Outdoors da MOP, JCDecaux e DreamMedia com publicidade a crédito fraudulento
Esquema ilícito publicitado em outdoors 'vende' uma suposta concessão de crédito, usurpando a identidade do DNB Bank. Empresas do setor viram-se envolvidas, difundido os anúncios.
As maiores empresas de publicidade exterior do país difundiram anúncios fraudulentos relativos a uma suposta concessão de crédito por parte de uma entidade que se fez passar pelo DNB Bank, banco de origem norueguesa que realmente existe e que teria começado a operar em Portugal. Os três principais players em Portugal, JCDecaux, MOP e DreamMedia, viram-se envolvidos no esquema.
A DreamMedia diz que, efetivamente, difundiu estes anúncios nos seus suportes publicitários mas que, detetada a suspeita de inconformidades, “em menos de uma hora” procedeu à sua suspensão e denunciou a situação às autoridades. Também questionadas, JCDecaux e MOP não responderam às questões do +M. No caso da DreamMedia, a publicidade foi comprada diretamente (e não via agência de meios), mas nas restantes operadoras não foi possível apurar.
“A DreamMedia informa que, efetivamente, recebeu uma solicitação comercial para a divulgação dos anúncios publicitários em questão, sendo certo que a campanha publicitária foi enviada para a sua sala de controlo, sendo inserida na respetiva plataforma de exibição. Contudo, a sua difusão foi automaticamente suspensa pelo sistema de controlo interno, em menos de uma hora após a sua inserção, uma vez que foi acionado, de forma automática, o sistema de alertas, por suspeita de inconformidades”, refere fonte oficial da empresa.
Após esta suspensão da difusão dos conteúdos, “foi acionado o departamento de compliance que, após análise aos elementos que lhe foram disponibilizados, concluiu que subsistia uma elevada probabilidade de prática de atividade fraudulenta”, pelo que a empresa liderada por Ricardo Bastos determinou a “não difusão dos conteúdos”.
“Assim que foi detetada a possibilidade de se tratar de um esquema ilícito, a DreamMedia denunciou, de imediato, a situação junto da Procuradoria-Geral da República, do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, da Polícia Judiciária, do Banco de Portugal e da CSSF (Commision de Surveillance du Secteur Financier)”, refere ainda a empresa, que “sublinha a importância de uma vigilância permanente perante a crescente sofisticação dos esquemas fraudulentos, tanto na sociedade em geral como no setor da publicidade em particular”.
Mas nem todos os conteúdos terão sido retirados de forma tão célere. Pedro Maia foi uma das pessoas que se cruzou com estes anúncios fraudulentos, pelo menos nos dias 24 e 25 de abril, dentro das carruagens do Metro de Lisboa, cuja publicidade está concessionada à MOP. Já tendo trabalhado no ramo do marketing, pelo que tem “alguma facilidade” em identificar amadorismo, diz ao +M que o anúncio estava “muito bem feito”, que tinha um “ar profissional” e que “nada indicava que seria uma fraude“.
O anúncio era dotado de um “design típico” de instituições bancárias e oferecia a concessão de créditos de valores entre cinco e 900 mil euros a particulares e empresas. Incluía também um QR Code para uma landing page — através do domínio “eurodnb.com”, que entretanto já se encontra à venda –– onde se explicava como o banco trabalha e como funcionaria o empréstimo, onde se dava exemplos de pessoas e se disponibilizava um pequeno formulário a ser preenchido com os dados de contacto, montante de crédito pretendido.
“Até aqui poderia dizer que se tratava efetivamente de um banco, estava aceitável. Depois é que começou a ser muito amador, quando comecei a receber emails. Indicavam também para contactar alguém, com um número brasileiro, através do WhatsApp, mas depois recebi mensagens de mais outros três números brasileiros. Era confuso, parecia que não havia comunicação do outro lado, todos pediam as mesmas coisas”, relata Pedro Maia.
