“Admito que se possam ter cometido erros e exageros” com painéis publicitários em Lisboa
Vasco Perestrelo, CEO da MOP, reconhece que podem ter sido cometido "exageros" nas localizações dos painéis de grandes dimensões. Apesar da polémica, acredita que o meio outdoor não sairá beliscado.
Nos últimos dois meses o meio outdoor, ou mais concretamente nos painéis publicitários luminosos e de grandes dimensões que estão a ser instalados em Lisboa, tornou-se tema de conversa. O contrato para a exploração de publicidade e mobiliário urbano em Lisboa foi ganho pela JCDecaux, mas envolve também Multimedia Outdoor Portugal (MOP), empresa que vai explorar cerca de 1.200 equipamentos. Dos grandes, os principais causadores da polémica, a empresa liderada por Vasco Perestrelo tem sete, um dos quais na Segunda Circular.
“É impossível, quando se põe milhares de painéis — dos grandes 100 –, numa cidade como Lisboa, que não haja ajustes a fazer“, diz o CEO da MOP, admitindo que possa ter havido algum exagero. “Nas costas dos outros vemos as nossas. Se estivesse no lugar da JCDecaux, o meu papel seria querer as melhores posições e esperava que fosse a CML a dosear um pouco, a dizer ‘aqui não pode, aqui é demais”, diz em entrevista ao +M.
Apesar da polémica, Vasco Perestrelo acredita que o meio outdoor não vai sair beliscado. “O good momentum que o outdoor vive e a importância que Lisboa tem, suplanta eventualmente algum ‘bruá’ negativo que agora existe. Mas tem de se resolver, no sentido positivo da questão. A convivência com outdoors digitais é uma realidade em toda a parte do mundo. Com certeza, tem que ser com peso e medida”, aponta.
A venda da MOP, tema recorrente no mercado, o fim da publicidade na RTP e os desafios tanto da empresa como do setor foram outros dos temas abordados na entrevista.
O que é que falhou no contrato com a Câmara Municipal de Lisboa? Como é que tem havido tanta polémica sobre a localização dos outdoor?
Diria que sempre que há uma intervenção no sentido de mudança do inventário do mobiliário urbano numa cidade, principalmente numa cidade muito urbana como Lisboa, mas acontece em toda a parte do mundo, como há uma capilaridade grande de suportes, a intervenção urbanística é sempre uma coisa chata para as pessoas. Implica obra, implica mudança, tirar o que está, pôr novo, etc. Em relação à parte que me diz respeito, que tem mais a ver com o que se chama vulgarmente mupis, os pequenos, não há grande tema.
A MOP tem 1.211 novos equipamentos em Lisboa. E, dos painéis de grandes dimensões, sete. É assim?
Temos 40% dos pequenos. Dos grandes, é quase tudo da JCDecaux. Mantivemos sete, em cento e tal, mais por uma questão de ter alguma presença e não ficarmos reduzidos a zero. São sobretudo esses que têm estado a gerar toda a polémica, inclusive na CML.
Nas costas dos outros vemos as nossas. Se estivesse no lugar da JCDecaux, o meu papel seria querer os melhores lugares e esperava que fosse a CML a dosear um pouco, a dizer “aqui não pode, aqui é demais”.
Aparentemente não se percebe muito bem quem é que decidiu as localizações, como é que foram aprovadas, de que forma começaram a ser instalados os outdoors.
Toda a operação é gerida pela JCDecaux diretamente com a Câmara, nós só acompanhámos, mais numa perspetiva secundária. Dos grandes, só tenho sete.
Esses sete estão localizados em que pontos?
Tento que sejam em bons pontos, há um na Segunda Circular, também. Só que são horizontais. Os que tem provocado mais polémica, porque é também o novo formato, são os verticais. Como aparecem todos ao mesmo tempo, isto causa algum impacto. Diria que há muitas variáveis aqui no meio. Primeiro, quando acontece tudo ao mesmo tempo, tem impacto. Segundo, admito que as coisas devem e têm de ser ajustadas. Se calhar há uns que se calhar estão muito em cima da estrada, têm de ser ajustados.
Mas as localizações terão sido aprovadas.
Não tenho dúvidas. Mais uma vez, não posso dizer diretamente porque não estou no processo, mas do que sei, tudo foi pré-aprovado.
Já por este por este executivo municipal?
Sim, acho que sim. Este processo tem muitos anos, foi uma polémica gigantesca. Se não me engano o caderno de encargos foi lançado em 2015, depois a concorrência bloqueou. Ganhei, depois perdi, zanguei-me, estive muitas horas sem dormir por causa disto. Enfim, temos metade de uma coisa que devíamos ter toda, continua a ser completamente assim. Mas, enfim, acabámos por chegar a um acordo em que foi feita uma divisão.
Mas depois, de facto, houve alteração do executivo, e a implementação do contrato já foi este ano. Diria que há todo um processo que poderá ter vindo do anterior executivo, não digo que não, mas as pessoas são as mesmas. Quem muda são as pessoas lá de cima, Quem muda são os vereadores, não são os os executivos da Câmara. Não me passa pela cabeça que a JCDecaux vá pôr um painel sem ter aquilo aprovado, não é? Com todos os seus defeitos como meu concorrente, a JCDecaux faz as coisas by the book e tem, de certeza, todos os sítios bem defendidos. Não quer dizer que não se possam cometer erros e exageros. Admito que sim.
As coisas demoram tempo. Há esta coisa estranhíssima, muitas vezes está tudo pronto para começar, até para a Câmara começar a receber dinheiro — indexado muitas vezes a começar a publicidade — e não começa, porque é preciso que a E-Redes vá lá.
