A trilhar a biodiversidade na Quinta do Seixo de olhos postos na sustentabilidade

Projeto mostra as boas práticas de conservação da natureza, dos ecossistemas e da diversidade local, e permite atenuar pragas e doenças na vinha, por exemplo.

“A Sogrape foi fundada em 1942, pelo meu bisavô, e desde sempre nos preocupámos em proteger, preservar e pensámos na sustentabilidade a longo prazo”, começa por afirmar Mafalda Guedes, a quarta geração da família, antes de dar a conhecer o percurso da biodiversidade da Quinta do Seixo, em Tabuaço, na Região Demarcada do Douro. Classificado na agenda para a ação da Convenção da Biodiversidade das Nações Unidas, este trilho insere-se no programa global de sustentabilidade “Seed the future” da Sogrape, com várias metas a cumprir até 2027.

“Tudo o que vamos ver, ao longo deste percurso da biodiversidade, reflete diversas práticas de sustentabilidade: o revestimento de taludes para evitar o uso de herbicidas ou a confusão sexual que nos permite controlar uma praga sem ter que usar inseticidas”, por exemplo, descreve, por sua vez, António Graça, diretor de investigação e desenvolvimento da Sogrape.

Percurso da Biodiversidade na Quinta do Seixo

António Graça destaca, por isso, a importância de apostar em projetos orientados para a sustentabilidade em articulação com a natureza. “Não podemos continuar a ter um modelo de negócio baseado num sistema a céu aberto sem trabalharmos com a natureza“, defende, enquanto orienta o percurso da biodiversidade com privilegiada vista para o rio Douro a serpentear por entre um “mosaico paisagístico”, como gosta de descrever este manto verde e amarelo de vinha e uma mancha de olival.

O olival ocupa uma área de 14,5 dos 100 hectares desta propriedade e as principais variedades são Cobrançosa, Negrinha de Freixo, Molar e Preta. E num espaço maioritariamente coberto por uma mancha de vinha da Sogrape que detém marcas de sucesso como a Planalto ou a Esteva, ambas da Ferreirinha, ou até o Barca Velha.

Uma hora depois de calcorrear este trilho de terra batida, ladeado pela centenária vinha plantada em socalcos e outras plantas, “ficámos com a memória de que é possível, num espaço rural, conservar a natureza, fazer uma atividade agrícola e pôr no mercado um produto que permite saborear o local de onde vem”, destaca António Graça enquanto mostra um outro painel explicativo deste caminho situado neste espaço de enoturismo da Sogrape, onde se produzem os Portos da Sandeman.

Ficamos com a memória de que é possível, num espaço rural, conservar a natureza, fazer uma atividade agrícola e pôr no mercado um produto que permite saborear o local de onde vem.

António Graça

Diretor de Investigação e Desenvolvimento da Sogrape

“Portanto, a memória com que as pessoas saem daqui é depois reativada quando provam um vinho do Porto ou um vinho do Douro, em que muitos dos aromas que sentem lembram outros que sentiram durante a experiência [do percurso da biodiversidade] “. Durante este trilho educativo, somos convidados a despertar e apurar os sentidos: a ouvir aves, ou a cheirar e a tocar em plantas. Para que depois as “pessoas sintam a necessidade e obrigatoriedade de preservar estes locais, os meios e as comunidades que neles existem“, frisa o diretor de investigação e desenvolvimento do grupo.

Este projeto mostra, por isso, as boas práticas de conservação da natureza, dos ecossistemas e da diversidade local, assim como permite atenuar pragas e doenças na vinha ou até otimizar o sistema de rega. “Temos uma atividade económica baseada numa planta – a vinha – que não pode viver sem água. Temos de saber usar essa água com a quantidade mínima indispensável para o máximo efeito em termos de produtividade e rentabilidade. Isso também é sustentabilidade”, sublinha.

António Graça dá, assim, a conhecer os projetos de sustentabilidade que permitem “aumentar a biodiversidade vegetal, criando condições que fomentem e suportem a biodiversidade animal; o que melhora a qualidade ambiental do ecossistema vitícola e respeita a natureza”. E que contribuem para uma maior e melhor sustentabilidade ambiental e económica de todo o grupo que produz vinho em Portugal, Espanha, Argentina, Nova Zelândia e Chile.

