Marcas de distribuição desaceleram mas mantêm crescimento. É “crucial” manter um equilíbrio, alerta Centromarca
A análise da Kantar e Centromarca alerta para os "riscos de um crescimento desequilibrado das marcas de distribuição", que "pode comprometer a valorização das categorias".
Embora a um ritmo mais lento, especialmente quando comparado com 2023, as marcas de distribuição continuam a ganhar quota de mercado. Esta conquista de terreno é mais evidente junto do sortido amplo — espaços com grande variedade de produtos e marcas –, impulsionada pela intensa comparação de preços que caracteriza este segmento.
No entanto, é “crucial” manter um equilíbrio entre a oferta de marcas de distribuição e marcas de fabricante neste mesmo sortido, aponta o “Painel de Lares”, estudo que a Kantar realiza em conjunto com a Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca. As conclusões são relativas ao primeiro trimestre deste ano.
“Apesar do avanço das marcas de distribuição, os consumidores continuam a procurar estas lojas precisamente pela sua oferta diversificada em marcas e portefólios de fabricante, um fator essencial para o desenvolvimento saudável das categorias“, aponta-se em nota de divulgação do estudo.
A análise alerta ainda para os “riscos de um crescimento desequilibrado das marcas de distribuição”, que “pode comprometer a valorização das categorias“. Segundo o estudo, mais de metade das categorias onde as marcas de distribuição ganham quota em volume, “já se encontra num ponto de rutura, resultando em perdas de valor e volume para o setor”. “Em contrapartida, as marcas de fabricante revelam-se essenciais para o crescimento e premiumização, particularmente no sortido amplo, onde impulsionam a grande maioria das categorias em valorização”, acrescenta-se.
O estudo, que conta com uma amostra de quatro mil lares dispersos em mais de mil pontos de sondagem (com um nível de confiança de 95% e um erro amostral associado de 1,96%), demonstra também uma coexistência entre diferentes estratégias de retalho, onde se destaca a “crescente complementaridade” entre as lojas que apostam num sortido amplo e as que privilegiam um sortido mais curto, focado nas marcas de distribuição.
As lojas de sortido amplo iniciaram o ano a reforçar o seu posicionamento, enquanto as de sortido curto continuam a apostar na expansão e na atração de novos compradores, sendo que, no entanto, 95% do crescimento do sortido curto “vem da intensificação da compra do comprador, e não da subtração direta ao sortido amplo”.
Estes dados evidenciam que o consumidor português está “cada vez mais dinâmico e proativo”, não hesitando em percorrer distâncias maiores para encontrar o supermercado que melhor satisfaz as suas necessidades e preferências. Na verdade, quase metade dos lares portugueses (48,7%) demonstra abertura para se deslocar a lojas mais distantes, na procura por uma oferta diferenciada. Esta tendência traduz-se numa elevada taxa de ‘duplicação’ entre os diferentes tipos de sortido, com 84% dos consumidores a frequentarem tanto lojas de sortido amplo como de sortido curto, aponta o Painel de Lares.
“Este início de ano positivo é um sinal encorajador para todo o setor. Para que este dinamismo se consolide, é fundamental que retalhistas e fabricantes trabalhem em sintonia, valorizando a oferta diferenciada e a inovação que as marcas de fabricante trazem, para que possam responder a um consumidor que procura ativamente qualidade e novas propostas”, diz Pedro Pimentel, diretor geral da Centromarca, citado em comunicado.
O estudo da Kantar revela também “um cenário de crescente otimismo entre os consumidores portugueses, impulsionado pela estabilização da inflação”, denotando um “impulso generalizado na atividade de compra e novas dinâmicas na relação dos consumidores com os diferentes formatos de retalho”.
A análise aponta inclusive para “um alívio nas dificuldades financeiras dos portugueses“, com 28% dos consumidores a reportar dificuldade em gerir o orçamento familiar, numa redução de 6,4 pontos percentuais face a 2024.
Este cenário está a impulsionar um “crescimento equilibrado do consumo, tanto dentro como fora de casa”, com o consumo fora de casa a assumir um “peso crescente” nos hábitos dos portugueses, que optam cada vez mais por realizar as suas refeições principais em estabelecimentos, entrega em casa ou take-away.
Neste sentido, foi registado um crescimento de 4,8% no consumo fora de casa no primeiro trimestre de 2025, o que impacta diretamente as compras para o lar, cujo crescimento foi mais contido, na ordem dos 2,5%. “Adicionalmente, observa-se uma alteração nos padrões de compra no início do ano, sugerindo uma inversão da tendência anterior de idas mais frequentes às lojas com cestas menores, uma estratégia do consumidor para controlar os gastos”, aponta-se na nota de divulgação do estudo.
Marta Santos, clients and analytics director da Kantar, refere que se está a observar “uma evolução natural e saudável do mercado retalhista, onde diferentes formatos encontram o seu espaço e se complementam”. “Esta dinâmica cria um cenário ‘win-win‘, em que para um ganhar não é necessário que o outro perca, beneficiando não só os operadores, mas, fundamentalmente, o consumidor, que ganha em diversidade e opções de escolha”, acrescenta.
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