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Trabalhadores da dona da Visão recebem salário de janeiro. Paralisação fica sem efeito

Rafael Ascensão,

"Era também importante que este esforço que os trabalhadores estão a fazer também pudesse ser um selo de confiança de quem costuma investir na empresa", apela a comissão de trabalhadores.

Os trabalhadores da Trust in News, dona da Visão e outros títulos, receberam esta sexta-feira o salário referente ao mês de janeiro. A paralisação anunciada no início do mês fica assim sem efeito.

Recorde-se que os trabalhadores tinham decidido em plenário na semana passada que deixariam de trabalhar esta sexta-feira (dia 7 de fevereiro), caso até então não recebessem o salário e subsídio de refeição de janeiro. “Se o pagamento do salário e subsídio de refeição de janeiro não se concretizar até ao próximo dia 7 de fevereiro, os trabalhadores reservam para si o direito de tomarem a decisão que entenderem para não continuarem a trabalhar (…)”, lia-se na resolução aprovada por “ampla maioria”.

Por pagar ficou o subsídio de alimentação referente ao mês de janeiro, sendo que a comissão de trabalhadores recebeu a indicação por parte do administrador de insolvência que o seu pagamento deveria ocorrer nos próximos dias.

Nós neste momento vamos ter uma coisa na empresa que já não tínhamos há algum tempo, que é estabilidade, dentro daquilo que é possível e do que são as circunstâncias. Acho que agora o importante é as pessoas focarem-se nessa estabilidade para continuarmos a fazer o nosso trabalho, para que o desenrolar possa ser o mais positivo possível para a situação da empresa, das publicações e dos trabalhadores“, diz Rui da Rocha Ferreira, da comissão de trabalhadores, ao +M.

Segundo o responsável, “aquilo que os credores decidiram é que a empresa deve continuar a operar mais algum tempo para que se possa discutir o plano da administração anterior [de Luís Delgado] e outros que venham a aparecer num momento futuro”, sendo que isso “nunca deve acontecer antes de 20 de março“.

Aquilo que nós assumimos agora é levar a empresa até esse ponto para que os planos possam ser discutidos e depois, aí sim, perceber o que vai acontecer“, afirma.

Recorde-se que a assembleia de credores decidiu a 29 de janeiro que queria que o plano de reestruturação Luís Delgado, acionista único da empresa, fosse apresentado e votado, tendo ficado suspensa a liquidação da empresa.

A Autoridade Tributária e a Segurança Social (os principais credores) votaram a favor da apresentação do plano, enquanto a Impresa se absteve e o Novobanco votou contra, tendo ficado estabelecido que a apresentação do plano de insolvência com recuperação teria de ser apresentado dentro de 30 dias.

O plano apresentado por Luís Delgado, recorde-se, prevê como principais medidas a suspensão ou venda de oito títulos e o ajuste da periodicidade de mais quatro, a redução em cerca de 50 pessoas do quadro de funcionários e o pagamento de 40% da dívida aos credores comuns em 15 anos, com bullet (amortização única) de 60% na 150.ª prestação.

Também em dívida aos trabalhadores estão outros montantes, nomeadamente seis meses de subsídios de refeição (junho, julho, agosto, setembro, outubro e novembro), o salário de outubro (que só foi recebido por cerca de 58 trabalhadores e o restante consolidado na massa insolvente), o salário de novembro (nenhum trabalhador recebeu), o subsídio de férias (nenhum trabalhador recebeu) e parte subsídio de Natal. No entanto, estes montantes são referentes a um período anterior ao de a empresa ter sido declarada insolvente.

Embora a Trust in News esteja numa situação “mais difícil”, os “nossos compromissos com os leitores têm sido cumpridos em grande parte”, diz ainda Rui da Rocha Ferreira.

Nesse sentido, “era também importante que este esforço que os trabalhadores estão a fazer também pudesse ser um selo de confiança de quem costuma investir na empresa, porque agora mais do que nunca todos esses apoios e parcerias vão ser muito importantes, precisamente para nos ajudar a sair desta situação mais complicada“, conclui.

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