Admite que foram cometidos exageros?
Nas costas dos outros vemos as nossas. Se estivesse no lugar da JCDecaux, o meu papel seria querer os melhores lugares e esperava que fosse a CML a dosear um pouco, a dizer “aqui não pode, aqui é demais”.
Portanto, admito que cada um no seu papel natural, possa ter sido levado um bocadinho ao exagero e haja eventualmente posições em que de facto se tenha ido um bocadinho longe demais e que tenham que ser reajustadas. Depois, isto está dentro de uma luta política. Friamente, acontece em toda a parte do mundo, há sempre ajustes. É impossível, quando se põe milhares de painéis — dos grandes 100 –, numa cidade como Lisboa, que não haja ajustes a fazer.
Carlos Moedas disse há umas semanas que alguns são claramente um fator de distração e que pretendia renegociar o contrato.
Só posso falar do que conheço. Sei que a JCDecaux está a conversar com a Câmara no sentido de minimizar esses eventuais exageros. Mas, vamos lá ver, em Portugal há esta coisa, tudo é polémico. Nunca vi, acho eu, a JCDecaux dizer ‘daqui não saio, daqui ninguém me tira”. Acho que isto tem de ser enquadrado no ajuste normal. Se de repente tivesse de mudar mil posições, isso implica custos, etc. Mas penso que também não é nesse patamar que se está.
O tribunal deu razão ao ACP, que interpôs uma providência cautelar.
Importa esclarecer que esta decisão apenas visa os chamados grandes formatos digitais, que são praticamente todos da JCDecaux. É de tal forma assim que apenas tivemos de desligar um suporte como consequência dessa decisão. Apesar disso, e dado que somos visados na providência, iremos contestá-la. O seu enquadramento é demasiado genérico, com vários argumentos indevidos e, como tal, tem que ser contestada. O surgimento de suportes digitais de grande formato é uma realidade em todas as grandes cidades de países desenvolvidos e Lisboa apenas seguiu essa tendência. Posto isto, repetindo que a providência visa essencialmente suportes da JCDecaux, penso que haverá com certeza espaço para ajustes no sentido de que alguns dos suportes de maior dimensão que estejam muito perto da estrada, sejam reajustados.
Era suposto os espaços já estarem a ser comercializados. Qual o impacto deste atraso?
É enorme. Hoje temos cerca de 40% dos equipamentos, das faces, colocadas, mas existem mais que estão já colocadas, mas não a ser comercializadas. Uma parte tem a ver com burocracia da CML, enfim, é normal. Mas o pior é a E-Redes. Temos esta figura chamada E-Redes, que no final de tudo estar posto, alguém tem que ir lá pôr um cabo de eletricidade. E o processo é muito moroso.
Mas então os outdoors não estão a funcionar por falta de eletricidade?
As coisas demoram tempo. Há esta coisa estranhíssima, muitas vezes está tudo pronto para começar, até para a Câmara começar a receber dinheiro — indexado muitas vezes a começar a publicidade — e não começa, porque é preciso que a E-Redes vá lá.
O good momentum que o outdoor vive e a importância que Lisboa tem, suplanta eventualmente algum ‘bruá’ negativo que agora existe. Mas tem que se resolver.
E há previsões?
Vamos ajustando o nosso calendário, muito à medida do que é negociado pela JCDecaux. Mas conto que tenhamos quase 80% do equipamento até final do ano, e no mais tardar todo no primeiro trimestre de 2025.
Contava ter tudo a funcionar no segundo semestre deste ano.
Sim. Mas uma coisa é o que estava a pensado, outra é o que é que é normal… E também tenho que ser justo, em toda a parte isto demora. Há sempre uma subvalorização das implicações de tirar todo o conjunto de equipamentos de uma cidade e pôr novos. Há poucas intervenções tão estruturais numa cidade. Como só acontece de 20 a 20 anos, que é o tempo de contratos, acha-se sempre que é mais simples. Acontece assim em todo o lado. Em cada passeio é preciso ir lá um tipo de esgotos, um tipo de eletricidade, um tipo de urbanismo. Imagine a logística disto vezes milhares de posições, inclusivamente a tirar umas antigas e colocar novas.
É um investimento de que ordem?
Temos um investimento, que junta outras concessões, de cerca de 25 milhões. Só o nosso, cerca de 18 milhões em Lisboa.
Quando dizia, no ano passado, que ia investir 25 milhões na modernização da rede…
É porque junta a digitalização de outras concessões que já temos. Lisboa é tudo de raiz, tirar tudo o que existe e pôr tudo de novo. Nas outras concessões só estou a fazer upgrade de digitais. Em Lisboa tenho pôr todos os mupis de papel e também os digitais. No Metro Lisboa só estou pôr a percentagem, que é mais ou menos 20%, de digitais, portanto só tenho o custo dos 20%.
E o retorno desses 25 milhões é a quantos anos?
Dez anos, mais ou menos.
Para terminarmos a parte Lisboa, esta polémica, que começou nas redes sociais, escalou para os media e depois para tribunal, afeta de alguma forma a perceção que os anunciantes podem ter sobre o outdoor?
Diria que era normal que afetasse, mas acho que na realidade não acontece. Ou seja, o good momentum que o outdoor vive e a importância que Lisboa tem, suplanta eventualmente algum ‘bruá’ negativo que agora existe. Mas tem que se resolver, no sentido positivo da questão. A convivência com outdoors digitais é uma realidade em toda a parte do mundo. Com certeza, tem que ser com peso e medida.
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