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MBO ou Media Capital: quem dá mais pela dona do Correio da Manhã?

Alberto Teixeira,

Quanto vale a Cofina Media? Ronaldo & Cia. avaliam empresa em seis vezes o EBITDA. Transações na Europa são feitas por valores inferiores. Guerra com Media Capital vai esticar ainda mais avaliação.

Quanto vale a Cofina Media? Cristiano Ronaldo e companhia apresentaram uma proposta em que avaliam a empresa em 75 milhões de euros, cerca de seis vezes o EBITDA que consegue gerar por ano. É muito ou pouco? Na Europa, as transações no setor têm sido feitas por valores inferiores. Mas a entrada em cena da Media Capital deverá “esticar” ainda mais a avaliação da dona do Correio da Manhã, de acordo com os analistas.

“Se há espaço para que haja ofertas superiores? Claro que sim, uma vez que ambos os interessados podem elevar a fasquia e poderão estar dispostos a apresentar uma proposta superior”, sublinha Henrique Tomé, analista da XTB.

Métricas que relacionam a avaliação da empresa com o EBITDA (ou outros múltiplos) são frequentemente utilizadas pelo mercado, pois ajudam a comparar negócios diferentes independentemente dos valores envolvidos.

No caso da Cofina Media, fechou 2022 com um EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 12,4 milhões de euros no ano passado, ainda que tenha sido penalizada pelas imparidades com a liquidação da Grafedisport, lembra Henrique Tomé.

Desta perspetiva, a operação de management buy out (MBO) lançada por altos quadros da Cofina juntamente com um grupo de investidores, incluindo Ronaldo, ao incorporar um enterprise value de 75 milhões de euros, tem implícito um valor da empresa de 6,05 vezes o EBITDA que gerou no ano passado.

Este valor compara com a média de 5,4 vezes o EBITDA dos negócios que se realizaram no setor na Europa este ano, de acordo com dados disponibilizados pela Dealogic com base em mais de uma centena de transações na indústria dos media — cobrindo áreas que vão desde a imprensa a editoras de livros e música e cinema.

Ou seja, o MBO liderado por Luís Santana tem em vista recuperar o investimento na Cofina Media em pouco mais de seis anos, isto num cenário de estabilidade nas receitas e resultados, enquanto os investidores europeus são um pouco menos pacientes.

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A entrada da Media Capital em cena muda todas as contas com a promessa de “esticar” ainda mais a avaliação da Cofina Media. O grupo que detém a TVI e CNN Portugal também quer participar no processo e sugeriu um modelo de leilão: quem der mais ganha a corrida.

Depois de reduzir a sua dívida “drasticamente” no ano passado, a Media Capital ganhou músculo financeiro, aponta Carla Maia Santos, diretora de vendas da Forste. “Abriu espaço para aumentar novamente a dívida com a compra da Cofina. Vejo possibilidades de avançar com uma proposta superior a 75 milhões, mas depende do quão interessada está em ser líder de mercado”, explica.

Por outro lado, os últimos negócios dos atuais acionistas da Media Capital ajudam a perceber que são ainda mais pacientes do que Ronaldo e companhia. Quando Mário Ferreira avançou para a compra de 30% da Media Capital em maio de 2020, o negócio teve implícito um rácio de enterprise value face ao EBITDA de 6,3 vezes, de acordo com a Reuters. Já os outros acionistas como Tony Carreira, Cristina Ferreira, CIN, entre outros, entraram para a estrutura acionista da Media Capital com um múltiplo de 7,41 vezes o EBITDA.

No passado mais recente, outros negócios no setor dos media em Portugal tiveram múltiplos superiores, como a compra de 20% da agência Lusa por uma empresa de Marco Galinha (9,33 vezes) ou o negócio que a Media Capital fez com a venda das rádios aos alemães da Bauer (17 vezes).

Cada negócio é um negócio e este da Cofina Media também tem as suas características específicas e os interessados perseguem objetivos diferentes.

Para a Media Capital, com uma capitalização bolsista que não chega aos 100 milhões de euros, “tem todo o interesse em comprar a Cofina para se tornar no maior player no setor dos media e ultrapassar a Impresa”, dona da SIC, SIC Notícias e do Expresso, a nível de audiências, observa Carla Maia Santos.

Henrique Tomé considera que o grupo liderado por Luís Santana também tem argumentos para concorrer com a Media Capital. Mais do que ninguém conhece o negócio da Cofina Media por dentro, como já referiu Luís Santana, administrador executivo da empresa de media.

Enquanto se esperam pelos próximos desenvolvimentos, as ações da Cofina voltaram a disparar na sessão desta terça-feira: avançaram 10% para 0,416 euros, conferindo um valor de mercado de 42,7 milhões de euros.

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