Ribau Esteves diz que Aveiro tem "boa saúde financeira. Presidente da Câmara de Aveiro é contra a política habitacional de bairros sociais e aposta numa cidade tecnológica.
O presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Ribau Esteves, garante que a autarquia tem uma boa saúde financeira com “um orçamento de 134 milhões de orçamento” e “capacidade de endividamento muito boa para usar bem”. Em entrevista ao ECO/Local Online, Ribau Esteves revela que a autarquia vai fechar 2022 com 57 milhões de euros de dívida. Não deixa, contudo, de apontar o dedo aos seus antecessores por terem deixado o município atolado de dívidas. “Falava-se de Aveiro por maus motivos, porque tínhamos uma das piores câmaras do país, era a segunda mais falida. Quando comecei a presidência, tinha 150 milhões de euros de dívida”, aponta.
Agora, a cidade, que Ribau Esteves diz já não ser a Veneza Portuguesa, com os seus canais com moliceiros, porque entretanto ganhou identidade própria, aposta na sustentabilidade ambiental e na mobilidade urbana. Mas com alicerces “numa nova política nova na autarquia que é o Aveiro Tech City” e que o edil assegura ser “único no país” com “uma rede piloto de 5G”.
A grande aposta na sustentabilidade ambiental é uma das bandeiras do autarca social-democrata. Desde ter, no futuro, o único Ferryboat 100% elétrico de todo o sul da Europa, num investimento de cerca de oito milhões de euros, passando pela promessa de ter uma frota de autocarros elétrica até ao final do próximo ano, num investimento de dez milhões de euros, até os moliceiros com motores elétricos.
O autarca faz uma radiografia ao concelho, divulgando ter 81 mil habitantes, apoiado nos Censos de 2021. “Crescemos 3,2% na década de 2001 a 2021. Somos um município que continua a crescer cada vez mais”. E a atrair talento e cada vez mais empresas tecnológicas.
Quais são as suas principais prioridades para este mandato?
Temos uma prioridade absoluta que é cumprir e executar o compromisso eleitoral que assumimos com os eleitores há cerca de um ano. Há áreas de governação municipal que têm um foco mais especial, como a educação, pois temos um grande investimento nas políticas educativas integradas no nosso programa de ação de requalificação do nosso parque escolar e pré-escolar. Nestes dois mandatos, materializámos um investimento de 30 milhões de euros, porque o nosso parque escolar estava muito degradado e estamos a fazer um investimento enorme de ampliação e qualificação, e ainda apostar nalguns edifícios novos. Temos, neste momento, 14 operações desde construção, fase final de projeto até concurso público.
Mais alguma área específica que mereça uma maior atenção?
A qualificação urbana por todo o município é outra prioridade importante com muito investimento até ao final do mandato em 2025. A área da cultura e não só por causa da nossa candidatura a Capital Europeia da Cultura em 2027, mas porque é um setor estratégico, nomeadamente dando valor aos museus e também um exemplo nacional da descentralização. Somos o único município que assumiu a gestão de um museu, neste caso o museu nacional de Santa Joana e a propriedade num exemplo de excelência daquilo que são os ganhos da descentralização ao ser gerido pela câmara municipal.
Nestes dois mandatos, materializámos um investimento de 30 milhões de euros, porque o nosso parque escolar estava muito degradado e estamos a fazer um investimento enorme de ampliação e qualificação, e ainda apostar nalguns edifícios novos.
Mais áreas prioritárias?
O Aveiro Tech City marca uma aposta de explorarmos o ecossistema que Aveiro tem e é único no país com uma universidade, a sede do instituto das telecomunicações, um conjunto de grandes multinacionais, e toda a aposta que temos feito nas infraestruturas ao dispor das empresas e dos investidores com uma rede de fibra ótica e uma rede piloto de 5G para desenvolverem produtos. Depois, o concelho também tem vários projetos desenvolvidos na área da energia, do ambiente e da mobilidade. O Aveiro Tech City é transversal, tem um trabalho com toda a comunidade educativa desde o pré-escolar até ao ensino secundário. É uma política nova na autarquia.
E aposta numa cidade verde?
Na nossa estratégia turística dizemos sempre que assenta em dois pilares: primeiro o da cultura, porque Aveiro é uma cidade velha no bom sentido do termo, uma das dez principais cidades de arte nova da Europa. Antigamente era conhecida como a Veneza de Portugal. Mas já não é, pois tem a sua própria personalidade, identidade. Este pilar tem o museu de Aveiro de Santa Joana. O segundo pilar é o ambiental – o ser a cidade dos canais, onde a terra e a água se misturam de uma forma especial dentro da zona central urbana da cidade que se estende aos espaços verdes. Refirmo-me ao nosso investimento brutal de 700 mil euros na qualificação do parque da cidade e no novo parque aventura com parque canino com uma linha de água.
E o investimento na mobilidade elétrica?
