Os desafios e oportunidades da implementação da IA no jornalismo, segundo o OberCom
Perda de controlo editorial e produção de conteúdos de forma enviesada são os principais riscos apontados pelo Obercom, que vê na IA uma oportunidade de processar e análise um grande volume de dados.
Com a rápida evolução da inteligência artificial (IA) e com a sua integração nos mais diversos setores, também o panorama dos media e do jornalismo está a ser desafiado por esta tecnologia, que apresenta diversos riscos mas também oportunidades.
Desde a produção de conteúdos até à distribuição e ao consumo de notícias, multiplicam-se as possibilidades de utilização de tecnologias baseadas em IA que se estão a tornar cada vez mais sofisticadas, com a IA a apresentar-se como uma ferramenta poderosa (e potencialmente perigosa) para o jornalismo.
Perante este cenário, o Observatório de Comunicação (OberCom) lançou um relatório sobre a inteligência artificial e o seu uso e implementação no jornalismo, numa análise que “apresenta diversos estudos sobre oportunidades e riscos da aplicação desta nova tecnologia nas redações de notícias” e que tem por objetivo “fornecer uma análise crítica e abrangente da influência e implicações da IA generativa no campo do jornalismo“.
Esta análise aponta desde logo para a perda de controlo editorial sobre as notícias e o risco de os conteúdos serem produzidos de forma enviesada e imprecisa — fomentando maior desconfiança junto dos leitores –, como um dos riscos da implementação da IA generativa no jornalismo.
Nesse sentido, é destacada a necessidade de construção de regras para utilização da IA, tendo em conta as referências feitas às “alucinações” dos modelos de IA, ou seja, a prestação de informações inventadas e enviesadas, que reforçam estereótipos sociais.
Mas também a apropriação de conteúdos protegidos por direitos de autor por parte de modelos de inteligência artificial generativa suscita “consideráveis preocupações legais e éticas”, refere o OberCom. Estes modelos “são treinados para processar grandes volumes de dados (textos, fotografias, vídeos, áudios entre outros), alguns dos quais protegidos por direitos de autor, sem a permissão explícita dos detentores desses direitos”, lê-se em nota de divulgação.
Além disso, o problema do uso de dados protegidos por direitos de autor vai além de questões legais, entrando também no domínio da ética, uma vez que “os benefícios da IA são desproporcionalmente colhidos por grandes plataformas tecnológicas em detrimento dos indivíduos e das instituições que contribuem para o corpo de conhecimento global”.
Também os altos custos económicos da implementação de sistemas de IA são uma força de resistência à integração desta tecnologia no jornalismo, embora a diminuição de gastos financeiros ao substituir processos manuais por automação seja uma força de pressão para que ocorra essa implementação.
O OberCom assinala que a questão da transparência é também “fundamental”, sendo que 90% dos jornalistas considera que o uso da inteligência artificial no jornalismo deve ser tornado público.
Por outro lado, no que toca a vantagens do uso de inteligência artificial no jornalismo, aponta-se desde logo a sua capacidade de análise de grande volume de dados.
No entanto as utilizações da inteligência artificial no jornalista são diversas. Segundo o OberCom, citando um estudo de 2023 realizado pela Associação Mundial de Jornais (WAN-IFRA), esta tecnologia era sobretudo usada para a criação de textos (54%) e fazer pesquisas simplificadas (44%). No entanto, outro estudo do Reuters Institute for the Study of Journalism, que inquiriu profissionais com cargos de chefia sobre os usos mais relevantes da IA em 2024, concluiu que o uso da IA se destacava na transcrição e a revisão de texto (58%), seguindo-se a distribuição de conteúdo e recomendações personalizadas.
Entre outras aplicações desta tecnologia no jornalismo, o OberCom refere que a agência Reuters lançou em 2023 uma nova ferramenta de IA, com o objetivo de melhorar a produção e a descoberta de conteúdos em vídeo. Esta ferramenta “analisa vídeos brutos em tempo real, gerando transcrições automáticas, listas de cenas e traduções multilíngues”.
Por outro lado, a Google “está a preparar uma ferramenta que pretende auxiliar no processo de escrita de notícias, ajudando, por exemplo, os jornalistas com opções de títulos ou a adotar diferentes estilos de escrita”, refere a OberCom.
Os investigadores consideram inclusive que haverá uma procura por jornalistas especializados em interpretar e validar informações geradas por IA, o que aponta para que a IA, embora possa eliminar empregos, crie também outras oportunidades.
A procura por jornalistas “altamente qualificados em verificação de factos” (fact checking) também deverá aumentar, vaticina a OberCom, tendo em conta o aumento da produção de conteúdo online gerado artificialmente, o que potencia os riscos associados à desinformação.
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