Ministra recusa descentralizar “de um dia para o outro” instituições “enraizadas em Lisboa”
No Parlamento, Ana Abrunhosa reconheceu ainda que os alertas de Marcelo sobre as CCDR são "muito pertinentes", mas passar "áreas em reestruturação” para as CCDR não era "o ideal”.
Em Portugal, 40% dos apoios do Estado são dados a 20% da população e só 11% são dados aos mais pobres, segundo os dados publicados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento económico (OCDE). Para a ministra da Coesão, confrontada pelo PSD com estes dados no Parlamento, as decisões são tomadas com base em “escolhas políticas”, e “não produtividade”.
“Não podemos falar para os territórios só quando andamos em campanha ou fazemos programas de Governo”, sublinhou. “É essa a minha postura e serei consequente com a mesma”, garantiu a responsável na Comissão de Economia e Obras Públicas, acrescentando que, quando anda pelo país, “a cara que [leva] é a da coesão e da defesa do território”.
“Portugal continua a ser um dos países mais centralistas, de acordo com a OCDE, com base no peso dos municípios na despesa pública”, reconheceu Ana Abrunhosa. “A descentralização pode ser um fator de coesão e os bons exemplos no território têm sempre associada uma instituição de ensino superior”, explicou recusando a dicotomia entre investigação fundamental e aplicada.
E se a “presença da Administração Pública no interior é fundamental porque leva famílias”, a ministra da Coesão “tem dificuldade em acreditar o sucesso” da sugestão da Iniciativa Liberal, de passar instituições “enraizadas em Lisboa de um dia para o outro”.
Ana Abrunhosa deixou ainda a garantia de que está “muito confortável” com o processo que leva a uma reorganização dos serviços no âmbito das CCDR, mas também dos próprios serviços”. “É muito fácil falar de descentralização, a passagem de competências da Administração Central para a regional, mas depois todos querem o Ministério seja ao lado”, ironizou a responsável. “Será sempre um processo imperfeito”, reconheceu.
“O diploma tem um calendário dos serviços que vão já passar”, como os da agricultura, o que acontecerá nos próximos 60 dias. Mas outros serviços, como os da cultura, competências de ordenamento do território, economia ou conservação da natureza, o prazo poderá ir até março de 2024, precisou.
“O que não tem é o calendário de outros serviços com os quais também estamos comprometidos em passar”. E foram essas áreas que levaram o Presidente da República a colocar questões “muito pertinentes” aquando da promulgação do diploma, reconheceu a governante.
Áreas que “faria todo o sentido estarem sob a coordenação das CCDR, como as florestas ou a formação profissional”, ou ainda outras referidas pelo próprio parecer da ANMP (municípios). Mas “estas áreas estão em reestruturação” e, por isso, passá-las para as CCDR não pareceu ao Executivo que fosse “o ideal”, completou.
A ministra da Coesão admitiu que se poderia ter aproveitado a oportunidade “para fazer as reformas necessárias”, mas “este é um processo delicado que envolve a vida de muitos profissionais, por isso tem de ser feito com muita humildade e cautela”, justificou.
Ana Abrunhosa disse ainda que “a falta de previsibilidade de quando essas áreas vão passar está muito dependente da dinâmica dos próprios Ministérios”.
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