Hotéis dentro de hotéis: entrámos num novo patamar de exclusividade

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Cristiano Ronaldo deu as boas vindas a 2025 no Dubai, com direito a um incrível espetáculo de fogo-de-artifício. A pirotecnia é, aliás, presença comum nos reveillóns do craque que, no ano anterior, escolheu a sua ilha natal para celebrar a entrada em 2024. Foi na acabada de inaugurar área TheReserve do Savoy Palace, no Funchal, que este filho pródigo da Madeira ficou instalado. A imprensa local apressou-se a elencar a oferta de luxo deste hotel, desde a vista privilegiada sobre o Atlântico (e o mítico fogo-de-artifício) nos 40 quartos exclusivos até à sala privada onde teve lugar a festa com música ao vivo, terminando num personal assistant para tornar a experiência inesquecível. A presença do futebolista e da família nesta nova unidade hoteleira foi a melhor jogada de marketing que o Savoy Palace podia ter, sobretudo quando se tratava de divulgar o TheReserve, a jóia da coroa escondida dentro do Palace. Na altura ainda não se falava na tendência hotéis-dentro-de-hotéis.

O TheReserve foi um dos primeiros alojamentos a lançar-se nesta tendência de criar, dentro de um hotel existente, uma área reservada onde os hóspedes desfrutam de uma experiência de ultra-luxo. O TheReserve ocupa os dois pisos superiores do Savoy Palace e, aqui, os quartos são superiormente maiores, variando entre suites de 170 m2 com piscinas privadas até à Penthouse Retreat, com 700 m2, apresentando detalhes de design sofisticados e um serviço ultra-personalizado. Para começar, a chegada: uma receção separada permite um processo de check-in tranquilo; um elevador privado inspirado na corte de Luís XIV conduz os hóspedes às suas acomodações, voltadas para o Atlântico. O TheReserve dá ainda acesso a uma piscina privada, mais intimista do que a partilhada pelos 309 quartos do Savoy Palace. No lounge e no restaurante Jacarandá Club, exclusivo do TheReserve, é possível desfrutar de refeições durante todo o dia. Mais: os hóspedes do TheReserve têm direito a transporte gratuito em Rolls Royce durante toda a estadia.

Um ano depois, o Savoy Palace não está sozinho nesta tendência emergente que tem conquistado o mercado global da hospitalidade de luxo. O conceito de hotel-dentro-de-hotel, que combina exclusividade, privacidade e personalização reservados a grupos restritos de hóspedes, está a ser abraçado pelos grandes hoteleiros pelo mundo fora, com grande destaque para os Estados Unidos da América (EUA). Vejam-se os exemplos do histórico La Fonda on the Plaza, em Santa Fé, que criou um enclave privado de 15 suites chamado Terrace Inn na tranquilidade do Novo México; ou o do Boca Raton, no sul da Florida, que estreou uma coleção de Tower suites com vistas panorâmicas e experiências tailormade; tal como o Breakers Palm Beach, que renovou o Flagler Club e transformou os dois pisos superiores num refúgio boutique com transporte de hóspedes em Mercedes Maybach, bungallows no beach club, spa e ginásio com 6000 m2, acesso a campos de ténis, padel e golfe.

Fora do território americano, encontramos o Ritz-Carlton Club Lounge, dentro do Ritz-Carlton em Quioto, Japão, onde os hóspedes podem desfrutar de serviços personalizados e espaços privativos com vistas espetaculares do rio Kamogawa; o Fairmont Gold, presente em várias propriedades Fairmont, incluindo o Fairmont Pacific Rim, em Vancouver, que oferece andares com lounges privativos, serviço de concierge de almofadas e uma experiência de compra exclusiva na Omega; ou o Shangri-La Horizon Club, que em hotéis como o Shangri-La Singapore transforma andares superiores em refúgios sofisticados com privilégios como check-in privado e pequeno-almoço exclusivo.

O verdadeiro luxo
Todos estes são exemplos de hotéis que adicionaram sub-marcas diferenciadoras ao seu portefólio. Mas, de acordo com alguns especialistas do setor, nem todas as experiências de hotel-dentro-de-hotel estão condenadas ao sucesso por apenas acrescentarem uma camada de luxo extra ao lote de serviços oferecidos. Muito pelo contrário. Não basta criar áreas de diferenciação nos edifícios, acrescentar um logo pomposo de uma nova marca e aumentar os preços dando uma ilusão de upgrade. No fim de contas, para o hóspede, o que conta é a qualidade do serviço e a peculiaridade da experiência na estadia, criando-se uma conexão emocional e mantendo a essência original do hotel. Tratar o hóspede pelo nome, conhecer as suas preferências, valorizar a sua estadia são bons exemplos do que é o verdadeiro luxo na hospitalidade.

Para isso, nada como focar na experiência, oferecendo serviços não só do ponto de vista das acomodações, mas também no da gastronomia, no da saúde e bem-estar e no do entretenimento. Ao conforto das suítes palacianas com piscinas privadas, vistas deslumbrantes e design de interiores exclusivo, devem juntar-se, por exemplo, serviços de mordomo privado, prontos para atender a todas as necessidades dos hóspedes, desde o fazer e desfazer de malas até a organização de experiências personalizadas dentro do hotel.

As experiências gastronómicas são outra área muito valorizada. Daí que seja cada vez mais comum vermos restaurantes de hotel distinguidos com estrelas Michelin. Outras vivências, como menus especializados criados por chefs de renome ou workshops de culinária privados são outros serviços cada vez mais adotados para atender às expectativas dos clientes mais exigentes. Não esquecendo também a oferta de bem-estar nos spas, com instalações inovadoras, oferta de terapias e tratamentos raros e luxuosos, com acesso a especialistas mundiais de saúde e bem-estar, que proporcionam experiências de cura e de rejuvenescimento.

00O serviço de concierge dedicado, com equipas especializadas e disponíveis 24 horas para atender a todas as solicitações, é outro must-have. Desde reservas em restaurantes até à organização de eventos privados, passeios exclusivos, visitas privadas a museus, tours de compras com personal stylists ou experiências culturais autênticas, vale tudo pela fidelização dos hóspedes.

Ou ainda detalhes atenciosos que não são descurados, como manter a tradição de entregar aos hóspedes os jornais diários passados a ferro, sem vincos, elevando a experiência de leitura matinal; ou, em destinos de neve, a disponibilização de serviços de secagem e aquecimento das botas de esqui, garantindo que os hóspedes vão para a montanha com os equipamentos secos e confortáveis.

Com a procura crescente por exclusividade, é provável que esta tendência de criar hotéis-dentro-de-hotéis continue a expandir-se. Para se destacarem, os hotéis terão de ir além do marketing superficial e investir em serviços excecionais, experiências autênticas e designs bem pensados, juntando-lhes fatores-chave como a preocupação com a sustentabilidade e a integração de tecnologia para maximizar a personalização.

Os hotéis-dentro-de-hotéis representam uma resposta criativa à crescente procura por luxo personalizado, mas também desafiam os hoteleiros a criarem experiências autênticas. Para viajantes exigentes, este conceito pode oferecer o ápice da hospitalidade, desde que seja projetado com intencionalidade e respeito pelas expectativas de exclusividade e serviço impecável.