A hora e meia de Lisboa fabrica-se um camião a cada oito minutos

Fábrica da Fuso no Tramagal arrancou produção em série de camiões ligeiros elétricos e vai montar centenas de unidades a baterias já neste ano. Faltou anúncio de nova ponte para acesso à A23.

De oito em oito minutos, a fábrica da Fuso no Tramagal produz um camião ligeiro. A unidade do grupo Daimler Truck, no concelho de Abrantes, começou a funcionar em 1964 e no início desta semana entrou numa nova fase: arrancou a produção em série de unidades exclusivamente elétricas. O modelo eCanter será vendido em 13 mercados europeus. A nova etapa coincidiu com a ultrapassagem da meta de 250.000 unidades do modelo Canter, produzido no Tramagal desde 1980.

Reportagem na fábrica da Fuso no Tramagal - 22MAI23
Apresentação na nova eCanter, modelo 100% elétrico da Fuso. Hugo Amaral/ECO

Na primeira geração, o eCanter foi produzido, entre 2017 e 2022, em séries muito limitadas, da ordem das dezenas de unidades por ano, na fábrica do Tramagal. Para a segunda geração, haverá mais ambição: “Até ao final do ano iremos produzimos várias centenas de unidades”, prevê ao ECO o diretor-geral da fábrica, Arne Barden. Estima-se que o camião elétrico represente menos de 10% de toda a linha de montagem em 2023, aproximando-se da fasquia das 1.000 matrículas. Em 2024, será duplicada a produção da unidade a baterias.

Na segunda geração, a versão elétrica do camião ligeiro passa a partilhar a linha de montagem com a opção a gasóleo. O tempo de produção é semelhante porque a versão a baterias é mais complexa mas tem menos peças do que nas versões motorizadas. A principal diferença estará debaixo da carroçaria, onde poderá ser instalado um motor a combustão ou então um dos três pacotes de baterias, com a tecnologia de células de fosfato, de ferro e de lítio. A autonomia varia entre 70 e cerca de 200 quilómetros conforme o número de baterias instalado.

Reportagem na fábrica da Fuso no Tramagal - 22MAI23
António Costa fica a par das características da bateria da nova eCanterHugo Amaral/ECO

“Precisamos de espaço suficiente para acomodar as diferentes necessidades dos clientes”, destaca o diretor de produção da Daimler Truck. Manuel Baader sinaliza que o eCanter “tem um diferencial elétrico que está muito próximo das rodas para evitar as perdas mecânicas e ajudar nas manobras de marcha-atrás.

Por outro lado, a nova eCanter passará a ser tão flexível como a opção a gasóleo: é possível escolher entre seis distâncias entre eixos entre 2.500 e 4.750 milímetros e um peso bruto permitido de 4,25 a 8,55 toneladas. O camião elétrico pode ter carregamento rápido em corrente contínua – entre 24 e 39 minutos – ou então com corrente alternada – entre quatro e seis horas. A potência do eCanter poderá ser de 110 kW (peso bruto de 4,25 e de seis toneladas) ou de 129 kW (7,49 e 8,55 toneladas).

Disciplina na fábrica

A organização é determinante para que se possam produzir 57 camiões por dia na fábrica do Tramagal. Em Portugal, a Fuso conta atualmente com 544 trabalhadores, dos quais 20% são mulheres. Metade das 540 peças necessárias para cada camião ligeiro vem da Península Ibérica. Por outro lado, todos os dias entram na unidade oito contentores com componentes vindos do Japão.

No armazém, tudo é dividido para que as peças sejam transportadas em rotas próprias, que estão divididas como se fossem linhas do metropolitano – o símbolo é inspirado no Metro de Londres. Quase todas as peças já vêm feitas dos mais de 50 fornecedores. Os bancos do condutor e dos passageiros são uma exceção e são montados dentro da fábrica. O ambiente é praticamente silencioso.

Na área mais industrial, não falta barulho em cada uma das 14 estações de acabamento de veículos. Há uma zona de assemblagem de motores e uma área específica para montar as baterias das versões elétricas. A zona das baterias é restrita a funcionários com formação própria nesta área. Antes de fundir-se com o chassis, a cabine integra todas as peças necessárias, dos bancos ao painel de instrumentos, passando pelo autorrádio e a caixa de velocidades. O processo fica completo com a testagem do veículo, já montado, numa plataforma própria, que faz lembrar um centro de inspeções.

Faltou ponte para fechar a festa

Para exportar os camiões a gasóleo da Fuso para 32 países europeus e para Marrocos é necessário usar uma estrada nacional com troços muito estreitos para os camiões. A Fuso Tramagal reclama há mais de duas décadas uma nova ponte sobre o Tejo, com ligação para a A23. Em 2008 chegou mesmo a ser feito o anúncio, durante uma visita à fábrica do então primeiro-ministro, José Sócrates.

Reportagem na fábrica da Fuso no Tramagal - 22MAI23
Da esquerda para a direita. Mini-reunião na cabine do eCanter: Karl Deppen (Daimler Truck Asia), Arne Barden (Fuso Tramagal) e António Costa (primeiro-ministro). DR

O início da produção em série da eCanter foi mais um pretexto para o líder da fábrica voltar a apelar ao Governo para que seja construída a ponte de acesso à A23. Depois da visita de 15 minutos à fábrica, o primeiro-ministro ignorou o apelo e nem mesmo a mini-reunião dentro da cabine de um veículo de demonstração terá servido para resolver o assunto.

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