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Global Media só paga salários na próxima semana. Grupo “sem acesso à banca nacional”

+ M,

Grupo diz-se sem acesso à banca nacional e aguardar verbas transferidas do estrangeiro, do novo acionista, para pagar os salários. Venda da Lusa será decidida pelo novo Governo.

Com a hipótese de um despedimento coletivo de cerca de 150 trabalhadores em cima da mesa, um pré-aviso de greve da redação do Jornal de Notícias para os dias 6 e 7 de dezembro, e a venda da participação da Lusa ao Estado a cair por terra, a Global Media adiou para a próxima semana o pagamento dos salários de novembro.

Os trabalhadores do grupo não receberam quinta-feira, último dia do mês, e souberam ao final do dia que o processamento dos ordenados só seria feito no início da próxima semana, ainda sem indicação de dia. O atraso deve-se à “impossibilidade de acesso à banca nacional”, diz a comissão executiva.

Devido à gravíssima situação financeira com que se debate o Global Media Group, com a acumulação de elevados prejuízos e a existência de um total défice de tesouraria, o pagamento atempado dos salários no último ano só foi possível devido a transferências feitas pelo acionista Marco Galinha”, escreveu a administração num comunicado enviado ao final da tarde aos trabalhadores e ao qual o +M teve acesso.

Com a alteração recente na estrutura acionista, em grande parte motivada pelo facto de se tornar insustentável para o referido investidor continuar a suportar sozinho a manutenção do GMG, tais transferências passaram a ser suportadas pelo novo acionista, o World Opportunity Fund (WOF). Ao longo destes últimos meses, de modo a assegurar o funcionamento diário do Grupo, tem sido escrupulosamente cumprido o plano de regularização fiscal, bem como o pagamento dos fornecedores essenciais à atividade das diferentes marcas do Grupo”, prossegue o grupo.

Mas, diz agora a administração, “infelizmente, a campanha permanente que tem sido vítima o GMG por parte de alguma concorrência, com a adulteração de factos e criação de falsas narrativas, conjugada com os graves problemas financeiros que há muito vive este Grupo, impossibilitou o acesso à banca nacional por parte do GMG, obrigando assim o recurso a transferências internacionais por parte do WOF, e que têm sido indispensáveis para garantir o pagamento dos salários”.

Assim, “a Comissão Executiva do GMG informa que, por atraso nos procedimentos administrativos e de ‘compliance’ referente à transferência feita pelo WOF, os salários do mês de novembro apenas serão processados no início da próxima semana, logo que as verbas transferidas do estrangeiro estejam acessíveis”, prossegue no comunicado, que se refere à entrada do novo acionista como “uma última alternativa para impedir a falência do Grupo e o encerramento das suas marcas”.

Em outubro, recorde-se, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) confirmou que o fundo de investimento World Opportunity detém 51% do capital social da Páginas Civilizadas, a qual controla, diretamente e indiretamente, 50,25% da Global Media e 22,35% da Lusa.

Governo recua na compra da Lusa

Entretanto, ao início da noite desta quinta-feira, soube-se que o Governo fez marcha-atrás na compra da participação da Global Media e da Páginas Civilizadas na Lusa, ao contrário das expectativas de Marco Galinha, ainda chairman da Global Media.

Em comunicado, o executivo explicou que a operação de compra – de participações de 45,7% na agência de notícias – sempre esteve dependente de “um compromisso político alargado” que deixou de existir.

“No momento atual, não existindo um consenso político alargado, a operação revelou-se inviável. Caberá ao próximo Governo assumir as suas responsabilidades”, refere a nota, antes de acrescentar que caberá à nova equipa encontrar uma “solução que garanta o salutar pluralismo, independência e salvaguarda do serviço público prestado pela Lusa – essencial para o conjunto da comunicação social”.

Um dia antes, na quarta-feira, o PSD tinha defendido que o negócio deveria ser decidido pelo Governo que sair das eleições legislativas marcadas para 10 de março de 2024. O “PSD confirma que tem sido informado das negociações em curso, mas não deu qualquer concordância ao negócio. De resto, entende que face à sensibilidade da matéria deveria ser decida pelo próximo Governo”, tinha avançado ECO fonte autorizada do partido liderado por Luís Montenegro.

O Governo faz, no entanto, questão de deixar claro que o trabalho de casa está feito para concluir o negócio e ser entregue na pasta de transição entre executivos. Desde o passado dia 22 de novembro que a “Direção-Geral do Tesouro e Finanças apresentou, em nome do Estado, uma proposta formal de aquisição”, a que se seguiu um “processo negocial exigente e confidencial, que incluía a liquidação integral da dívida do grupo Global Media à Lusa”.

Antes, a Lusa tinha pedido um estudo a uma empresa independente para avaliar os seus capitais próprios – um dos requisitos “indispensáveis” para a operação. Estudo esse que foi, depois, objeto de um parecer dos serviços do Ministério das Finanças, que finalmente chegou a um “valor para a aquisição das ações”.

O outro requisito, repete o comunicado, era que o “eventual sucesso da operação dependeria sempre da liquidação simultânea da dívida que as empresas do grupo Global Media acumularam, ao longo dos anos, perante a Lusa, e em decorrência dos serviços que lhes foram prestados pela Agência”.

Em paralelo com as exigências financeiras, o Governo vinca que para garantir a autonomia da Lusa – perante um reforço da participação do Estado – estava previsto uma mudança no modelo de governação. No documento foi também assumido que a agência passaria a “disponibilizar os seus serviços sem custos a todos os órgãos de comunicação social”, como uma medida para “apoiar a comunicação social no seu conjunto”.

Para a próxima semana, mas agora sem a alavanca da venda da Lusa, estaria prevista a apresentação do plano de reestruturação do grupo.

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