“Os media têm tido a capacidade de se reinventar a cada grande crise”
As ambições para a CNN e informação da TVI, a concorrência, o mercado ou os desafios dos media e do jornalismo em entrevista a Nuno Santos, diretor do canal que assinala o quarto aniversário.
Quatro anos após o lançamento, que aconteceu a 22 de novembro de 2021, a CNN Portugal mantém-se como o canal de informação mais visto do país, posição que alcançou logo no arranque. “Devemos fechar 2025 um pouco acima do que fechámos em 2024 e isso é um sinal de resiliência e de liderança, perante o mercado que se tornou mais exigente e mais competitivo”, descreve Nuno Santos. Neste período, a SIC Notícias foi relançada, a Medialivre lançou o Now e a RTP3 deu lugar à RTP Notícias. “Estes cinco anos provam é que há mais disponibilidade das pessoas para consumirem informação, o espetro alargou-se, não só naquilo que é ditado pelas audiências televisivas, que é apenas um dos instrumentos de medição”, prossegue em entrevista ao +M.
O balanço e objetivos para o canal, a concorrência, os desafios dos media e do jornalismo, ou a importância da notícia, da opinião e da análise são alguns dos pontos abordados com o diretor da CNN Portugal e diretor de informação da TVI. “As pessoas convivem mal com a divergência de opinião. Porquê? Porque Portugal é este país do respeitinho, em que parece que temos de achar que verde é que é bom, ou que azul é que é bom. As pessoas, quando há divergência de opiniões, ficam muito inquietas, não gostam, acham que prejudica, acham que é um aborrecimento. E eu acho exatamente o contrário”, comenta Nuno Santos. “Quando o jornalismo não acompanha o ar dos tempos, mesmo sendo crítico, mesmo sendo vigilante, mesmo fazendo uma verificação dos fatos, não está a cumprir o seu papel”, alerta.
Em novembro de 2024 terminámos a entrevista a falar sobre inteligência artificial (IA). Um ano depois, que impacto está a ter a IA, ou pode vir, a ter no trabalho das redações, em particular da TVI e da CNN ?
Ainda estamos na fase da descoberta, da verificação das ferramentas que existem, que podemos usar e que podemos aplicar ao trabalho diário. Isto é, o que sinto e o que devo e posso dizer é que, de uma forma sistematizada, ainda não as estamos a usar no nosso trabalho do dia a dia. Mas, por um lado, eu e a minha equipa de direção já temos um conjunto de ferramentas identificadas que julgamos que podemos vir a aplicar num período relativamente curto de tempo. E, por outro lado, individualmente, acho que os jornalistas já usam ferramentas de inteligência artificial para tornar o seu trabalho mais simples, mais rápido e, ao ao mesmo tempo, mais eficaz.
Portanto, são dois caminhos que correm em paralelo e acho que isso não é diferente do que se passa nas nossas próprias vidas e, ao mesmo tempo, noutras áreas de atividade.
Agora, não tenho dúvidas — não tinha há um ano e hoje tenho menos — que a inteligência artificial vai ter um enorme impacto na produção jornalística, tal como a conhecemos, e, na minha perspetiva, vai ser um facilitador.
Mais um facilitador do que uma ameaça?
Mais um facilitador do que uma ameaça, sim.
Em nenhum momento acho que a utilização de ferramentas de Inteligência Artificial pode dispensar a intervenção humana.
Um facilitador em que medida?
Um facilitador porque é uma arma que pode tornar o nosso trabalho mais rápido, mais fácil e até mais rigoroso. Agora, em nenhum momento a utilização de ferramentas de inteligência artificial pode dispensar a intervenção humana. Se a pergunta for “o que estás a querer dizer é que isso significa menos jornalistas ou menos jornalismo?”, a minha resposta será sempre não.
Pedro Morais Leitão, administrador da Media Capital, dizia no início deste mês, na conferência da ERC, que ciclicamente temos assistido a crises nos media e que a próxima devia ser daqui a cinco ou seis anos. A causa não se sabe, mas que a IA ia potenciá-la e torná-la mais grave, mais profunda. Para o jornalismo é um facilitador, para o negócio dos media antes pelo contrário?
