Depois da aquisição, em março deste ano, da marca Valle de Passos, os donos da Quinta da Pacheca apostam agora no lançamento de uma malga com assinatura do arquiteto Siza Vieira.
Debaixo da ramada da casa do século XVIII da Quinta da Pacheca, Lamego, com vista para os socalcos de vinhas do Douro Vinhateiro, estava tudo a postos para ouvir o arquiteto Álvaro Siza Vieira desfiar onde foi beber a inspiração para a malga que desenhou propositadamente para a Quinta da Pacheca, em Lamego. Mais uma oferta para o enoturismo desta propriedade no Douro Vinhateiro que em 2023 recebeu 130 mil visitantes e espera atrair cada vez mais turistas.
Depois da aquisição, em março deste ano, da marca Valle de Passos, em Valpaços, uma localidade onde o Grupo Terras & Terroir já é proprietário da unidade hoteleira Olive Nature Hotel & Spa, os empresários Paulo Pereira, Maria do Céu Gonçalves e Álvaro Lopes apostam agora no lançamento da malga com assinatura do arquiteto Siza Vieira.
Para Maria do Céu Gonçalves, este produto significa “voltar às origens” e surge como mais uma oferta da área do enoturismo da Quinta da Pacheca que o grupo comprou à família Serpa Pimentel, em 2012, por cerca de sete milhões de euros, e cuja Wine House Hotel obteve, este ano, a classificação de unidade hoteleira “5 estrelas“, pelo Turismo de Portugal.
Os empresários acreditam, assim, que a peça da autoria de Siza Vieira vai contribuir para aumentar a fasquia ao nível do enoturismo que na Quinta da Pacheca atingiu os 130 mil visitantes em 2023.
Já em relação à faturação desta área de negócio na totalidade das quintas que detém por todo o país, o grupo prefere não adiantar números. “Tivemos um crescimento muito interessante em 2023 e prevemos em 2024 que o volume de negócios gerado pelo enoturismo represente algo muito próximo dos 50% da globalidade da faturação“, avança em declarações ao ECO/Local Online.
Malga evoca origens portuguesas
Esta peça casa tradição com modernidade, e evoca uma das tradições portuguesas que remonta a Idade Média: beber vinho tinto na malga.
Distinguido com o Pritzker com 59 anos de idade (em 1992), o arquiteto não conseguiu marcar presença no evento, mas acabou por contar, através de videochamada, que “a primeira inspiração [que teve] foi o convite de Paulo Pereira para desenhar uma malga”.
O coadministrador do Grupo Terras & Terroir viria depois a confirmar: “Perguntei ao arquiteto Siza Vieira se podia desenhar uma malga para um vinho. Começou logo a fazer um rascunho e depois terminou o desenho”, do utensílio que se apresenta agora como um produto diferenciado e em homenagem à herança histórica do país.
Tivemos um crescimento muito interessante em 2023 e prevemos em 2024 que o volume de negócios gerado pelo enoturismo represente algo muito próximo dos 50% da globalidade da faturação.
Já na adega com fileiras de balseiros e barricas de envelhecimento do Vinho do Porto, Paulo Pereira vai dizendo que este é um produto “diferenciado” e que “o luxo está na simplicidade”.
Com este novo utensílio, o grupo tenciona “potenciar os vinhos nacionais e mostrar ao resto do mundo que se pode beber qualquer vinho numa malga e não só o vinho verde como era antigamente”, assinala o coadministrador do grupo. Durante a apresentação na quinta no Douro Vinhateiro, a experiência fez-se com o vinho Pacheca Sousão reserva 2020.
A malga foi desenvolvida pela empresa Maria Portugal Terracota (Porto de Mós), feita com materiais 100% reciclados, design contemporâneo e vidrado mais resistente. Paulo Soares, dono da empresa que fabricou esta malga, diz que o objetivo foi “fazer uma taça que não fosse uma taça, mas uma malga com alguma inovação e 100% reciclada, que é hoje quase uma exigência do mercado”. E que, acredita, “irá projetar a imagem de Portugal lá fora“.
“Muita gente pensará que é para decoração. Não gosto dessa ideia”, continua Siza Vieira, ainda em videochamada, apontando para as marcas da malga feitas propositadamente para os dedos segurarem o utensílio. “Ajudam a segurar na malga e garantem que não vai escorregar e cair”, nota o arquiteto que elenca a funcionalidade e a unicidade como aspetos cruciais na criação deste utensílio que foi mais um desafio que aceitou de bom agrado.
“Toda a encomenda que me é feita é um desafio. Desenhar uma malga é o mesmo. Primeiro, não posso fazer uma malga igual às que já há”, sublinha. “Penso nos aspetos funcionais — tem de se segurar bem a malga. O processo de criação está na procura dessa utilidade do objeto” e no ser único, inovador, detalha Siza.
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A malga de Siza Vieira que pode elevar a fasquia do enoturismo da Quinta da Pacheca
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