O medo do fracasso é uma cena que nos assiste?
Sempre que escrevo um artigo sinto uma ponta de medo da possibilidade de estar condenada ao fracasso. Só que escrever é o primeiro passo para superar um desafio. Sim, o medo assiste-me.
Sim, e ainda bem. Desde que somos pequenos que somos ensinados a ter medo, e, às vezes, a temer o próprio medo. Somos ensinados que o fracasso é algo a ser evitado a todo custo. Se falhamos, somos levados a acreditar que não (s)fomos suficientemente bons, não nos preparámos como devíamos, ou que não somos tão inteligentes. E, essa mentalidade não só não nos abandona, como persiste e nos persegue no ambiente de trabalho, mesmo quando tentamos adotar uma visão mais positiva sobre o fracasso.
Na realidade o fracasso dói. Por isso, evitamo-lo a todo o custo. À semelhança de outras fragilidades, ainda se assiste por parte dos líderes a uma resistência em assumir receios, dúvidas e erros, porque exigimos e admiramos os que são destemidos e seguros. O curioso é que é possível tomar decisões, criar soluções e ser inovador tendo medo e sendo confiante, simultaneamente. Não são conceitos incompatíveis. O medo do fracasso é poderoso e pode paralisar, por outro lado, pode ser um ímpeto à reação, nós temos o poder de decidir a perspetiva com que o encaramos.
Uma forma de criar uma cultura organizacional saudável em relação ao fracasso é encorajar a falar abertamente sobre o mesmo.
É preciso liderar pelo exemplo, aceitando o erro e transformando-o num aliado. Ed Catmull sugere-nos dar responsabilidades às nossas equipas, “deixar os erros acontecerem e deixar as pessoas resolvê-los. Se existir medo, há razão para tal – a nossa função é encontrar essa razão e acabar com ela. A função de um gestor não é evitar o risco, mas construir a capacidade de recuperar”.
Devemos falar abertamente sobre os nossos erros e aprender com eles, em vez de tentar escondê-los ou ignorá-los. Se valorizamos a aprendizagem e o crescimento, os erros têm de ser encarados como oportunidades de melhoria, não como embaraço, vergonha ou culpa. Aceitemos, que dói menos.
Ao estarmos dispostos a aprender com os nossos erros e usarmos essas lições para orientar os nossos próximos passos, torna mais fácil o nosso trabalho. Assim como os cientistas repetem experiências para obter novos conhecimentos, nós, os “cientistas da comunicação” devemos abraçar o fracasso como uma oportunidade de aprender e crescer, tornarmo-nos mais resilientes. Em vez de fugir ao medo do fracasso, devemos abraçá-lo como parte integrante do processo para realizar os nossos objetivos e alcançar o nosso máximo potencial. Fail fast, learn faster.
Ao investirmos numa cultura que aceita o fracasso como parte do processo de inovação, as pessoas sentem-se mais confortáveis em explorar novas ideias e a assumir riscos calculados. O fracasso não é o fim, mas o meio para ser bem sucedido. Ao adotar esta máxima, curiosamente, os líderes são mais respeitados e admirados pelas suas equipas.
Nos meus maiores desafios o medo tem sido um bom companheiro. O sacana manifesta-se, e tenho duas opções: dominar ou ser dominada. Diz-me a experiência que a primeira traz melhores resultados – e ao usá-lo como adrenalina e não como um obstáculo, resulta, na maior parte das vezes.
Ao refletir sobre o medo, concluo que tenho mais medo de não ter medo do que de ter. O excesso de confiança, a falta do frio na barriga retira-nos empatia.
Esta Páscoa aventurei-me num desafio que estava na minha bucket list – fazer os Caminhos de Santiago. E consegui realizar esta vontade. Comecei com alguma “taxa de bazófia”, porque corro todos os dias, já tinha feito metade do percurso, mais do que uma vez, então o que tinha para correr mal?
Neste caso, as condições mais adversas – chuva constante, um frio obsceno e ser traída por uma permanente dor sentida a cada passo na parte inferior de uma perna a partir do terceiro dia. Depois de algum excesso de confiança que me impulsionou o arranque, o medo tomou-me por assalto! Senti respeito pelo medo, o medo do fracasso e impus-me foco no sucesso, na chegada e, com o apoio de quem me acompanhava, alcancei o meu objetivo. Esta foi uma das lições que trago para o meu trabalho. Deixa o medo fazer parte, não o ignores, mas também não lhes dês força. A tua equipa é a tua rede e tu és a rede da tua equipa.
Para concluir, partilho um desabafo – sempre que escrevo um artigo sinto uma ponta de medo da possibilidade de estar condenada ao fracasso. Só que escrever é o primeiro passo para superar um desafio. Sim, o medo assiste-me, e trabalho-o para que não me assuste. Sem medos!
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