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Inflação, eleições e guerra da Ucrânia foram temas que geraram mais desinformação, diz o Iberifier

Rafael Ascensão,

O estudo do Iberifier destaca que a política é mais permeável à desinformação devido às suas "características intrínsecas", nomeadamente porque apela a aspetos emocionais.

A inflação (2022), as eleições parlamentares (2022) e a invasão da Ucrânia (2022) foram os temas/momentos que geraram mais desinformação em Portugal, segundo o relatório do Observatório Ibérico de Média Digitais e da Desinformação (Iberifier).

No caso da inflação de 2022, embora não tenham sido detetadas campanhas de desinformação organizadas, verificou-se a circulação de “múltiplos conteúdos desinformativos” sobre o tema, o que “chegou a gerar da parte de uma empresa do setor do retalho a indicação de que estariam a ser vítimas de uma campanha de desinformação”, refere-se no relatório.

“A equipa Iberifier escolheu este tema por considerar que o levantamento de tantas dúvidas sobre este assunto teve grande impacto na vida quotidiana dos cidadãos”, acrescenta-se.

a guerra da Ucrânia originou o desmentido de 12 peças por semana em Portugal, com os investigadores do estudo a apontarem o uso de “imagens descontextualizadas” por parte dos principais meios de comunicação para fazer a cobertura do conflito, como imagens da guerra na Síria e até de jogos de vídeo. Os tópicos de desinformação com maior impacto da guerra em Portugal foram o aumento dos preços dos combustíveis e o alinhamento do Partido Comunista Português com o lado russo.

Quanto às eleições legislativas de 2022, os investigadores constataram que “nem o Governo nem a oposição recorreram à criação e disseminação de falsidades sobre os três principais tópicos estruturais” (políticas sociais, saúde e política fiscal). O estudo refere ainda que os meios de comunicação social desempenharam “um papel fundamental neste processo de monitorização”.

No entanto, sublinha-se, “apesar da falta de campanhas de desinformação política organizadas em Portugal, deve notar-se que a ascensão de movimentos extremistas, nomeadamente o partido de direita Chega, obrigou a esforços redobrados por parte dos meios de comunicação social, dos verificadores de factos em particular e inclusive dos cidadãos individuais“.

Entre as principais conclusões do estudo destaca-se ainda que a política é mais permeável à desinformação devido às suas “características intrínsecas”, nomeadamente porque se “anima” pelo exercício da influência junto dos eleitores e apela a aspetos emocionais. Neste âmbito, a desinformação é mais prevalente na política precisamente por esta evocar emoções e crenças fortes, pressupor a prática de influência, e atualmente decorrer num “ambiente facilitador da transmissão de mensagem”, como o são as redes sociais.

Tendo em conta alguns fatores do panorama português, como o de existir a “Lei do Cibercrime”, de o Código Penal contemplar as falsas acusações, de o Governo ter criado um “Conselho Estratégico de Comunicação” (responsável pela análise da desinformação, promoção da literacia mediática e desenvolvimento de ferramentas de verificação de factos) ou de os media portugueses possuírem autorregulação ética e deontológica, os investigadores consideram “louváveis” as medidas tomadas neste campo.

Aliás, a experiência portuguesa – a par da espanhola – é considerada como “exemplar” para “outros países que estão a enfrentar os mesmos problemas no combate à desinformação”, acrescentando no entanto que “a luta contra a desinformação continua”.

No entanto, os investigadores concluem ainda que existe uma “falta na legislação que trate de aspetos contextuais específicos de Portugal e de Espanha”, sendo que “embora ambos os países tenham sido proativos na construção de uma estrutura jurídica que contemple os problemas da desinformação, na prática, essa ação tem-se orientado por diretrizes europeias“.

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