Elétricos ganham tração em Portugal, mas carregadores “derrapam” para os grandes centros urbanos
Apesar de as vendas de carros elétricos estar a crescer, ainda há falhas no mapa de carregamentos. Metade dos postos rápidos encontram-se localizados nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto.
No ano passado, foram vendidos 41.757 viaturas elétricas em Portugal, o que representa uma subida de 15% face aos 36.390 veículos vendidos em 2023, de acordo com os dados da Associação Portuguesa do Veículo Eléctrico (APVE) fornecidos ao ECO. No entanto, apesar de os carros elétricos estarem a ganhar tração em Portugal, o número de carregadores distribuídos por território nacional ainda derrapam para as grandes cidades.
Em média, existem 87 tomadas por 100 quilómetros de estrada e 118 tomadas por 100 mil habitantes, de acordo com a Mobi.E. No entanto, 50% dos postos de carregamento rápidos encontram-se localizados nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, segundo os dados da entidade gestora da rede de mobilidade elétrica.
Adicionalmente, 101 municípios portugueses ainda não possuem estações públicas rápidas, isto é, com potência superior a 22kW, e 231 municípios não têm carregadores públicos com potência superior a 150kW, lê-se no estudo “Mobilidade Elétrica em Portugal: Onde estamos e para onde vamos?”, realizado em outubro de 2024, pela Católica Lisbon School of Business & Economics.
O secretário-geral na Associação Portuguesa do Veículo Eléctrico, Bruno Mateus, conta ao ECO que o “carregamento de veículos elétricos se realiza sobretudo em casa e no trabalho“, e destaca que o “carregamento mais rápido e ultrarrápido é mais importante, sobretudo, nas deslocações de longo curso”.
É importante que estes carregadores rápidos e ultrarrápidos, antes de mais, estejam localizados de forma estratégica nos principais eixos rodoviários, e não necessariamente em todos os municípios.
O porta-voz da associação que representa o setor considera ainda que “é importante que estes carregadores rápidos e ultrarrápidos, antes de mais, estejam localizados de forma estratégica nos principais eixos rodoviários, e não necessariamente em todos os municípios”.
Municípios mais pequenos devem incentivar operadores privados
Carlos Almeida, CEO da Evio, startup portuguesa que comercializa soluções integradas para o setor da mobilidade elétrica e de gestão de energia, explica ao ECO/Local Online que para colmatar esta lacuna devem existir apoios e incentivos para os privados instalarem postos de carregamento. “Se for atrativo, a iniciativa privada vai instalar lá postos. Caso contrário, os municípios terão um papel em promover os privados a instalar-se através de apoios e incentivos”, afirma o gestor, ex-diretor-geral da Direção Geral de Energia e também ex-diretor de Estratégia e Planeamento do CEIIA.
O líder da Evio exemplifica que “como no Porto a procura é grande, o município dá-se ao luxo de cobrar uma taxa, e cobra aos operadores por terem um posto, porque existe procura. Já um município no interior, onde ninguém quer instalar postos de carregamentos, vai ter que pagar ao operador um apoio para ele se instalar lá”. Exemplo desta diferença territorial é o da fibra ótica, que no interior contou com apoios, “caso contrário ninguém lá a instalava”, assegura.
“As entidades públicas têm que ter a inteligência e a consciência que não podem financiar a instalação de postos em Portugal inteiro. Deveriam financiar, sim, nas zonas onde a iniciativa privada não funciona, e muitas vezes são as zonas do interior”, diz Carlos Almeida.
As entidades públicas têm que ter a inteligência e a consciência que não podem financiar a instalação de postos em Portugal inteiro, deveriam financiar sim nas zonas onde a iniciativa privada não funciona, e muitas vezes são em zonas do interior.
O CEO da Evio considera ainda que o “setor empresarial é que mais impulsiona a mobilidade elétrica”e que “as gerações mais novas valorizam a sustentabilidade e acabam por penalizar as marcas que não têm uma pegada de carbono neutra“. Esta realidade “implica que as empresas apostem numa frota elétrica e que exijam fornecedores com um frota e um processo produtivo verde”, conclui o líder da Evio.
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