Percuso da Biodiversidade na Quinta do Seixo

O percurso de biodiversidade da Quinta do Seixo mostra resultados de estudos científicos realizados e aplicados à gestão da biodiversidade funcional na cultura da videira na região do Douro. Este trilho contempla espaços complementares seminaturais e infraestruturas ecológicas criadas na vinha, como sebes, enrelvamento da entrelinha e/ou cabeceiras, muros de pedra recuperados “com o objetivo de hospedar artrópodes, aves, pequenos mamíferos, fungos e plantas”.

“Este primeiro painel faz um enquadramento da biodiversidade da região do Douro e chama a atenção para o relevo da região com diferenças de altitude que podem atingir os 1.200 metros”, orienta o enólogo. Para depois apontar para “um mosaico de vegetação, que tem uma fauna associada, mas também num mosaico de culturas que o homem que aqui vive e que aqui trabalha soube preservar ao longo de pelo menos dos últimos quatro séculos”.

O cultivo da videira, oliveira, amendoeira, figueira na encosta, e macieiras, cerejeiras, castanheiros e cereais nos planaltos “é feito em mosaico paisagístico, intercalando estas culturas com mato natural, nos solos mais difíceis ou inclinados e, sobretudo como proteção natural às linhas de água, para limitar a erosão“, prossegue.

A Quinta do Seixo caracteriza-se por ter uma plantação mista com diversas castas tradicionais do Douro, como a Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinto Cão e Tinta Barroca. “Entre estas destacamos a Touriga Nacional que é uma casta que prima pela cor, pelos aromas de frutos pretos e flor de laranjeira, e pela estrutura em boca”, lê-se num dos painéis do percurso. Por aqui também é possível encontrar castas com “menores áreas de plantação, mas também tradicionais do Douro, como Sousão, Tinta Francisca, Touriga Fêmea, Donzelinho Tinto“.

Enquanto aponta para as uvas das várias castas plantadas na vinha da Quinta do Seixo, o enólogo vai mostrando outro painel indicativo da “existência de um coberto vegetal que ajuda a reduzir a erosão e a conservar a saúde do solo, pois diminui a velocidade das gotas de chuva antes atingirem a superfície, impedindo o efeito de salpico e a perda de nutrientes”.

Uns metros mais à frente, António Graça fala sobre uma técnica que o grupo utiliza, chamada confusão sexual, contra a traça-da-uva e que tem dado um valioso contributo para a meta da sustentabilidade. “No início do ciclo vegetativo da videira, dispomos difusões de uma feromona – substância aromática natural usada pelos insetos de sexos opostos para se encontrarem e reproduzirem –, em toda a vinha”, descreve o enólogo. “Vamos criar uma nuvem de feromona que não permite que o macho encontre a fêmea, não havendo, assim, reprodução” e consequente redução da população de lagartas nas culturas e dos danos nas uvas”, completa.

Programa global de sustentabilidade

Este percurso insere-se, assim, no âmbito do “primeiro programa global de sustentabilidade do grupo“, denominado “Seed the future”, que abrange todas as unidades da Sogrape. “Parte do propósito de trazer amizade e felicidade a todos aqueles com quem nos relacionamos”, refere Mafalda Guedes, acrescentando que foi feito “um levantamento de todas as iniciativas de sustentabilidade nas 12 empresas do grupo” e analisados os desafios e ameaças que a empresa enfrenta, como as alterações climáticas.

Temos de envolver a nossa cadeia de valor para sermos sustentáveis, ou seja, temos de envolver os nossos parceiros do setor.

Mafalda Guedes

Head of Corporate Communications & Sustainability da Sogrape

Entre as metas deste projeto consta, elenca, “abrir caminho para um país mais sustentável e reduzir a pegada carbónica” na linha dos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Assim como “olhar para a cultura do vinho como uma herança; produzir o vinho da maneira que se conhece e arranjar formas de mitigar o risco que enfrentamos com as alterações climáticas e também a falta de mão-de-obra“, adianta a Head of Corporate Communications & Sustainability da Sogrape. Além de envolver a comunidade.

“Temos de envolver a nossa cadeia de valor para sermos sustentáveis, ou seja temos de envolver os nossos parceiros do setor”, advoga Mafalda Guedes. “Queremos ser um catalisador de mudança social positiva e influenciar toda a gente que trabalha connosco a ter escolhas mais sustentáveis”, frisa.

Quinta do Seixo

O objetivo passa por manter “uma enologia que respeita a tradição e passado. E está sempre de olhos postos no futuro para se adaptar às circunstancias e desafios que surgem cada vez mais, como as alterações climáticas”, destaca Luís Sottomayor, diretor de enologia da Sogrape para os vinhos do Douro e Porto, que privou muito de perto com Fernando Guedes, o avô de Mafalda Guedes.

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