Não estive na conferência da ERC, portanto não conheço o contexto geral daquilo que foi dito pelo Pedro Morais Leitão. Os media hoje, de uma forma geral, e aí tenho a certeza que o meu pensamento está alinhado com o dele, têm um conjunto de desafios e de obstáculos que têm a ver com toda a cadeia do negócio. Isto é, com a monetização da nossa atividade. É válido para o jornalismo, mas também é válido para o entretenimento, é válido para os produtos digitais — que no caso português, como sabemos, nós construímos, mas a receita, na maioria das vezes, não entra para o nosso bolso, fica a montante, digamos assim. Esse conjunto de desafios que já existem ao dia de hoje, podem tornar-se mais críticos num horizonte de cinco anos.
Se era disso que o Pedro falava, estou de acordo. Mas também acho que os media têm tido a capacidade de se reinventar a cada grande crise, para utilizar essa expressão, que têm enfrentado. Por exemplo, tivemos um primeiro boom da internet no início do século e parecia que o Eldorado tinha chegado e depois verificou-se que isso não era assim, antes pelo contrário. E, no entanto, hoje estamos na era digital porque, apesar desse boom falhado, num determinado momento a força do digital acabou por se impor à escala global e também naquilo que tem a ver com a nossa realidade aqui em Portugal.
Vamos à CNN, que está a assinalar o quarto aniversário. Ao longo destes quatro anos tem havido sempre novidades no segmento da informação.
Sim, é um sinal de vitalidade, do meu ponto de vista. O próprio aparecimento da CNN talvez tenha sido, num setor que estava relativamente estagnado nessa altura, o primeiro grande sinal de vitalidade. Outros se seguiram.
No ano a seguir tínhamos a liderança da CNN…
Não tínhamos no ano a seguir, tínhamos no dia a seguir.
Balizava pelo aniversário. Na entrevista do ano a seguir tínhamos a liderança da CNN, até mais rápido do que esperavam. Depois o relançamento da SIC Notícias, o lançamento do Now, que ultrapassou rapidamente a RTP3, e este ano o rebranding do canal do operador público, agora RTP Notícias. Que balanço deste último ano? A CNN mantém a liderança.
Acho que significa uma vitalidade deste segmento de mercado, isto é, do segmento das notícias em concreto. O que estes cinco anos provam é que há mais disponibilidade das pessoas para consumirem informação, o espetro alargou-se, não só naquilo que é ditado pelas audiências televisivas, que é apenas um dos instrumentos de medição.
Para nós, que fazemos da televisão o centro da nossa atividade, parece ser o mais importante, mas tenho uma preocupação, e tenho o dever e tenho esse cuidado todos os dias, de procurar estar dois passos mais para trás e de ver o quadro completo. E ver o quadro completo é ver também o que é o nosso consumo digital, o que é a procura de algumas marcas para se associarem à CNN nas nossas conferências. Isso significa que há, para usar uma expressão em inglês, neste landscape dos canais de informação, alargou-se a procura e a oferta respondeu. A CNN respondeu sempre muito bem e os nossos concorrentes também fizeram o seu trabalho. Isso é bom para o setor e é bom para o consumidor.
A CNN respondeu sempre muito bem e eu acho que os nossos concorrentes também fizeram o seu trabalho. Isso é bom para o setor e é bom para o consumidor.
O diretor do Now e também da CMTV, Carlos Rodrigues, dizia-nos em entrevista, em julho, que o objetivo, que considera concretizável, é liderar o segmento. Para tal terá de ultrapassar a SIC Notícias — ultrapassou um mês (em agosto) — e também a CNN. É possível, viável?
Não sou um comentador desta atividade, sou um ator. Estou preocupado com aquilo que fazemos, com a forma como estamos no mercado. A CNN tem um ADN muito forte e tendo explicar internamente às pessoas, todos os dias, que é muito importante que preservemos o nosso ADN. Esse é o principal ponto de contacto com os nossos espectadores, é eles saberem muito bem o que é a CNN e identificarem a nossa oferta. E estou, com certeza, com muita atenção ao que fazem todos os nossos concorrentes, quer de um ponto de vista tático, porque isto joga-se muitas vezes em “manobras táticas”, quer em algumas soluções que eu percebo que são mais estratégicas, digamos assim. Agora, não sei quais são os passos que eles têm de dar para concretizarem esse objetivo, que é com certeza legítimo. Cada um sabe de si.
O que é que a CNN se propõe fazer para não permitir que esse objetivo se concretize?
