Grupo de jornalistas da Visão tenta salvar o título. Pedem para manter revista em funcionamento e a convocação de nova assembleia de credores
A direção da Visão pede ao tribunal que o título continue a ser editado até uma nova assembleia de credores ou a venda da revista. Administrador de insolvência concorda, mas não garante ordenados.
“Enquanto estivermos unidos, há caminho que pode ser trilhado. Não é altura de atirar a toalha ao chão“. É desta forma que Rui Tavares Guedes, diretor da Visão, resume o que move o grupo de jornalistas que tenta manter o título em funcionamento, apesar do plano de insolvência apresentado pela Trust in News (TiN) não ter sido homologado pelo tribunal – tendo sido determinado o encerramento da atividade da empresa –, e de o administrador de insolvência ter comunicado na última sexta-feira o despedimento coletivo dos cerca de 80 trabalhadores, dando sequência ao que foi decretado pelo tribunal.
A decisão de não homologação do plano de insolvência ainda não transitou em julgado. Luís Delgado anunciou que ia recorrer. O administrador de insolvência, André Correia Pais, avançou com um despedimento com um pré-aviso que oscila entre os 30 e os 75 dias – dependendo da antiguidade dos trabalhadores –, e não com suspensão imediata dos postos de trabalho.
E um grupo de 11 jornalistas da Visão, entre os quais três elementos da direção, quatro editores e dois grandes repórteres, entregou na sexta-feira, no tribunal de Sintra, um requerimento para que o título possa continuar em funcionamento.
Ganhar tempo é a palavra de ordem, e por duas ordens de razão. Por um lado, para o título não perder valor deixando de ser editado, por outro, para que se tente arranjar uma solução para uma marca que, acreditam, é viável, explica ao +M Rui Tavares Guedes.
Como avançou no domingo o Expresso, os 11 jornalistas pedem que a juíza convoque nova assembleia de credores, de forma a ratificar o plano de insolvência, retirando-lhe a cláusula que foi considerada ilegal e, dessa forma, viabilizando o plano. A juíza, recorde-se, entendeu que o plano, apesar de aprovado por 77% dos credores, não era equilibrado, justamente para estes.
“Temos forçosamente de concluir que o plano em análise, ao prever a afetação do montante dos direitos dos credores da insolvência e ao suspender a sua eficácia junto dos garantes, enquanto o plano de insolvência for cumprido pela devedora principal (…) viola o regime jurídico das garantias pessoais (avais) composto por normas de natureza imperativa consagradas na Lei Uniforme relativa a Letras e Livranças”, lia-se no acórdão, ao qual o +M teve acesso.
“A decisão de V. Exa. – caso se mantenha – determinará o encerramento de vários órgãos de comunicação social, com presença histórica no país, entre eles, a revista Visão e o Jornal de Letras; serão extintos postos de trabalho; deixarão de ser publicados os jornais e revistas pertencentes à Insolvente; e corre-se o risco de se inviabilizar qualquer projeto futuro que envolva tais títulos”, escrevem por seu turno agora os jornalistas ao tribunal, acrescentando que “é certo que, mais tarde, talvez daqui a alguns anos, algum desses títulos, entretanto adquirido, possa vir a ser utilizado; mas, mesmo que isso venha a acontecer, o seu legado histórico já não sobreviverá”.
Rui Tavares Guedes e os restantes subscritores do requerimento acreditam que alguns desses títulos “mantêm projetos sustentáveis, que podem sobreviver, porque têm receitas suficientes para singrarem com uma estrutura de custos reconfigurada”, pelo que é do interesse dos credores que a venda dos títulos se faça com a melhor contrapartida financeira possível.
“Ora, é completamente diferente vender títulos de jornais que já não estão nas bancas, do que vendê-los tendo por suporte uma publicação que mantenha atividade, espaço e prestígio junto do público”, escrevem no ponto nove do documento, garantindo que a diferença é de “8 para 80”.
