Especialista fala em “perigo” nas escarpas do Porto e câmara estuda segurança
Geógrafa Ana Monteiro alerta para "grande perigo" nas escarpas do Porto, como nas Fontainhas. Vice-presidente da câmara portuense diz que município já está a estudar a segurança daquela zona.
A geógrafa Ana Monteiro alertou à Lusa para a possibilidade de um “grande perigo” nas escarpas da cidade, como a das Fontainhas. O vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, Filipe Araújo, garantiu que a autarquia já está a estudar a segurança daquela zona.
Questionada pela Lusa acerca das enxurradas verificadas no sábado, na zona das Fontainhas, no Porto, e a correspondente queda de água em direção à Avenida Gustavo Eiffel, a geógrafa e especialista em climatologia aplicada ao ordenamento do território falou na possibilidade de “um grande perigo”.
“Se eu, num declive, faço um corte como aquele que a comunicação social tão bem mostrou, mas que há vários, de um lado e de outro do rio, eu estou a aumentar a probabilidade da ocorrência de um grande acidente, de um grande perigo”, avisou Ana Monteiro à Lusa.
O concelho do Porto registou, no sábado, em menos de duas horas, 150 pedidos de ajuda por causa das inundações em habitações e vias públicas, principalmente na baixa da cidade, disse à Lusa fonte da Proteção Civil local. As enxurradas causaram também danos em algumas habitações na zona das Fontainhas.
Para a professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), o sucedido nas Fontainhas “tem a ver com as características da própria vertente, com o material geológico, com a litologia [constituição das rochas] dessa vertente, e com as obras que se têm feito”.
Ana Monteiro defende que se deve “respeitar a litologia, a geomorfologia e a climatologia“, lembrando que “há termos de responsabilidade” nas intervenções urbanas. “Quem faz uma obra destas assina um termo de responsabilidade. E tem de ser perguntado como, porquê e que cautelas foram tidas. A culpa não é do clima”, advogou.
Questionado acerca das declarações de Ana Monteiro, o vice-presidente da Câmara do Porto respondeu à Lusa que se tem assistido a “fenómenos extremos e de chuvas intensas que estão, de facto, a pôr em stress aquela zona“.
“Nós estamos a estudar, a nível geotécnico, a segurança daquela zona em específico, para garantir que nada acontece, nomeadamente com estas grandes chuvas”, adiantou Filipe Araújo, autarca com os pelouros do Ambiente e Transição Climática, e da Inovação e Transição Digital no executivo liderado pelo independente Rui Moreira.
O número dois do município da Invicta recordou que as escarpas “estão classificadas como zona de risco” no Plano Diretor Municipal (PDM).
“O município do Porto tem investido vários milhões de euros, nos últimos anos, na consolidação das escarpas ao longo de todo o rio“, sublinhou o autarca, referindo que a câmara já impediu “construção nas Fontainhas”, onde havia algumas edificações antigas e “intenção de as recuperar”.
Para o vice-presidente da Câmara do Porto, “o que importa é que o município esteja – e é o que tem feito – em permanente monitorização, e tem investido na consolidação e em certificar que aquelas escarpas estão em condições“. O autarca recordou que a obra atualmente em execução no ramal ferroviário da Alfândega “também tem a ver com a consolidação das escarpas”.
Relativamente a sábado, Filipe Araújo disse que o ribeiro do Poço das Patas, que vai ter às Fontainhas, “tem vindo a sofrer alguma debilidade” e “não aguentou com a força das chuvas“. Mais, explicou, “um pequeno muro colapsou”, e na zona do ribeiro “também houve algumas lajes de cobertura num terreno privado dessa ribeira que, com a força da água, saltaram fora”, já tendo sido repostas.
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