Trabalhadores da dona da Visão avançam para greve por falta de pagamento do ordenado
Caso os salários em atraso e o subsídio de férias sejam pagos, os trabalhadores admitem desconvocar a greve. Luís Delgado diz que "tudo será feito para liquidar com urgência" os pagamentos em atraso.
Os trabalhadores da Trust in News (TiN), dona da Visão, da Caras ou da Exame, decidiram avançar para uma greve por tempo indeterminado. O aviso de greve é alargado a todos os profissionais da empresa, incluindo jornalistas.
Em causa, está o atraso no pagamento do ordenado do mês de maio e respetivo subsídio de alimentação e ainda 20% do ordenado de abril.
Reunidos esta sexta-feira, os trabalhadores aprovaram então recorrer à greve, tal como tinham avisado que fariam caso os ordenados não fossem pagos até hoje, dia 6. A decisão foi aprovada por 47 dos 59 trabalhadores presentes no plenário. Ou seja, presentes estiveram cerca de dois terços dos trabalhadores da Trust in News (TiN), que tem atualmente 93 pessoas.
“Compreendo. Aceito. Estão a utilizar o seu direito”, comenta ao +M Luís Delgado, que vai retomar, por decisão dos credores — já aprovada em tribunal, mas ainda não transitada em julgado — gestão da empresa nas próximas semanas. Quanto a previsões de pagamento, Luís Delgado afirma que “tudo será feito para liquidar com urgência” os pagamentos em atraso.
Ainda por determinar está o dia em que os trabalhadores vão efetivamente entrar em greve, uma vez que, legalmente, o pré-aviso tem de ser entregue com cinco dias úteis de antecedência e a próxima semana é marcada por dois feriados. A questão ainda está, por isso, a ser vista pelos juristas, devendo a data ser avançada ao final desta tarde, apurou o +M.
Aos trabalhadores foi ontem (quinta-feira) comunicado que não havia dinheiro para efetuar os pagamentos dos salários pendentes dos atuais cerca de 90 trabalhadores da empresa, número que espelha a saída de cerca de metade dos 200 trabalhadores que integravam os seus quadros há cerca de um ano.
Caso os salários em atraso sejam eventualmente liquidados, assim como seja pago o subsídio de férias — uma vez que alguns trabalhadores já estão a gozar ou prestes a gozar o seu maior período de férias –, os trabalhadores admitem desconvocar a greve. Tal só deverá ser possível com a injeção de capital por parte do acionista único da empresa, Luís Delgado.
O plano de recuperação da empresa, apresentado por Luís Delgado e aprovado por 77% dos credores em maio, prevê a injeção de até 1,5 milhões de euros pelo acionista único. Segundo o documento, a TiN propôs aos credores um “compromisso de aporte de até 1,5 milhões de euros, faseadamente, e em função das necessidades da empresa para reforçar a tesouraria”, por parte do acionista único. Até agora, foram injetados cerca de 180 mil euros.
O plano mantém ainda a intenção de suspender, licenciar ou vender publicações deficitárias como TV Mais, Telenovelas, Caras Decoração, Prima, Visão Saúde, Visão Surf e This is Portugal, sendo que, “com exceção da Telenovelas, todas as outras publicações já estão suspensas”. Prevê ainda um ajuste na periodicidade, se necessário, de algumas revistas, mantendo apenas as mais rentáveis, além da redução de 70% do espaço físico (50% já foi reduzido) e o encerramento da delegação no Porto.
Será ainda reduzido “o quadro de funcionários, proporcional à suspensão de publicações, com reestruturação interna”. Quanto ao pagamento das dívidas proposto, será faseado, no caso da AT e ISS em 150 prestações, além de um “plano de pagamento de 12 a 15 anos para credores comuns e garantidos” e da “possibilidade de permuta de publicidade para pagamento de parte das dívidas”.
Para aumentar receitas, o plano prevê o “aumento de assinaturas digitais e melhoria da plataforma de e-commerce, parcerias estratégicas com outros grupos editoriais”, a “exploração de novos formatos de conteúdo, como podcasts e vídeos”, e o “licenciamento de marcas para gerar receita adicional”.
Quanto ao impacto desta reestruturação, a empresa aponta uma “melhoria gradual da rentabilidade, com um retorno a resultados positivos esperado a médio prazo”, evitando a liquidação da empresa e “preservando postos de trabalho e ativos”. Ficará, segundo o plano, ajustado “o modelo de negócio para um formato mais sustentável, alinhado às tendências digitais”, garantindo ainda o “pagamento aos credores, comparativamente a um cenário de liquidação, onde muitos não receberiam os seus créditos”.
O plano prevê também a “criação imediata de uma task force com dois diretores editoriais, diretora comercial, diretora financeira e diretor de recursos humanos, com a tarefa de reanalisar todos os custos e contratos passíveis de serem renegociados ou cessados, sem qualquer penalização para a empresa, e apresentar medidas e sugestões para aumentar as receitas, tendo em conta os recursos existentes” e os melhores exemplos nacionais e internacionais. As sugestões deste órgão “serão implementadas após aprovação da gerência e do administrador da insolvência”.
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