguido de Ovar com 1 milhão de euros. Estarreja e Madeira assumem quase metade dos gastos com 550 mil euros e 511 mil euros, respetivamente.
E porque já “reza” a célebre frase “é Carnaval e ninguém leva a mal”, mesmo com o disparar dos custos das matérias-primas, os municípios abrem os cordões à bolsa para não defraudar o público e elevar a fasquia da festividade. Não podem faltar os desfiles de grupos, corsos ou as marchas luminosas ao ritmo do samba e muita animação com um toque de humor.
A recordista é a câmara de Torres Vedras com 1,15 milhões de euros. “Este aumento [de mais 150 mil euros] em relação a 2024 deve-se à inflação dos serviços e produtos” resultante da atual conjuntura económica, justifica a presidente da câmara, Laura Rodrigues, em declarações ao ECO/Local Online. Ainda assim, nota a autarca socialista, “os custos são suportados pela receita gerada pelo evento, da responsabilidade da empresa municipal Promotorres”.
Este aumento [de mais 150 mil euros] em relação a 2024 deve-se à inflação dos serviços e produtos.
Apesar do significativo orçamento, Laura Rodrigues está confiante de que as festividades do Entrudo gerem um retorno económico superior a 10 milhões de euros. São esperadas 500 mil pessoas durante os seis dias da festividade carnavalesca, que em muito contribuem para o tecido económico da região, com despesas em estadias e alimentação. Entre os setores mais beneficiados estão a hotelaria, restauração, estabelecimentos noturnos, pequeno comércio tradicional e empresas associadas à produção do Carnaval.
Mas para ter certeza do real impacto económico do evento no concelho, a autarquia vai este ano realizar um estudo em parceria com o ISCTE. Até porque, adianta a presidente da câmara de Torres Vedras, os últimos dados já remontam a 2015 e apontam para um impacto económico na ordem dos 10 milhões de euros a nível local, valor que a edil acredita já estar ultrapassado.
Além de atrair milhares de visitantes, a iniciativa envolve ainda 1.700 pessoas na organização, alocadas à “produção, bilheteiras, limpeza, segurança e socorro, entre outras inúmeras atividades necessárias para a concretização de um evento desta dimensão”, detalha.
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A rainha carnavalesca que se segue é a câmara de Ovar com um orçamento de um milhão de euros, “totalmente financiado pelo orçamento municipal, para fazer face à inflação verificada, procurando sempre elevar a fasquia do Carnaval de Ovar”, avança o presidente do município, Domingos Silva, ao ECO/Local Online.
“Este ano houve um incremento relativamente a 2024 — cujo investimento rondou os 941 mil euros –, e que se traduz, essencialmente, num aumento dos apoios aos grupos e escolas, da comparticipação no Carnaval das Crianças, que teve um incremento de 50% por criança participante, além do reforço das questões de segurança e proteção civil”, detalha o social-democrata Domingos Silva.
As festividades deverão gerar entre “cinco a seis milhões de euros” de retorno económico, contabiliza o autarca, confiante nas boas condições meteorológicas para conseguir ultrapassar os 150 mil visitantes de 2024. Só no último ano, o município contabilizou 5.680 espetadores a assistir ao desfile noturno das escolas de Samba; 10.500 pessoas no Grande Corso Carnavalesco do Domingo Gordo e outros 11.336 espetadores no evento de terça-feira, Dia de Carnaval.
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A lançar charme e folia desde 1897 e com um orçamento de 550 mil euros, a festa prossegue em Estarreja, com mais 50 mil euros do que em 2024, aumento a reboque da “instabilidade económica, política e social que se vive na Europa, particularmente decorrente do período pandémico e da guerra na Ucrânia, e que se tem refletido no aumento do preço de aquisição de bens e serviços”, refere a vereadora da Cultura, Isabel Simões Pinto ao ECO/Local Online. Como acontece, elenca, com “o valor de aluguer de equipamentos essenciais para o acolhimento do público — bancadas e plataformas, palcos e tendas –, bem como com equipamentos de som e luz, também associados ao aumento dos preços dos cachês dos artistas”.
O município de Estarreja continua a investir na qualidade deste evento âncora da cidade como elemento identitário do território e mobilizador enquanto destino turístico.
