Media

“Fico fascinado com a revolução tecnológica e com as oportunidades que traz para os media”

Carla Borges Ferreira, Hugo Amaral,

Defender o castelo ou abrir as portas e explorar novas oportunidades e formas de colaboração? Salvador Ribeiro, CEO da Bauer Media Audio, defende que o futuro passa por incorporar a segunda hipótese.

Salvador Bourbon Ribeiro, CEO da Bauer Media Audio Portugal, em entrevista ao ECO/+M - 23MAI23

Salvador Ribeiro, CEO da Bauer Media Audio Portugal, vê no futuro dos media mais oportunidades do que ameaças. “Muda a forma como nos relacionamos com os nossos ouvintes, espetadores, consumidores em termos gerais, mudam as plataformas em que distribuímos os conteúdos, mas não muda a essência. A relevância das marcas mantém-se como uma necessidade. E isso não muda”.

O desafio, é o de sempre: manter a relevância, para consumidores e também para os anunciantes. Em Portugal, o gestor acredita que há muito por explorar, inclusive formas de colaboração entre diferentes media.

A concorrência é uma coisa, lógicas de colaboração são outra e acho que as devíamos explorar mais”, resume. “Percebo que haja sempre duas posturas perante os desafios. Uma de desconfiança e de tentar defender o castelo em que se vive, outra de olhar e encarar os desafios e as oportunidades. Eu gosto muito mais de estar na segunda“, garante.

Diz que o driver é a digitalização, mas que com a digitalização vem também uma alteração do modelo de negócio dos media. Qual é o modelo de negócio? Se pensarmos em televisões dá ideia que o modelo de negócio – o futuro – está por descobrir.

Sabemos que o caminho é a digitalização. O digital oferece-nos grandes possibilidades, grandes oportunidades. Mas sim, concordo, é um caminho que não está totalmente revelado. Sabemos que temos várias qualidades, quando partimos para esse desafio.

A rádio ou os media de uma forma geral?

Os media em termos gerais, a rádio em particular. Temos grandes marcas. E quem parte para esta nova era de transformação, com as marcas e com a credibilidade das marcas que temos, parte com vantagem. Depois temos o talento, as pessoas. Essa característica, esse ativo que é indissociável da produção de conteúdos. Acho que a combinação destes dois fatores nos dá uma vantagem grande quando partimos dessa transformação.

Se me perguntar se tenho a consciência total da transformação que está a operar… Não, acho que ninguém pode ter, ninguém tem. Mas estamos muito confiantes, temos um caminho, temos uma estratégia. Vamos lançar ainda este ano algumas novidades, mas a essência não muda. A essência é mantermos a relevância junto dos nossos públicos-alvo, junto dos nossos consumidores.

E essa relevância consegue-se monetizar?

Esse é o grande desafio, mas nós achamos que sim.

Na imprensa, a digitalização não está a correr particularmente bem, na televisão o modelo também está um bocadinho por descobrir…

Nós achamos que a proposta de valor que temos para apresentar ao mercado é grande.

Nós, rádio?

Nós, áudio. Achamos que a proposta de valor que temos a oferecer ao mercado é alta e, por isso, não há nenhuma razão para que não seja monetizável. O nosso desafio continua a ser o mesmo: com a relevância que queremos manter junto dos nossos consumidores, ter a arte e a inteligência de trazer marcas de forma esperta, de forma inteligente, para o mercado.

E isso é a essência do negócio anterior. Muda a forma como nos relacionamos com os nossos ouvintes, espetadores, consumidores em termos gerais, mudam as plataformas em que distribuímos os conteúdos, mas não muda a essência. A relevância das marcas mantém-se como uma necessidade. E isso vai ficar para a frente também.

O nosso desafio continua a ser o mesmo: com a relevância que queremos manter junto dos nossos consumidores, ter a arte e a inteligência de trazer marcas de forma esperta, de forma inteligente, para o mercado.

Há demasiado pessimismo quando se pensa nos media? O discurso raramente é otimista.

Por mim falo, sou um otimista em relação à forma como estamos a abraçar os desafios, a transformação que aí vem. A transformação não é uma especificidade dos media e do setor do áudio, é uma transformação da sociedade. Consigo ver imensas oportunidades. Se fizermos um esforço, conseguimos também ver algumas coisas que nos podem complicar um bocadinho o caminho. Mas acho que temos oportunidades e grandes desafios.

Para os media em geral, quais são as grandes oportunidades e os ‘complicadores’?

