Portugal e o desafio de liderar a próxima década da economia espacial europeia

  • Chiara Manfletti
  • 10:37

Portugal pode ajudar a moldar uma economia espacial europeia mais dinâmica. O caminho está traçado e as bases lançadas.

O espaço tornou-se um dos alicerces essenciais da economia de hoje. As comunicações, logística, transações financeiras, resiliência climática e a segurança nacional dependem da infraestrutura de satélites, dos dados e sinais que estes fornecem. No atual contexto geopolítico, os sistemas espaciais asseguram também a capacidade da Europa para manter a sua autonomia, estabilidade, apoio à proteção civil e vantagem na tomada de decisão em missões de manutenção da paz. Em suma, a prosperidade e a soberania das nações europeias assentam no espaço como dimensão estratégica da economia.

No entanto, o potencial económico do setor espacial está ainda longe de ser plenamente concretizado. Globalmente, estima-se que a economia do espaço supere o bilião de euros até 2040, impulsionada principalmente por aplicações downstream e serviços de dados e automação suportada por Inteligência Artificial (IA). Os novos mercados in-space serão viabilizados por estas tecnologias emergentes, e o sucesso de setores e empresas não espaciais dependerá também da sua capacidade de integrar o espaço como vantagem competitiva.

Com a criação da agência espacial nacional, o envolvimento continuado nos programas da ESA e investimentos estratégicos no potencial nacional, o país passou de participante periférico a fornecedor fiável de tecnologias, serviços especializados e até referência ao nível de though leadership / liderança inovadora.

Nas últimas duas décadas, Portugal reforçou, de forma discreta, mas consistente, o seu papel neste ecossistema em evolução. Com a criação da agência espacial nacional, o envolvimento continuado nos programas da ESA e investimentos estratégicos no potencial nacional, o país passou de participante periférico a fornecedor fiável de tecnologias, serviços especializados e até referência ao nível de though leadership / liderança inovadora. As empresas portuguesas contribuem hoje para áreas como análise de observação da Terra, aplicações marítimas, navegação, acesso ao espaço e segurança e sustentabilidade espacial, domínios que se tornaram centrais para as necessidades económicas e estratégicas da Europa.

Os pontos fortes de Portugal são particularmente evidentes nos domínios orientados para software e data centric (centrado em dados). O país desenvolveu competências em IA, automação, desenvolvimento e integração de sensores e análise comportamental, capacidades essenciais para gerir um contexto cada vez mais congestionado da órbita terrestre baixa.

A trajetória de várias empresas mostra como a inovação portuguesa contribui diretamente para a capacidade da Europa liderar globalmente em áreas críticas e estratégicas. A instalação de infraestruturas terrestres por todo o território, tanto no continente como nos Açores, acompanhada por legislação adequada demonstram como Portugal tem alinhado as suas mais valias geográficas com a política nacional para ter impacto à escala global. Todos estes elementos, combinados com a solidez do ecossistema científico e académico do país e sua posição atlântica, oferecem a oportunidade de liderar nichos nos quais a agilidade, inteligência e autonomia são determinantes.

A Europa, e consequentemente Portugal, continua a enfrentar grandes desafios estruturais. A aversão ao risco permanece elevada, os fundos de capital de risco raramente identificam o setor espacial como área de importância estratégica e de retorno comercial significativo, os ciclos de contratação pública e os processos administrativos continuam lentos.

Contudo, a Europa, e consequentemente Portugal, continua a enfrentar grandes desafios estruturais. A aversão ao risco permanece elevada, os fundos de capital de risco raramente identificam o setor espacial como área de importância estratégica e de retorno comercial significativo, os ciclos de contratação pública e os processos administrativos continuam lentos, as instituições públicas compram frequentemente “projetos” em vez de “produtos” e a inovação é limitada por mercados fragmentados e a adoção insuficiente de serviços espaciais downstream. Estes fatores restringem o crescimento das empresas europeias, reduzem o dinamismo do mercado e atrasam a transformação da excelência tecnológica em impacto económico.

Superar estes desafios requer qualidades que Portugal está particularmente bem posicionado para vir a dispor: agilidade, predisposição para adotar novas tecnologias de forma precoce, abertura a abordagens modernas de contratação e confiança, além de coragem, para liderar ao invés de seguir. Portugal pode ajudar a moldar uma economia espacial europeia mais dinâmica.

O caminho está traçado e as bases lançadas. A oportunidade é clara: transformar estas bases na liderança dos mercados que irão definir as próximas décadas.

  • Chiara Manfletti
  • CEO da Neuraspace

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