Negócios +M

APIT: O estado da produção audiovisual em Portugal

Carla Borges Ferreira,

A produção independente de televisão cresceu cerca de 15%. Os dados são da Associação de Produtores Independentes de Televisão (APIT), no relatório partilhado com o +M.

As produtoras independentes de televisão registaram em 2021 uma faturação de 112,8 milhões de euros, um crescimento de quase 15 milhões de euros em relação ao ano anterior. É também o maior volume de negócios dos nove anos analisados pela Associação de Produtores Independentes de Televisão (APIT). Os números constam do Anuário do sector de produção audiovisual em Portugal 2022, promovido pela APIT e realizado pelo Centro de Estudos e Comunicação e Cultura, da Universidade Católica, e antecipado ao +M.

Os dados revelados pelo Barómetro são muitíssimo significativos do crescimento do setor, na medida em que exprimem uma subida do volume de negócios dos associados, superando os valores dos últimos 5 anos. Por outro lado, é notório perceber a importância que a produção audiovisual para televisão tem entre a atividade dos associados, quer em termos de desenvolvimento, quer em termos de faturação.

A manutenção do foco na realização de coproduções também deve ser tida como muito relevante, caracterizando, cada vez mais, um setor que procura parcerias e vias de internacionalização”, destaca Susana Gato, presidente executiva da associação, como os dados principais do relatório deste ano.

 

Com 595 trabalhadores em 2021, mais 109 do que no ano anterior à pandemia, a principal atividade dos associados da APIT foi a produção audiovisual para televisão e é também esta a principal fonte de faturação. A produção cinematográfica e para multiplataforma registou um decréscimo, mantendo-se estável a produção para publicidade. O entretenimento e a ficção, de curta e longa duração, são os géneros mais trabalhados pelos associados.

Nos apoios obtidos, a APIT destaca o Fundo de Apoio ao Turismo, Cinema e Audiovisual (+23%) e os concurso do Instituto de Cinema e Audiovisual (+46%). Destaque também para as Autarquias Locais (+44%). “Esta realidade mostra, mais uma vez, a importância do mecanismo de financiamento para a dinamização da produção audiovisual em Portugal”, refere o documento.

A APIT salienta também a coprodução com distribuidoras internacionais como estratégia de produção. A venda direta representa um valor na ordem dos 20%, antecipando-se um aumento desta percentagem na sequência da nova Lei do Cinema e do Audiovisual, na qual se prevê a entrada de conteúdos nacionais nos catálogos das operadoras de streaming.

A maior dependência de um cliente a representar mais de 25% do total da faturação da empresa é a situação mais comum junto dos associados, situação que se agrava face a 2020, prossegue o relatório.

Embora não seja possível uma comparação direta entre 2021 e 2022, com os últimos dados a abrangerem apenas os primeiros 10 meses do ano, a APIT salienta a subida “expressiva” do número de clientes, “questão fulcral para a construção de um setor mais diversificado”. “Quanto à rentabilidade, é notória a redução, muito devido aos impactos da subida da inflação”.

“Os orçamentos decrescem, mas a exigência permanece, por forma a não impactar a qualidade dos conteúdos, o que torna a operação muito desafiante para todos os agentes implicados na cadeia de valor”, lê-se no estudo. A nova Lei do Cinema e do Audiovisual teve, sobretudo, um “impacto neutro” para a maioria dos associados.

“O caminhar para o final da pandemia, com as suas implicações em termos de produção audiovisual, veio trazer alterações significativas nos modos de produção, tendo-se começado a alargar alguns mecanismos de segurança que, no entanto, ainda se mantiveram ao longo de vários meses. Por outro lado, a guerra trouxe maiores problemas e desafios, sendo que a inflação se refletirá, de modo muito significativo e preponderante, em toda a cadeia de produção”, comenta Susana Gato.

Todavia, percebe-se que há uma evolução significativa do setor, na medida em que o conteúdo, independentemente da plataforma onde é visto, continua rei. E esse é o nosso maior ativo”, prossegue, quando questionado sobre as principais evoluções do último ano.

Em termos de tendências, a responsável adianta que “os avanços tecnológicos vêm trazer novos desafios a quem produz, sendo que a tendência para explorar a inteligência artificial e a as suas aplicações está muito marcada também nesta atividade”.

Porém, frisa, “o entretenimento, a ficção e o documentário continuam a ser o que realmente importa quando procuramos saber o que os públicos querem“. “Conhecer o público, perceber o que quer ver e onde quer ver é o desafio que os produtores abraçam todos os dias, apostados em produzir obras mais consistentes, mais robustas, com maior orçamento e que consigam, verdadeiramente, viajar”, são os pontos fundamentais, defende.

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