A nova onda de inovação na Europa

  • Céu Carvalho
  • 6 Setembro 2022

A Comissão Europeia adotou recentemente uma Nova Agenda Europeia para a Inovação, com o objetivo de posicionar a Europa na vanguarda do panorama mundial de inovação.

A União Europeia (UE) apresenta um longo e robusto percurso na área da inovação e da investigação e desenvolvimento (I&D), ocupando uma posição de destaque a nível mundial em termos de produção científica e tecnológica, sendo responsável por cerca de 18% dos investimentos em I&D, 21% das publicações científicas mais citadas, assumindo-se, ainda, como líder mundial no domínio do clima, com 23% do número total de pedidos de patentes.

Contudo, nos últimos anos esta posição de destaque da UE tem sido fragilizada devido à perda de dinamismo empresarial provocada pela crise decorrente da pandemia do coronavírus e do conflito russo-ucraniano, com graves consequências em termos de inovação e crescimento económico e, ainda, pelo facto de outras geografias parceiras comerciais da EU terem acelerado o seu desempenho em matéria de inovação.

Neste contexto, e com o objectivo de dar um boost nesta área foi elaborada uma Nova Agenda Europeia para a Inovação – apresentada pela Comissão Europeia no passado mês de Julho –, a qual visa colocar a Europa na vanguarda de uma nova vaga de inovação relacionada com a “tecnologia profunda”. Esta nova vaga de inovação está a ser impulsionada por um grupo crescente de empresas emergentes inovadoras que ambicionam introduzir um elevado grau de inovação em todos os sectores da sociedade, com vista a dar resposta aos desafios sociais mais prementes, como as alterações climáticas e as ciber-ameaças. A Europa reforçará, assim, o seu papel na definição das transições ecológica e digital.

No âmbito desta Nova Agenda foram identificadas 25 acções específicas no âmbito de cinco iniciativas emblemáticas que representam os principais domínios de intervenção para o futuro da inovação na Europa, tendo como principais objectivos:

  • Melhorar o acesso ao financiamento para empresas europeias emergentes e em expansão através, por exemplo, da mobilização de fontes inexploradas de capital privado e da simplificação das regras de cotação em bolsa;
  • Permitir que as empresas experimentem novas ideias melhorando as condições dos ambientes de testagem da regulamentação;
  • Contribuir para a criação de “vales de inovação regionais” que reforçarão e ajudarão a conectar os intervenientes na inovação em toda a Europa, incluindo nas regiões menos desenvolvidas, canalizando fundos para projectos concretos de inovação inter-regional;
  • Atrair e reter talentos na Europa, nomeadamente através da formação de um milhão de talentos no domínio da tecnologia profunda, do aumento do apoio às mulheres inovadoras e da inovação nas opções de compra de acções pelos trabalhadores de empresas emergentes;
  • Melhorar o quadro político através de terminologia, indicadores e conjuntos de dados mais claros, bem como do apoio político aos Estados-Membros.

Pretende-se que as iniciativas previstas sejam aplicadas de forma conjunta e transversal a todos os sectores de actividade de modo a alavancar os pontos fortes de um mercado único, com uma robusta base industrial e de talentos, com instituições estáveis e sociedades democráticas. Apenas desta forma será possível impulsionar esta nova onda de tecnologia profunda e estabelecer parcerias globais e duradouras.

De facto, tendo em consideração (i) a liderança europeia no domínio da ciência, (ii) a sua solidez da base industrial e o crescente dinamismo do ecossistema de start-ups, (iii) as condições de enquadramento ambiciosas, propícias à inovação no mercado único e, ainda, (iv) a reserva de talentos existente, torna-se indubitável que a UE apresenta o potencial necessário para que, num futuro próximo, possa assumir a liderança mundial no que diz respeito à inovação na área da tecnologia profunda.

No entanto, para atingir este objectivo de liderança é imprescindível que exista um esforço coordenado de todos os agentes de inovação europeus, com vista a resolver problemas de longa data, como as dificuldades de acesso ao financiamento, a existência de quadros regulamentares avessos à inovação, o fosso persistente entre as empresas mais dinâmicas e as que evoluem mais lentamente e a dificuldade em atrair e reter talentos.

Nota: Os pontos de vista e opiniões aqui expressos são os meus e não representam nem refletem necessariamente os pontos de vista e opiniões da KPMG.

A autora, por opção própria, escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico.

  • Céu Carvalho
  • Partner da KPMG

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