Trabalhadores do grupo da Visão apelam a apoio de investidores. Luís Delgado fala em “declínio profundo e insustentável” das publicações
Os trabalhadores da dona da Visão vão agendar ações de protesto para sensibilizar a sociedade civil e o poder político. Querem ainda o pagamento dos salários em atraso. Luís Delgado já reagiu.
Os trabalhadores da Trust in News apelam ao apoio dos leitores, anunciantes e de potenciais investidores para ajudar à preservação dos títulos do grupo – onde se incluem meios como a Visão, a Exame ou o Jornal de Letras –, bem como para salvaguardar os postos de trabalho.
Em plenário esta segunda-feira, os trabalhadores decidiram ainda agendar ações de protesto para “sensibilizar a sociedade civil e o poder político para as dificuldades que enfrentam todos os dias e para a importância de salvar todos os títulos” do grupo, que detém um total de 16 publicações.
Em comunicado, “solicita-se” ainda a Luís Delgado, acionista e administrador da TiN, o pagamento dos salários e subsídios em atraso, nomeadamente alguns salários de setembro, salários de outubro, subsídios de férias, cinco subsídios de alimentação, entre outras remunerações. Ao dono da empresa, os trabalhadores solicitam ainda, “com caráter de urgência”, toda a informação disponível sobre o projeto de recuperação da empresa que o administrador pretende apresentar aos credores, no âmbito do pedido de insolvência com recuperação.
Os trabalhadores, neste momento cerca de 140, “não vão baixar os braços e decidiram tornar pública a sua luta face ao imobilismo da administração, ao aumento da dívida, ao perpetuar dos salários em atraso, ao chumbo do Processo Especial de Revitalização (PER) e à iminente insolvência”, lê-se na mesma informação.
Administração reage “aos ultimatos” dos trabalhadores
Entretanto, a administração já reagiu. Em comunicado enviado ao final da tarde a todos os colaboradores, ao qual o +M teve acesso, a administração diz que os salários em atraso de setembro — num total de 10 em 150 — deverão ser liquidados amanhã, momento em que terá início o pagamento relativo a outubro. “Esta situação, que se prolonga há demasiado tempo, é lamentável. As dificuldades têm sido ainda maiores no que toca aos subsídios”, escreve, acrescentando que nunca que nunca deixou de os representantes escolhidos pelos trabalhadores, “sobre a situação que tem causado esta perturbação, mantendo reuniões regulares, todos os meses, por vezes até mais do que uma vez“.
Afirmando que a administração “sempre assumiu a responsabilidade por aquilo que não conseguiu realizar ou, de forma transparente, pelo decidiu não fazer, nunca por incúria, e muito menos por irresponsabilidade”, Luís Delgado fala então das exigências que faz aos trabalhadores.
“A administração sempre exigiu – e continua a exigir – total e completa responsabilidade a quem concebe, cria, escreve e publica as revistas, que registam quedas contínuas, de 2018 a 2024, nas vendas em banca, na publicidade, nas assinaturas e outras receitas, incluindo as digitais. Há, sempre houve, independentemente das condições, um declínio profundo e insustentável de todas as publicações. Justificações há muitas, mas receitas poucas.
“A Administração de uma empresa de Comunicação Social não pode nem deve imiscuir-se nos produtos editoriais, mesmo quando reconhece um declínio contínuo e permanente, sobretudo em períodos em que todos os recursos estavam disponíveis, como, de certa forma, continuam a estar”, afirma ainda o email.
Dizendo não ser “adepta de instabilidade interna, mudanças frequentes nas equipas de chefia, despedimentos coletivos ou encerramento de revistas”, a administração afirma que “as direções editoriais e transversais tiveram acesso aos números e indicadores de desempenho dos órgãos de comunicação social (OCS) da empresa”, e que os números, de 2018 a 2024, foram partilhados com todas as equipas em fevereiro deste ano.
Para breve, a “administração dará uma resposta direta aos diversos ultimatos”, conclui o email, prometendo também divulgar o desempenho dos principais títulos da TIN e “o seu impacto nesta situação profundamente lamentável”. A administração, liderada por Luís Delgado, termina dizendo que “para todos os efeitos de transparência e memória presente e futura” pedirá que o comunicado que resultou do plenário seja publicado na íntegra no site da Visão, bem como a sua resposta.
Na última semana, recorde-se, a administração da Trust In News anunciou que vai avançar para a apresentação de um plano de insolvência com recuperação, depois de ter falhado a aprovação do Plano Especial de Revitalização (PER) na semana anterior.
“Na sequência da reprovação do PER, a TIN vai comunicar formalmente ao AJP [administrador judicial provisório], que nada tem a opor ao parecer de insolvência que venha a sugerir, na convicção de que a empresa continua a operar, e manifestando, desde já, a sua intenção de apresentar um Plano de Insolvência, requerendo-se, desde logo, a convocação de uma Assembleia de Credores para apresentação e fundamentação do Plano de Recuperação da empresa”, lia-se num email enviado aos colaboradores da empresa, ao qual o +M teve acesso.
Luís Delgado avançou assim para um processo de insolvência com restruturação. “A Trust In News sempre acreditou que o caminho da sua reestruturação e viabilização seria o mais consistente e positivo para todos os credores, e para todos os nossos colaboradores, que sempre contribuíram para uma comunicação social livre, independente e isenta, cumprindo com rigor os seus desígnios constitucionais”, prosseguia o email.
O passo seguinte é então o administrador judicial provisório comunicar ao tribunal e aos credores que a empresa está insolvente, mas que pretende apresentar um plano de reestruturação. Se o parecer for favorável, será então nomeado pelo tribunal um administrador de insolvência.
A Trust in News submeteu o plano de recuperação no tribunal de Sintra a meio do mês de outubro. A proposta não previa qualquer perdão na dívida que ascende a mais de 32 milhões de euros, mas pedia mais de uma década para pagar ao seu maior credor, o Estado.
Em concreto, a empresa de media – que em 2018 comprou o negócio das revistas ao grupo Impresa por mais de dez milhões – deve 8,98 milhões de euros à Segurança Social e 8,13 milhões à Autoridade Tributária, dívidas que se propôs a pagar em 150 prestações mensais, ou seja, ao longo dos próximos 12 anos e meio, de acordo com o plano que o ECO consultou no portal Citius.
(notícia atualizada às 20h30 com posição da administração)
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