Porsche Taycan 4 Cross Turismo: Elegância com o coração de um foguete

Porsche Taycan 4 Cross Turismo: Elegância com o coração de um foguete

Luís Leitão,

A elegância silenciosa deste elétrico do cavalo de Stuttgart prova que a adrenalina não precisa de gasolina quando a engenharia decide desafiar a física com classe e 610 Nm de binário.

Há carros que nascem para serem especiais. Outros para serem úteis. E depois há aqueles que nos fazem questionar se realmente precisamos de combustível para ter adrenalina. O Porsche Taycan 4 Cross Turismo (CT) conduzido pelo ECO é claramente desta última categoria — um elétrico que faz barulho apenas com o seu silêncio.

Entre Lisboa e a costa do Estoril, este alemão eletrificado demonstrou que a alma desportiva da Porsche pode dispensar o escape para se expressar com toda a força e que é surpreendentemente prático, representando muito mais do que apenas mais um elétrico no mercado. É o regresso da marca às suas verdadeiras origens históricas.

O nome Taycan deriva de dois termos turcos: “tay” (potro ou cavalo jovem) e “can” (vida ou vitalidade), uma referência ao cavalo do brasão de Stuttgart. Curiosamente, o primeiro automóvel projetado por Ferdinand Porsche, em 1898, era… 100% elétrico. Quem diria que 127 anos depois, a marca voltaria às origens de forma tão espetacular.

A família Taycan foi apresentada pela primeira vez como conceito “Mission E” no Salão de Frankfurt de 2015, chegando à produção em 2019, com o Cross Turismo a juntar-se ao portefólio em 2021. Hoje, a gama Taycan carrega 11 modelos – todos elétricos -, que começam nos 108 mil euros e terminam no emblemático Turbo GT com pacote Weissachs disponível a carteiras acima dos 250 mil euros.

O primeiro contacto ao volante do 4 Cross Turismo numa manhã solarenga em Lisboa é de estar numa nave espacial muito bem decorada. Três monitores dominam o cockpit — um curvo de 16,8 polegadas para o condutor, outro de 10,9 polegadas no centro com toda a panóplia de infotainment e um terceiro de 8,4 polegadas dedicado ao passageiro. Os bancos em pele lisa preta, com ajustes elétricos de 14 vias, abraçam o condutor e o pendura como um fato bem talhado. A ergonomia é exemplar, com todos os comandos ao alcance natural dos dedos, enquanto a qualidade dos materiais transmite a solidez alemã que se espera da marca, desde o volante até aos detalhes em alumínio escovado das soleiras iluminadas.

O que mais impressiona logo nos primeiros minutos é o silêncio. O habitáculo é tão silencioso como uma biblioteca, com uma insonorização de primeira qualidade que faz com que o único som audível seja o da nossa própria respiração. Esta quietude inicial, contudo, é rapidamente esquecida assim que o acelerador é pisado pela primeira vez.

Saindo de Lisboa pela A5 em direção ao Estoril, o Taycan mostra imediatamente as suas credenciais. Com 435 cavalos e 610 Nm de binário disponíveis de forma instantânea, a aceleração é poderosa mas refinada, cumprindo em apenas 4,7 segundos dos 0 aos 100 quilómetros. É potência com educação, como deve ser num Porsche.

E para os nostálgicos do rugido dos motores a gasolina, a Porsche oferece o sistema opcional “Electric Sport Sound”, que emite um som artificial de motor de combustão ativado automaticamente em modos de condução mais desportivos. Apesar de não ser exemplar, dá para matar o “bichinho” dos amantes da banda sonora mecânica.

Além da potência, há ainda a suspensão pneumática adaptativa que consegue o equilíbrio perfeito entre conforto e desportividade, deslizando como um tapete voador na autoestrada, mas preparando-se para revelar a sua verdadeira personalidade assim que as estradas ficam mais interessantes. É precisamente nas estradas sinuosas entre a Boca do Inferno e a praia do Guincho que o Cross Turismo mostra porque é que ainda há futuro para a diversão automóvel, mesmo num mundo eletrificado.

O Taycan 4 Cross Turismo não é apenas uma conversão forçada de um carro a combustão (desde logo por ter sido pensado desde raiz para ser elétrico), mas é o futuro da mobilidade premium sem perder a alma desportiva que fez da Porsche uma lenda.

O sistema de tração integral e o PTV Plus (Porsche Torque Vectoring Plus) fazem milagres na aderência. Cada curva é tomada com uma confiança quase insolente, enquanto o eixo traseiro direcional facilita não só as manobras em espaços apertados, mas principalmente faz o carro parecer mais compacto do que realmente é, girando em torno do condutor com uma agilidade surpreendente.

Contrariamente ao que o design baixo e desportivo sugere, este Porsche revela-se também prático no dia-a-dia. A bagageira oferece 446 litros, expandindo para 1.212 litros com os bancos traseiros rebatidos, e há ainda um frunk (bagageira frontal) de 81 litros — perfeito para guardar os cabos de carregamento. Todavia, os bancos traseiros acabam por revelar o único compromisso real do Cross Turismo. Passageiros com mais de 1,80m poderão sentir-se algo espremidos, especialmente na altura da cabeça — é o preço a pagar pelo design desportivo.

No capítulo da autonomia, a bateria Performance Plus de 97 kWh oferece 578 quilómetros de autonomia combinada. Em condução mais vigorosa pelas serras do Estoril e alguns passeios pela cidade, a autonomia baixou para cerca de 470 quilómetors — ainda assim respeitável para quem gosta de aproveitar a potência disponível. O carregamento rápido a 320 kW promete recarregar de 10% a 80% em apenas 18 minutos, embora encontrar um carregador com essa potência ainda seja um desafio em Portugal.

Apesar de todo este refinamento, nem tudo são rosas neste alemão eletrificado. O sistema de infoentretenimento, embora tecnologicamente impressionante, por vezes peca por excesso de complexidade. Funções básicas como o ar condicionado exigem demasiados toques no ecrã. Mais preocupante é o preço: este exemplar, com as opções instaladas, custaria 162.068 euros. É verdade que estamos a falar de um Porsche elétrico de alto desempenho, mas o valor ainda assim faz pensar duas vezes.

Depois do ensaio pelas estradas entre Lisboa e o Guincho, o Taycan 4 Cross Turismo consegue algo raro: ser simultaneamente um Porsche genuíno e um elétrico convincente. Não é apenas uma conversão forçada de um carro a combustão – foi pensado desde raiz para ser elétrico, e isso nota-se em cada detalhe. É o futuro da mobilidade premium, mas sem perder a alma desportiva que fez da Porsche uma lenda.

Para quem procura um elétrico sem compromissos na diversão de condução, este alemão eletrificado é uma excelente carta de apresentação do que aí vem. O único barulho que faz é o do vento e o dos suspiros de prazer de quem o conduz.

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