Guardiões da Serra da Estrela defendem “uma visão diferente para o futuro”
A Associação Guardiões da Serra da Estrela exige “uma visão diferente para o futuro” no âmbito da intervenção que vai ser realizada na recuperação da área ardida do Parque Natural da Serra da Estrela.
Um mês depois do início do incêndio que destruiu mais de 25 mil hectares, a Associação Guardiões da Serra da Estrela afirmou que não é preciso uma “esmola” para salvar a Serra da Estrela, mas sim “uma nova visão nacional”, e valorizar aquilo que ela dá aos dez milhões de portugueses “e não às 30, ou 40 ou 50 mil pessoas que ainda vivem dentro do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE)”.
Manuel Franco, da direção da associação, disse à agência Lusa que espera que haja “uma visão diferente para o futuro” da região, porque “não se pode voltar ao mesmo”. Mais, reiterou: “Temos que fazer da proteção do património natural um desígnio nacional, porque é dele que depende a nossa água, o nosso ar, o nosso bem-estar”.
Segundo o responsável, “não pode ser corrigir, reparar o que foi destruído. Tem que ser mais do que isso. Tem que ser um repensar e um novo olhar para aquilo que deve ser o PNSE e a colaboração e o contributo da comunidade agropastoril para essa sustentabilidade do PNSE”.
Para Manuel Franco “não é com turistas a tirar fotografias, mais sim, optando por comer queijo de ovelha em vez de comer queijo de vaca e em vez de comer queijo flamengo. É optando, muitas vezes, por pôr azeite no pão em vez de pôr manteiga” que se pode ajudar os pastores. “Com isso estamos a moldar paisagens, a apoiar indústrias e, neste caso, a indústria agropastoril tradicional e extensiva da serra da Estrela”, rematou.
Ainda sobre o plano que o Governo vai gizar para o PNSE, o responsável espera que “tenha uma visão de médio e longo prazo, exequível e sustentada nas comunidades” e que olhe “para uma serra multifacetada”. Segundo Manuel Franco, “a serra está como está hoje, porque perdeu o valor para as comunidades e, ao perder o valor, perdeu função e gestão de território”.
Manuel Franco referiu ainda que a Serra da Estrela, ao contrário de outros Parques Naturais, “sempre foi, na sua esmagadora maioria, um território humanizado, aonde o homem fez sempre parte intrínseca de um ecossistema que esteve equilibrado durante milhares de anos e funcionando de forma muito natural e simbiótica”. Aliás, sustentou: “É essa relação entre a atividade humana e o património natural único da serra da Estrela que queremos que seja reencontrada através do multiuso da serra”.
O que, defende, obriga a uma visão que vá “muito para além” dos ciclos eleitorais e autárquicos ou dos quadros de financiamento. “Implica, efetivamente, uma visão a 40 ou 50 anos e um empenhamento nessa visão”, concluiu o elemento da Associação Guardiões da Serra da Estrela que tem sede na Covilhã, no distrito de Castelo Branco.
A serra da Estrela foi afetada por um incêndio que deflagrou a 6 de agosto em Garrocho, no concelho da Covilhã, distrito de Castelo Branco, e que foi dado como dominado a 13. O fogo sofreu uma reativação no dia 15 e foi considerado novamente controlado na noite de 17 desse mesmo mês. As chamas propagaram para o distrito da Guarda, nos municípios de Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira, e atingiram ainda o concelho de Belmonte, no distrito de Castelo Branco.
No dia 25, o Governo aprovou a declaração de situação de calamidade para o PNSE, afetado desde julho por fogos, conforme pedido pelos autarcas dos territórios atingidos. A situação de calamidade foi já publicada em Diário da República e vai vigorar pelo período de um ano, para “efeitos de reposição da normalidade na respetiva área geográfica”.
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