“O discurso era que conseguiam oferecer este tipo de empréstimo, usado no estrangeiro, através de um seguro especial que dava cobertura através de 6% do valor do empréstimo — 5% antes de iniciar e 1% depois de o dinheiro entrar na conta”, acrescenta.

Já não estando a dar atenção à questão, passada uma semana, Pedro Maia recebeu mais uma mensagem e aí sim teve a confirmação que se tratava de uma fraude: a mensagem incluía, no fim, uma frase tipicamente dada pelo ChatGPT. Por WhatsApp recebeu também dois vídeos com pessoas a testemunhar a favor do banco e da sua concessão de crédito e a falar português de Portugal. No entanto, o amadorismo voltava a estar presente, pois tratava-se de pessoas que se tinham gravado com o telemóvel, sem que os vídeos fossem trabalhados ou editados.
Pedro Maia também estranhou que, nos emails, fosse sempre frisado que se tratava de uma instituição credível. “Tentavam sempre expor-se como uma entidade credível, o que de início até podia ser aceitável, por serem um suposto novo player no mercado, mas depois tornou-se mais estranho até pelo amadorismo“. Procurou também notícias sobre a chegada do banco a Portugal e pelos profissionais que assinavam os emails, não obtendo resultados.
Pedro Maia, que cedo percebeu que se tratava de um esquema, reconhece mesmo assim que “estava com as defesas mais em baixo porque a publicidade apareceu no Metro de Lisboa, onde achamos que é feito um filtro”.
Entretanto, no início de maio, o Banco de Portugal (BdP) alertou para a existência de uma “entidade não habilitada a desenvolver serviços de concessão de crédito em Portugal: https://eurodnb.com/ e [email protected]”.
“O Banco de Portugal tomou conhecimento de que a entidade que atua através da página na internet https://eurodnb.com/ e do email [email protected], está a publicitar, nomeadamente através de ‘outdoors’, a atividade de concessão de crédito, apesar de não estar habilitada a exercer, em Portugal, qualquer outra atividade financeira reservada às instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal”, referia o BdP em comunicado.
O próprio site do DNB Luxembourg, que se tentou imitar no esquema de fraude, apresenta uma frase de alerta na sua primeira página. “Informamos que estamos cientes de que existem tentativas de fraude em andamento contra cidadãos em Portugal e no Brasil. Não oferecemos empréstimos a clientes pessoais nesses países”, esclarece a instituição.
Recorde-se que, segundo o Código da Publicidade, “os anunciantes, as agências de publicidade e quaisquer outras entidades que exerçam a atividade publicitária, bem como os titulares dos suportes publicitários utilizados ou os respetivos concessionários, respondem civil e solidariamente, nos termos gerais, pelos prejuízos causados a terceiros em resultado da difusão de mensagens publicitárias ilícitas”.
O decreto-lei publicado em Diário da República refere ainda que “são punidos como co-autores” das contra-ordenações relacionadas com publicidade enganosa “o anunciante, a agência de publicidade ou qualquer outra entidade que exerça a atividade publicitária, o titular do suporte publicitário ou o respetivo concessionário, bem como qualquer outro interveniente na emissão da mensagem publicitária”.
Entretanto, contactado pelo +M já no final da última semana, o Metro de Lisboa respondeu, já após a publicação do artigo, que “a gestão dos espaços publicitários existentes na rede – estações e postaletes superiores no interior dos comboios – está concessionada à empresa Publimetro, S.A”, que pertence a MOP.
Assim, “contratualmente é da exclusiva responsabilidade da concessionária avaliar e garantir que as campanhas publicitárias patentes no Metropolitano de Lisboa cumprem as devidas exigências legais e éticas, pelo que o Metropolitano de Lisboa não intervém diretamente na escolha das campanhas publicitárias, nem valida o respetivo conteúdo ou a identidade das entidades anunciantes”.
Artigo atualizado com resposta do Metro às 12h22
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