Acho que a possibilidade de diversificar canais de distribuição é, à partida, a maior oportunidade. Temos a oportunidade de criar, de distribuir, de aumentar o engagement com as pessoas e aí a efetividade daquilo que fazemos. Depois, estamos numa era em que há a explosão da inteligência artificial, para os media como enabler do negócio, tem imensas potencialidades. Portanto, olho para a frente e hoje vejo…

Mais oportunidades do que ameaças.

Muito mais oportunidades do que ameaças, muito mais. Fico fascinado cada vez que mergulho no futuro, ou em visões que existem de futuro. E gosto mais, muito mais, de me concentrar nessas oportunidades do que de olhar para trás.

Gosto muito de ver a possibilidade de termos capacidade de segmentar, com muito mais eficiência e efetividade do que fazemos hoje em dia, acho que dá imensas oportunidades. Fico fascinado com a quantidade de devices, a capacidade de aumentar o engagement com os nossos consumidores. Fico fascinado com a revolução tecnológica e com as oportunidades que traz para os media.

Basta ver o que a rádio fez com as redes sociais, por exemplo. A relação íntima que estabelece, que aprofunda, com os seus ouvintes. A Rádio Comercial tem 25% da população nacional como fã em redes sociais, é uma coisa absolutamente extraordinária. Basta olhar para estes exemplo para perceber o que é que aquilo que aí vai para a frente…

Percebo que haja sempre duas posturas perante os desafios. Uma de desconfiança e de tentar defender o castelo em que se vive, outra de olhar e encarar os desafios e as oportunidades. Gosto muito mais de estar na segunda. Se ficar a olhar para mim próprio, tenho sempre a perspetiva de tentar defender o castelo. Se sair de mim próprio, olhar para os meus clientes e para os meus consumidores, tenho a capacidade de me fascinar com as oportunidades que o digital nos traz, que é tornar ainda mais relevante ambos.

Salvador Bourbon Ribeiro, CEO da Bauer Media Audio Portugal, em entrevista ao ECO/+M - 23MAI23
Salvador Bourbon Ribeiro, CEO da Bauer Media Audio Portugal, em entrevista ao +M/ECOHugo Amaral/ECO

Como?

Atraindo talento e tendo uma relação muito mais estreita com o meu consumidor final. Há uma tendência natural para achar que os grupos de media possam ser comparados com grandes castelos, muitas vezes preocupados em defender-se de agressões externas. Perante isso, temos sempre as duas oportunidades. Ou continuar nessa senda ou, de forma colaborativa, trabalharmos com estas novas tendências.

Quase como que, em vez de fecharmos as portas do castelo, abrirmos as portas para o talento que anda por aí fora e só quer uma oportunidade para se mostrar. Lembro os blogues. A determinada altura iam assassinar os jornais… E aquilo que acho, que é mais certo, que nos trouxeram, foi talento. Foram por excelência uma forma de descobrir talento novo e quem esteve atento conseguiu aproveitar esse talento que se queria mostrar.

Acho que estas novas plataformas digitais que vão surgindo têm um certo paralelo. São fontes de talento absolutamente extraordinário.

Há uma tendência natural para achar que os grupos de media possam ser comparados com grandes castelos, muitas vezes preocupados se calhar em defender-se de agressões externas. Perante isso, temos sempre as duas oportunidades. Ou continuar nessa senda ou, de forma colaborativa, trabalharmos com estas novas tendências.

As plataformas digitais têm significado repartir receita, que para o media é cada vez mais curta, e também a atenção…

A receita aparecerá sempre se nos mantivermos relevantes. Se soubermos manter a relevância, se soubermos responder aos nossos clientes, se soubermos responder aos nossos consumidores, a receita está lá.

Como é que olha para o panorama dos media em Portugal?

É um setor vivo, um setor dinâmico, que tem grandes desafios com a transformação que está a operar, que está em mudança. Não me meto em questões acionistas, mas uma das grandes oportunidades que também vejo futuro é a atuação de forma colaborativa. Não é nada de novo, mas se calhar noutras indústrias é muito mais profundo do que no setor dos media.

E esse trabalho colaborativo, não só dentro das empresas mas também em organizações que não pertençam ao mesmo espetro acionista, acho que é uma forma muito contemporânea, muito efetiva e eficiente de se trabalhar. Acho que há aspetos muito importantes de colaboração futura, ou possível, que não se fazem em territórios de competição. A concorrência é uma coisa, lógicas de colaboração são outra e acho que as devíamos explorar mais.

Não falo de questões de acionistas, de consolidação, não falo de nada disso. Falo de oportunidades de colaboração. E acho que sim, há muito para explorar no setor dos media em Portugal.

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