Autarca de Faro receia que Portugal não tenha capacidade para aplicar PRR
Rogério Bacalhau diz que país não tem capacidade para aplicar PRR e vai perder oportunidade de desenvolvimento. Para Faro, o autarca quer mais condições de mobilidade, atração e fixação de pessoas.
O presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau, receia que o “país possa perder uma oportunidade de desenvolvimento ao não conseguir dar uma resposta célere às candidaturas” e a todo o processo no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que tem de ser executado até 2025. “Vamos perder uma oportunidade, porque não vamos gastar todo o PRR, tendo em conta que não vamos ter capacidade para o aplicar”, alertou o autarca preocupado com risco de “derrapagem” de projetos municipais que tem em mãos.
É o caso do projeto na área da habitação social para dar resposta às necessidades da população de Faro. “Vou assinar agora um contrato para 49 fogos de habitação social que têm de estar executados até ao verão de 2025. Se houver uma derrapagem, ficamos aflitos”, frisou o autarca social-democrata, durante o segundo debate ECO Local/Novobanco que decorreu em Faro depois de um primeiro em Viseu.
A conferência de Faro juntou à mesa, em torno do estado da economia da região algarvia e os desafios a enfrentar, o autarca Rogério Bacalhau, o administrador do Novobanco, Luís Ribeiro, assim como os presidentes do Grupo Rolear e da empresa Metalofarense, Parreira Afonso e Luís Afonso, respetivamente.
O social-democrata Rogério Bacalhau avançou ainda que aquele projeto de habitação social já está na gaveta há dois anos à espera de fundos. “Já tenho este projeto feito há dois anos e poderia ter lançado concurso público na altura, mas só agora o fiz porque estive um ano à espera do 1.º Direito [um programa do Instituto de Habitação e da Reabilitação Urbana] e só depois disseram que era uma candidatura a fundos do PRR”.
Vamos perder uma oportunidade, porque não vamos gastar todo o PRR, tendo em conta que não vamos ter capacidade para o aplicar.
Além de estar “apreensivo” com a execução do PRR, Rogério Bacalhau também o está “em relação ao ano de 2023, porque não se sabe como vai evoluir a economia global com a situação da Ucrânia e da Rússia” e a juntar a tudo isto ainda há o agravante do disparar da fatura energética. O que pode ter forte impacto na economia portuguesa assim como nas condições e qualidade de vida das pessoas.
“Mas, por outro lado, estou com algum otimismo em relação a Portugal e em particular ao Algarve. O ano 2022 não foi mau; há muitos projetos privados e investimento que vão avançar este ano, nomeadamente ao nível da hotelaria, restauração, habitação e novas unidades ligadas à medicina aprovadas”, adiantou o autarca de Faro. Ainda assim, avisou: “Temos o problema da falta de mão-de-obra, mas isso significa que não vamos ter desemprego”, o que, ainda assim, acaba por ser bom sinal.
A falta de mão-de-obra também foi um problema apontado pelos dois empresários presentes. O presidente da Metalofarense – empresa familiar fundada em 1958 – destacou a falta de mão-de-obra especializada e de recursos humanos como sendo uma dificuldade a enfrentar. “A preocupação com a mão-de-obra menos qualificada” também foi um dos problemas identificados pelo presidente do Grupo Rolear, uma empresa que opera, nomeadamente, ao nível do fornecimento de produtos e equipamentos, distribuição de gás canalizado, construção civil, infraestruturas e arranjos exteriores.
Ambas as empresas têm tido um papel essencial na vitalidade da economia algarvia. A Metalofarense, por exemplo, é considerada uma referência no sul do país no setor da comercialização de produtos siderúrgicos para a construção civil.
As empresas devem ter mais dimensão e escala
Durante o debate foi unânime a ideia, entre os presentes, de que urge criar condições de mobilidade, atração de talento e fixação da população assim como as empresas ganharem mais dimensão e escala.
“Devíamos ter uma estratégia para, de alguma forma, conseguir fixar mais pessoas. Estamos a trabalhar nisso através da aposta na habitação. Construíram-se mais de mil fogos nos últimos anos, no concelho, quando nos cinco anos anteriores praticamente não se tinha feito nada”, sublinhou o presidente da Câmara Municipal de Faro.
Outra ação para fixar população passa pela educação “no sentido de criar mais salas do pré-escolar e mais escolas”. Além dos trunfos que a região algarvia tem no que toca às condições ambientais, climáticas e de qualidade de vida. “Mas é preciso dar incentivo a este tipo de empresas e a estas pessoas, porque há outros sítios do mundo onde também se vive bem. É preciso haver políticas que sejam adotadas ao território e ao que o território quer fazer“, frisou Rogério Bacalhau, acérrimo “defensor da regionalização e da descentralização“.
Vou assinar agora um contrato para 49 fogos de habitação social que têm de estar executados até ao verão de 2025. Se houver uma derrapagem, ficamos aflitos.
O autarca social-democrata defendeu ainda que o Algarve não pode depender exclusivamente do turismo, a julgar pelo impacto que a pandemia da Covid-19 teve neste setor na região, e destacou a importância da universidade no desenvolvimento económico. “Falta hoje dar um passo mais à frente. É preciso crescer e apostar noutras valências [além do turismo], porque em 2020 fomos das regiões que mais sofreu, tendo em conta que o turismo desapareceu e toda a nossa economia sofreu com isso”, sustentou.
Também o administrador do Novobanco considerou que o “turismo é uma atividade com um peso muito forte no Algarve”, além do imobiliário, concordando que “é preciso diversificar para outros setores da economia, por exemplo na economia do mar em que o Algarve tem vantagens” e ao nível das produções sustentáveis na área da agricultura que já existem na região.
“Além de diversificar, o Algarve tem de ganhar escala. É um desafio e também temos de trazer investimento. Do Portugal 2020 o investimento no Algarve é pouco mais de 340 milhões de euros”, realçou Luís Ribeiro, sublinhando que “o PIB do Algarve representa cerca de 4,3% do PIB nacional, sendo esta uma região tradicionalmente mais marcada pelos ciclos da atividade económica”.
Além de diversificar, o Algarve tem de ganhar escala. É um desafio e também temos de trazer investimento.
Já Rogério Bacalhau alertou, por sua vez, para a existência de “dois Algarves com um contraste muito grande: o Algarve do litoral e o do interior que tem menos recursos e está a ficar desertificado”. É, por isso, necessário “dar uma atenção especial a esses territórios em prol da coesão territorial” e de melhores condições de vida.
“Não sabemos muito bem o que vai acontecer com a inflação, mas estou confiante de que podemos garantir níveis de desenvolvimento se tivermos também cuidado com as classes mais desfavorecidas, com baixo rendimento, com a inflação”, sublinhou o autarca. Defendeu, por isso, que “os municípios e a Administração Central têm de estar alerta para criarem medidas de ajuda para quem realmente necessitar. Neste momento, há famílias de classe média que têm muitas dificuldades em pagar as mensalidades ao Banco por causa do aumento de taxas de juro”.
Por fim, o administrador do Novobanco referiu que a região tem menos empresas em 2022 do que em 2019. “Há um primeiro sinal de abrandamento do crédito no Algarve, ou seja, o crédito nas empresas está a reduzir cerca 7%; o que pode mostrar alguma tendência no adiar de alguns investimentos”.
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