Já temos quatro autocarros elétricos na nossa frota municipal de transportes públicos e até ao final do próximo ano toda a nossa frota de autocarros vai ser elétrica. Este é um investimento de cerca de 10 milhões de euros – só em autocarros são oito milhões de euros. Esta rede Aveiro Bus serve todo o município. Também temos uma linha marítima que faz a ligação para a península de São Jacinto com um ferryboat muito velho e duas lanchas. Estamos, por isso, a construir o único ferryboat 100% elétrico de todo o sul da Europa, envolvendo um investimento total de 8,5 milhões de euros. Já está em adiantado estado de construção pelo Grupo ETE para integrar a operação da Aveirobus.
O navio vai contribuir com zero emissões de CO2, o que permitirá a redução da emissão de cerca de 300 toneladas de CO2 libertadas pelo atual modelo, reduzindo igualmente em cerca de 30% o consumo energético.
Os moliceiros são outro exemplo da nossa mobilidade elétrica com dez licenças que a autarquia atribuiu a igual número de operadores turísticos, que fazem os passeios de moliceiros nos canais da ria – são 27 embarcações. Já está instalado o sistema de carregamento elétrico com um custo na ordem dos 300 mil euros financiados por fundos comunitários. E agora os operadores têm dois anos para instalar os motores elétricos, substituindo os motores de combustão. É outro exemplo da nossa aposta na sustentabilidade ambiental.
O que Aveiro tem de diferente para se candidatar a Capital Europeia da Cultura?
É uma candidatura que tem a sua personalidade, que trata deste território que tem a tal relação com o ambiente, que tem este ecossistema tecnológico que permite apostar muito na cultura que usa as novas tecnologias, ferramentas digitais. Explora o caráter único da nossa cultura, da nossa gente. Será um instrumento adicional de crescimento e de promoção de Aveiro.
Qual o balanço que faz destes anos nove anos à frente da câmara?
Falava-se de Aveiro por maus motivos, porque tínhamos uma das piores câmaras do país, era a segunda mais falida. Quando comecei a presidência, tinha 150 milhões de euros de dívida a 1200 pessoas e empresas, com faturas de 20 anos por pagar.
Em dezembro de 2021, saímos dessa situação e fecharemos este ano financeiro com 57 milhões de euros de dívida total a bancos. Só devemos ao fundo de apoio municipal e a bancos dos empréstimos que a autarquia tem de longo prazo.
Como é que as contas da autarquia chegaram a esse ponto?
Por desvario de gestão dos mandatos do Partido Socialista liderados pelo presidente Alberto Souto que foi obreiro, porque fez obra relevante para a cidade, mas deixou a autarquia numa situação dramática. Depois o sucessor dele não conseguiu resolver o problema. Resolveu parcialmente, porque nomeadamente baixou a estrutura de custos em termos de funcionários da autarquia.
Fomos a segunda autarquia a assinar o programa com fundo municipal e a primeira a sair desse mesmo programa, ou seja, a atingir os objetivos de um rácio entre a dívida e a receita da câmara. Em dezembro de 2021, saímos dessa situação e fecharemos este ano financeiro com 57 milhões de euros de dívida total a bancos. Só devemos ao fundo de apoio municipal e a bancos por causa dos empréstimos que a autarquia tem de longo prazo.
Estamos a falar de uma câmara que tem um orçamento de 134 milhões de orçamento e portanto, esta é uma dívida muito baixa para uma câmara da dimensão orçamental da Aveiro. Temos uma capacidade de endividamento muito boa para usar bem. Pagámos a toda a gente sempre dentro dos prazos.
Como é a saúde financeira da autarquia?
É muito boa. A Câmara Municipal de Aveiro passou, em nove anos, de uma situação péssima, paupérrima, em final de 2013 quando cá cheguei, para uma capacidade de investimento muito forte que permite termos um município com várias obras e notoriedade com eventos.
Quais são as principais bandeiras do concelho?
Aveiro tem uma marca muito positiva pelo dinamismo empresarial, pela capacidade industrial, pela nossa universidade. É uma terra que tem muitas marcas. Apenas na governação municipal foi uma autarquia que se despistou de forma grave e teve graves problemas com instituições.
Como consegue atrair tantas empresas tecnológicas para Aveiro?
Há uma cultura empresarial muito forte em Aveiro. O setor privado é o nosso motor principal e nós, autarquia, temos que propiciar condições ao nível das infraestruturas, acessibilidades, promoção do território a vários níveis para que esta cultura empresarial que Aveiro tem prossiga o seu caminho de desenvolvimento e de crescimento, e seja o motor principal do desenvolvimento económico do concelho. Temos um conjunto de empresas desde a Altice ou a Bosch.
Hoje, em Aveiro não concordamos com a lógica dos bairros sociais.
E quanto a políticas de habitação social?
Somos contra políticas socialistas de construção de habitação. Quem constrói habitação são os privados. Está neste momento em construção uma urbanização de 300 fogos de habitação a custos controlados e o investidor é uma empresa privada. Com a notoriedade e o crescimento do turismo, a habitação está cara em Aveiro, pois a cidade cresceu muito. Mas é importante continuarmos a crescer na quantidade da oferta para baixarmos os preços.
Temos capacidade de fazer investimentos através dos privados, e porque discordamos da lógica de pôr pessoas a viver nos bairros sociais, pois queremos misturadas umas com as outras. Queremos a tal a integração social. Hoje, em Aveiro não concordamos com a lógica dos bairros sociais.
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