Numa altura em que a Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês) está a analisar o pedido de aprovação da vacina contra a Covid-19 da Pfizer e da Moderna, novos dados vão surgindo sobre a eficácia das vacinas que estão a ser desenvolvidas. A pandemia do novo coronavírus está longe de acabar, no entanto, os resultados promissores dos testes clínicos vão dando algumas esperança quanto ao fim desta crise sanitária.
No âmbito da aquisição conjunta da União Europeia Portugal tem já seis contratos assinados, sendo que vai receber cerca de 22 milhões doses de vacinas, num investimento que ronda os 200 milhões de euros. São elas 6,9 milhões de doses da AstraZeneca/Universidade de Oxford, 4,5 milhões de doses da BioNTecn/Pfizer, a mesma quantidade da Johnson&Johnson, 1,9 milhões da Moderna e quatro milhões de doses da CureVac, explicou o presidente do Infarmed, na apresentação do Plano de Vacinação contra a Covid-19, na semana passada. Quanto ao acordo com a Sanofi/GSK ainda não estão definidas quantidades.
Destes seis contratos há já resultados sobre a eficácia de três vacinas. Não obstante, há ainda outras vacinas, com as quais o bloco comunitário ainda não tem acordos, que estão a revelar dados promissores. Uma a uma, conheça a eficácia das vacinas que estão a ser desenvolvidas contra o novo coronavírus.
Pfizer e BioNTech
Com uma eficácia a rondar os 95%, esta vacina já começou a ser administrada no Reino Unido esta terça-feira, após o regulador britânico ter autorizado o uso da vacina no país, tornando-se no primeiro país a nível mundial a fazê-lo — seguiu-se agora o Canadá.
Contudo, na quarta-feira a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde emitiu um alerta para que as pessoas com histórico de reações alérgicas “significativas” não recebam esta vacina, depois de terem sido detetados dois casos com reações adversas em profissionais de saúde. Esta é uma vacina do tipo genético, o que significa que injeta material genético do novo coronavírus nas células para induzir a produção de proteínas e uma resposta imunitária do organismo. É uma vacina de duas tomas.
Quantas doses: Portugal deverá receber 4,5 milhões de doses, em entregas graduais. Esta vacina tem de ser tomada em duas doses e mantida a temperaturas muito baixas.
Em que fase está? Esta vacina está já a ser analisada pelos reguladores europeus e norte-americanos, sendo que está previsto que a EMA aprove a vacina a 29 de dezembro. Ao mesmo tempo, especialistas do regulador norte-americano, a Food and Drug Administration (FDA), confirmaram na terça-feira que esta vacina não apresenta riscos de segurança que impeçam a autorização de emergência, que deverá ser anunciada ainda esta semana nos Estados Unidos.
Não obstante, foram detetados alguns efeitos adversos na toma da vacina em vários participantes, revela o The New York Times (acesso livre, conteúdo em inglês). Os mais comuns, registados nos 43.252 participantes, incluindo crianças e adolescentes com 12 anos ou mais, foram: reação tópica junto ao local de imunização (braço) (84,1%), fadiga (62,9%), dor de cabeça (55,1%), dores no corpo (38,3%), calafrios (31,9%), dores nas articulações (23,6%) e febre (14,2%). Reações graves ocorreram apenas em zero a 4,6% dos participantes e foram menos comuns em pessoas com mais de 55 anos (2,8%) do que em jovens (4,6%).
Moderna
É a segunda candidata mais avançada e provou ter uma eficácia de 94% nos ensaios clínicos. A vacina da Moderna também é do tipo genético e pediu no final de novembro aprovação de emergência nos Estados Unidos. Se tudo correr como planeado, é expectável que comece a ser administrada a 21 de dezembro do outro lado do Atlântico.
Quantas doses? Portugal deverá receber 1,9 milhões de doses, a começar em fevereiro de 2021, segundo o comentador da SIC Luís Marques Mendes. Tal como a vacina da Pfizer/BioTech, esta vacina necessita de duas tomas.
