Ourivesaria centenária da Póvoa de Varzim fatura 30% com clientes internacionais
Fundada em 1922 por Virgílio Aristides Tavares, esta ourivesaria da Póvoa de Varzim já vai na quarta geração. Liderada por Carlos e Ana Tavares, emprega 12 pessoas e fatura 1,5 milhões de euros.
Natural de Vilarinho da Castanheira, no concelho de Carrazeda de Ansiães (Bragança), Virgílio Aristides Tavares perdeu o pai muito cedo e teve de ir à procura de um ofício. Foi no Porto que aprendeu a arte da ourivesaria. Mais tarde combateu na Primeira Guerra Mundial e, ao regressar a Portugal, elegeu a Póvoa de Varzim, onde estabeleceu a Andrade & Tavares com os dois futuros cunhados, o futuro sogro e o pai.
Fundada em 1922 na Rua da Junqueira, a centenária ourivesaria poveira permanece no mesmo local, comandada agora pela quarta geração. Emprega 12 pessoas e fatura 1,5 milhões de euros. Foi em 1937 que a Andrade & Tavares adquiriu o edifício da rua 5 de outubro (hoje Rua da Junqueira) por 15 mil escudos. Carlos Tavares, que pertence à quarta geração da Tavares 1922, conta ao ECO/Local Online que para além de oficina e loja, a casa comprada pelo avô em hasta pública era também a habitação da família, onde a avó cozinhava para os funcionários.
Pouco tempo depois da compra, a sociedade é dissolvida. Virgílio Aristides Tavares assume os comandos da empresa, como sócio único, acabando por registar no ano seguinte a marca com o seu próprio nome. Mas a sua morte em 1954 leva a sociedade a mudar de mãos. À frente dos destinos da Tavares ficaram a esposa do fundador, Isolina Andrade Tavares, e os três filhos: Simão, Manuel Miguel e Ana. Só em 1988, depois da constituição de uma sociedade por quotas, se dá a saída de Ana, que deixa o negócio da família nas mãos dos irmãos. É durante a década de 1990 que a empresa acolhe a quarta geração da família Tavares como acionistas.
A partir de 2004, a empresa começa a participar regularmente nas feiras “Exponoivos” e “Braganoivos”. Em 2010, Carlos e Ana Tavares tornam-se os únicos sócios e proprietários da Tavares, papel que desempenham até aos hoje. O amor pela joalharia começou ainda em criança, quando brincavam na oficina. Carlos é fascinado pelo ouro popular e pelas pedras preciosas, especialmente os diamantes. Estudou Gemologia em Antuérpia (Bélgica) e em Londres (Reino Unido). “O meu pai colecionou durante muitos anos ourivesaria popular portuguesa e eu aprendi muito com ele. Sou um apaixonado”, resume.
Em 2016, a Ourivesaria Tavares recebeu a Medalha de Reconhecimento Poveiro (grau prata) da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, um gesto que pretendeu homenagear a história da ourivesaria. Um ano depois, é inaugurada a “nova loja”, que foi alvo de uma remodelação.
“Queremos ser uma empresa que defende a ourivesaria portuguesa, essencialmente uma empresa de ourivesaria, joalharia e prata decorativa. Não temos outras marcas na nossa loja. Tudo o que vendemos tem a nossa supervisão, a nossa imagem e a nossa marca“, nota Carlos Tavares que é perito avaliador da Casa da Moeda.
As pessoas investem em joias porque sabem que elas podem valorizar.
Os diamantes são as peças mais caras no portefólio da Tavares 1922, que podem chegar aos 20 mil euros. No entanto, “devido ao preço que o ouro está a atingir” têm colares a custar dez mil euros. Carlos Tavares diz ainda que estão a apostar, cada vez mais, em anéis de noivado com diamantes certificados pelo pelo Instituto Gemológico Americano (GIA). “É uma espécie de bilhete de identidade”, afirma.
Carlos Tavares lembra que antigamente as pessoas usavam o ouro por três motivos: fé e devoção; ostentação e estatuto social; e aforro e poupança. Hoje, os valores mudaram e o gestor destaca que “as pessoas já não compram ouro com a intenção de aforrar, mas sim pela valorização do ouro e pela aplicação financeira. Exemplifica que, em 2001, a libra, que é muito usada em joias, era vendida a 15 mil escudos (75 euros), hoje estão a ser vendidas a 550 euros. “As pessoas investem em joias porque sabem que elas podem valorizar”.
Clientes internacionais valem 30% da faturação
Os clientes internacionais representam 30% do volume de negócios da centenária ourivesaria da Povoa do Varzim. E a loja online representa cerca de 15% da faturação. A Tavares 1922 entrou recentemente no The Oblist, que é um dos maiores site de venda de artigos de decoração na Europa. A marca portuguesa está ao lado de marcas como Sophie Lou Jacobsen, Lemon, Worn Studio ou Reflections Copenhagen.
“Quase todas as semanas temos pedidos de peças de prata decorativas feitas na nossa oficina que vão para mercados como os EUA, Inglaterra, Alemanha ou Suíça. Através desta plataforma estamos a vender para mercados que não estávamos à espera lá chegar”. Além do The Oblist está igualmente presente há quatro anos na Boutique Santander.
Depois do “sucesso” no The Oblist, a empresa familiar está agora a trabalhar numa coleção de peças decorativas de mesa que deverá ser lançada durante o verão. “Estamos a alterar conceitos para peças mais minimalistas e praticas. Já temos em fabrico algumas peças de uso”, indica o gestor, notando que “uma das lacunas no setor das pratas decorativas em Portugal foi não ter conseguido inovar” ao longo dos anos. “As pessoas não querem uma peça para guardar, querem uma peça para usar numa mesa bonita”, completa.
Para Carlos Tavares, neto do fundador, a “paixão” e a resiliência são os segredos deste negócio que soma mais de cem anos de existência. “Isto é um projeto de família e todos os nossos antepassados ajudaram a construir e a escrever um capítulo desta história”, conclui o gestor.
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