“No caso da Visão, o seu cenário atual permite identificar proveitos na casa dos 170 mil euros, com custos na ordem dos 223 mil, os quais, porém, poderão ser imediatamente (ou quase imediatamente – num futuro relativamente curto) reduzidos a um nível que permita rentabilidade positiva, tudo nos termos de um plano que nesta data se dá conhecimento ao Administrador da Insolvência para a devida apreciação pelo mesmo”, garantem no requerimento ao qual o +M teve acesso.
Os jornalistas acrescentam ainda que “há jornalistas interessados em dar corpo a esse projeto” e a manutenção da atividade da Visão é do interesse da Autoridade Tributária e da Segurança Social, “através da posição manifestada pelos próprios”.
Assim, os subscritores pedem que seja marcada nova assembleia de credores para votar o plano de insolvência sem a cláusula que ditou a sua não homologação ou, em alternativa, “autorização para que, até à venda do título da Visão, a revista se possa manter em funções, sob a égide do Administrador de Insolvência”.
“Os leitores têm-nos dado muito ânimo e temos recebido muitas manifestações de apoio. Vamos tentar manter a revista e não deixar cair o título. É isto que estamos a tentar fazer. Há aqui também um lado de missão, o jornalismo defende-se a fazer jornalismo”, argumenta o diretor da Visão, recusando baixar os braços.
Também contactado pelo +M, André Pais Correia, o administrador de insolvência, admite reforçar junto do tribunal pedido feito pela direção e editores da Visão, dando maior argumentos para a realização de nova assembleia geral de credores.
No imediato, a edição desta semana está a ser preparada, estando previsto que chegue às bancas, confirma tanto o diretor da Visão como o administrador de insolvência, que terá de dar a ordem de impressão à gráfica.
Entretanto, recorde-se, o Sindicato dos Jornalistas revelou este domingo que a Trust in News comunicou na sexta-feira o despedimento coletivo dos 80 trabalhadores do grupo, pedindo-lhes para “continuarem a trabalhar sem receber”.
“A direção do Sindicato dos Jornalistas (SJ) foi confrontada com a dramática notícia do despedimento, sexta-feira, 25 de julho, de todos os trabalhadores do grupo Trust in News (TiN)”, lê-se num comunicado divulgado este domingo.
De acordo com o sindicato, este “é um desfecho que começou a desenhar-se há meses e cujos reais contornos devem ser apurados em todas as dimensões, desde a jornalística, à económica, financeira, política e até judicial”. No comunicado, o SJ apontava a “postura incompreensível e intolerável” do administrador de insolvência da TiN, que quando entregou, presencialmente, o pré-aviso de despedimento aos cerca de 80 trabalhadores da empresa, lhes pediu “que continuassem a trabalhar para manter vivos os títulos, com o argumento de gerar receita, apesar de não ser dada qualquer garantia de remuneração”.
“Teme o SJ que se esteja a preparar uma venda a preço de saldo, sem ‘o inconveniente e o incómodo’ de existirem pessoas a quem pagar salários e garantir direitos”, sustentava o comunicado do sindicato.
André Correia Pais nega que tenha sido assim. “Foi pedido por alguns trabalhadores a manutenção da atividade. O que respondi é que ia tentar fazê-lo, mas que não podia garantir o pagamento de salários“, reforça em declarações ao +M, remetendo também para o requerimento do grupo de jornalistas da Visão.
Quanto à hipotética venda dos títulos, e apesar de “o caminho estar aberto desde dia 18 de julho”, André Correia Pais diz que têm existido algumas tentativas de contacto, “muito básicas e exploratórias”. Propostas que que mostrem um Interesse efetivo, garante, não existem.
Se o plano de insolvência não avançar, marcas como Visão, Jornal de Letras, Exame ou Ativa podem ser vendidas em separado ou em bloco. Podem ainda ir a leilão.
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