Em que fase está: A aprovação já foi pedida nos EUA e na União Europeia, sendo que, em entrevista ao The New York Times, o diretor executivo da Moderna, Stéphane Bancel, revelou que a empresa está “no caminho certo” para produzir 20 milhões de doses até ao final de dezembro e entre 500 milhões e mil milhões de doses em 2021. Certo é que a 12 de janeiro, o regulador europeu reúne-se para decidir sobre a aprovação, ou não, da vacina da Moderna.
AstraZeneca e Universidade de Oxford
Esta é uma das vacinas mais promissoras, por ser barata e de distribuição e armazenamento mais simples do que as duas anteriores. Um novo estudo, publicado na terça-feira pela revista cientifica Lancet (acesso livre, conteúdo em inglês), confirma que a vacina da AstraZeneca/Oxford tem uma eficácia média de 70%, mas que pode chegar aos 90% seguindo um método de toma específico. Trata-se da primeira análise feita por outros cientistas [ o chamado peer reviewed] aos resultados preliminares da fase 3 de uma vacina contra o SARS-CoV-2. Ainda assim, estes dados estão a ser analisados ao detalhe, depois de o consórcio ter assumido um erro de fabrico levantou dúvidas quanto aos resultados preliminares.
Quantas doses? Portugal tem a receber 6,9 milhões de doses da vacina, sendo que cada pessoa deve tomar duas doses da vacina.
Em que fase está: Em declarações à BBC, o responsável pela farmacêutica AstraZeneca garantiu que os dados de eficácia e segurança já começaram a ser enviados ao regulador britânico. “Esperamos que esta vacina esteja em uso em breve para começar a salvar vidas”, disse Sarah Gilbert, professora da Universidade de Oxford.
Sinopharm
A vacina experimental desenvolvida pela farmacêutica estatal chinesa Sinopharm mostrou ter uma eficácia de 86% a proteger contra a Covid-19. Além disso, a vacina revelou ser 100% eficaz para prevenir casos moderados e graves do novo coronavírus. O resultado foi apurado nos ensaios clínicos de “fase 3” que estão a decorrer nos Emirados Árabes Unidos.
Quantas doses? Para já não há ainda nenhum contrato com a União Europeia desta vacina, que é tomada em duas doses.
Em que fase está: Estes são para já resultados preliminares dos ensaios clínicos da “fase três”, a última antes da aprovação por parte dos reguladores. Os testes em humanos iniciaram-se em julho, sendo que 99% dos participantes inoculados com a vacina desenvolveram anticorpos contra a doença provocada pelo novo coronavírus. Nesse sentido, segundo o The Wall Street Journal (acesso pago), os especialistas avisaram ainda que vão ser necessários mais testes, sendo que o Ministério da Saúde dos Emirados Árabes Unidos não divulgaram quantos participantes do ensaio clínico desenvolveram a doença, bem como quantos receberam um placebo ou a vacina. Esta vacina já tinha sido recebido luz-verde por parte das autoridades dos Emirados Árabes Unidos para uso de emergência, para proteger quem trabalha na linha da frente da pandemia.
Sputnik V
Resultados preliminares da última fase de ensaios clínicos da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Rússia, denominada Sputnik V, indicam que a vacina tem uma eficácia de 92%, revela a BBC (acesso livre). Recorde-se que processo de vacinação em massa começou no passado sábado, tendo as autoridades de saúde dado prioridade a profissionais que trabalhem em ambientes nos quais a exposição ao coronavírus é considerada elevada.
Quantas doses? A vacina Sputnik V é administrada em duas doses, com a segunda toma prevista para 21 dias após a primeira. Para já, e à semelhança da vacina chinesa, não há qualquer contrato com a União Europeia.
Em que fase está: Em finais de novembro, a Rússia informou que a vacina contra a Covid-19 Sputnik V tem uma eficácia de 92%, segundo dados preliminares da terceira fase de pesquisa, e não apresentou efeitos adversos inesperados. Contudo, os dados ainda não foram analisados por outros cientistas e estão a despertar algum ceticismo, sobretudo pela rapidez com que as fases de testes foram concluídas.