Isabel Simões Pinto, que se candidata este ano à liderança do município, pelo PSD, detalha que dos 550 mil euros, cerca de 160 mil destinam-se aos grupos carnavalescos. “O município de Estarreja continua a investir na qualidade deste evento âncora da cidade como elemento identitário do território e mobilizador enquanto destino turístico”, sustenta.
A julgar pelas mais de 100 mil pessoas esperadas, por estes dias, para assistirem aos grandes corsos e restantes desfiles que envolvem 3.000 figurantes, a vereadora antecipa atingir dois milhões de euros de retorno económico, o dobro de 2024.
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Já o Governo Regional da Madeira (PSD) investe este ano 511 mil euros nas festividades — o mesmo valor de 2024 — que se prolongam até 9 de março com sátiras e críticas a temas da atualidade com uma pitada de humor à mistura. “A mais recente sondagem realizada pela Direção Regional do Turismo aos empreendimentos turísticos da região revela uma taxa de ocupação de 90%”, adianta a Secretaria Regional de Economia, Turismo e Cultura ao ECO/Local Online.
O programa das festas de Carnaval de 2025 está, aliás, incluído no calendário anual de animação turística desta região insular. Subordinadas ao tema “Fantasia de Cores”, as festividades deste ano “envolvem um total de 4.450 pessoas, entre participantes nos vários cortejos, bandas filarmónicas, animação diversa, membros da organização e assistência técnica, entre muitos outros”, contabiliza.
A mais recente sondagem realizada pela Direção Regional do Turismo aos empreendimentos turísticos da região revela uma taxa de ocupação de 90%.
A ostentar o título de “o mais antigo Carnaval do país”, também a iniciativa de Loulé, no Algarve, mantém o orçamento de 2024, de cerca 470 mil euros, totalmente financiado pelo município liderado pelo socialista Vítor Aleixo, apesar da inflação e do aumento generalizado dos preços nos bens e serviços.
“Tentamos adaptar todo o material que utilizámos, reciclando alguns carros e bonecos, o que nos permite ter menos custos associados e, ao mesmo tempo, uma menor pegada ambiental”, explana o autarca que este ano quer sensibilizar as pessoas para o problema de falta de água na região. “O Carnaval não é uma seca…” é, por isso, o mote de mais uma edição em Loulé.
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“São esperadas 80 mil pessoas, durante os três dias de folia, principalmente no Domingo Gordo e na terça-feira de Carnaval, considerados os dias de maior afluência, para assistir à animação dos 600 figurantes apoiados por 15 carros alegóricos, escolas de samba, cabeçudos e gigantones.
Os visitantes deixam largos milhares de euros na economia local. “O retorno financeiro direto, isto é, em termos de receitas de bilheteiras, é entre 60 a 70 mil euros. Mas, mais relevante do que esse valor é o impacto na economia local, sobretudo ao nível da restauração, comércio e hotelaria, e também na projeção da imagem de Loulé e deste evento âncora”, detalha Vítor Aleixo.
Tentamos adaptar todo o material que utilizámos, reciclando alguns carros e bonecos, o que nos permite ter menos custos associados.
A folia prossegue no Algarve, desta feita em Tavira, onde o município espera a afluência de seis mil pessoas para assistir ao programa deste ano, orçado em mais de 8.000 euros, entre o desfile e os bailes de Carnaval.
Mais a Norte, em Vila Nova de Famalicão, o Carnaval acontece “de forma mais espontânea e comunitária, que tem como ponto alto a noite de Carnaval, de segunda para terça-feira, em que milhares de pessoas se deslocam à cidade para participar numa autêntica festa de rua que tem ganho cada vez mais adeptos nos últimos anos”, descreve a autarquia liderada por Mário Passos.
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O evento conta com um investimento municipal na ordem dos 175 mil euros, um acréscimo de dois mil euros em relação a 2024. “Esta subida no orçamento deve-se ao aumento do número de equipamentos de logística, nomeadamente WC”, explana o município.
A par das Festas Antoninas, o Carnaval tornou-se um dos eventos mais turísticos do concelho, com significativo impacto económico na restauração e alojamento. “Aquilo que é possível aferir da relação direta do município com os comerciantes que aderem à iniciativa — bares, espaços de restauração, comércio local e vendedores ambulantes que se deslocam a Famalicão por estes dias — é de que, para todos eles, esta é uma das noites com maior faturação do ano”, assinala a autarquia famalicense.
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