A CNN tem feito sempre, ao longo destes anos, algo que, do meu ponto de vista, é muito importante, que é procurar estar à frente. Isto é, a CNN tem sido a estação preferida, não a estação preterida. Tem sido a estação que tem, do ponto de vista dos conteúdos, marcado a agenda. Tem sido o canal que, do ponto de vista estético, tem estado também um passo à frente dos outros e tem obrigado os outros a virem na mesma direção. Há dois anos falava aqui de um termo que é um pouco o nosso jargão, da gramática televisiva. Quando olho para os canais, acho-os todos demasiado parecidos com a CNN. Pessoalmente lamento muito, quando vou a outros mercados, não acho que seja essa a realidade.
A RTP Notícias também está demasiado parecida com a SIC Notícias, que por sua vez está demasiado parecida com a CNN, e portanto ficam todos muito parecidos uns com os outros.
E agora mais ainda com a RTP Notícias?
Sim, a RTP Notícias também está demasiado parecida com a SIC Notícias, que por sua vez está demasiado parecida com a CNN, e portanto ficam todos muito parecidos uns com os outros. Não posso impedir que os outros fiquem parecidos connosco, o que posso tentar é que continuemos a marcar o passo. Quando vou aos Estados Unidos, não acho que a Fox seja parecida com a CNN, nem a MSNBC parecida com a Fox, e assim sucessivamente. Isso é verdade no mercado francês, isso é verdade… nos sítios onde as pessoas procuram ser originais.
Mas precisamos de preservar o ADN da CNN. A CNN foi o canal que introduziu essa capacidade de, não deixando nunca de olhar para a nossa rua, olhar com mais atenção para o nosso mundo. Hoje, se olhares para a oferta dos canais de notícias em Portugal, estão cheios daquilo a que chamamos o internacional. Nós introduzimos esse elemento na equação, acho que tornou a visão que temos da atualidade mais global, mais cosmopolita.
Entretanto, também começou a guerra na Ucrânia e escalou em Gaza.
É uma guerra na Europa, não tínhamos uma guerra na Europa desde os anos 90, desde o conflito na Antiga Jugoslávia, e portanto sim, isso introduziu um dado novo. Mas, em qualquer dos casos, não temos apenas na antena o conflito da Ucrânia, temos muitos outros temas da área internacional. Trouxemos um conjunto de pessoas para a antena, de analistas, de especialistas, de pessoas habilitadas a interpretar o mundo. Isso faz parte da matriz da CNN, que é ter essa dupla capacidade, que é, por um lado, olhar para a nossa rua ou para o nosso…
Quase o slogan da TSF, há muitos anos.
Estava lá e até sei quem criou esse slogan. Essa ideia é muito virtuosa, é ir ao fim da rua e ir ao fim do mundo. E um bom canal de notícias deve ser, de facto, capaz de fazer isso
Estamos a entrar no quinto ano do canal. Que novidades vamos ter?
Este ano temos uma nuance que também é ditada pelas circunstâncias. Costumamos lançar os novos produtos agora, começar até um bocadinho antes, na rentrée. Desta vez fiz um exercício ao contrário, pelo facto de termos eleições presidenciais nesta fase, guardei as novidades para janeiro e fevereiro.
Teremos dois novos jornais, um à semana e outro ao fim de semana, que são dois produtos com uma identidade muito forte que vamos lançar nessa altura [não vou dar detalhes]. Teremos também o regresso de um espaço que ocupou uma boa parte da antena ao longo destes anos e que desativámos num determinado momento (Top Story), numa faixa da manhã, teremos um novo programa internacional para, digamos, desmultiplicar a nossa oferta de fim de semana. Esses são os quatro eixos principais do nosso trabalho.
E depois vamos fazer aquilo que acho que é sempre muito importante, ou até talvez o mais importante num canal de notícias, que é trabalhar dentro dos produtos. Qual é o segredo de um canal de notícias? É que ele é sempre novo, não é? Amanhã é diferente daquilo que está a ser hoje, e depois da manhã também é diferente do que foi no dia anterior. E isso implica um trabalho permanente com as equipas e um combate à rotina. Muitas vezes a rotina também se instala e é preciso combatê-la. É sempre preciso combatê-la e num contexto competitivo que é mais duro, mais complexo, mais exigente, mais ainda.
A questão das eleições dá-nos o gancho para os debates. Estamos a gravar dia 17, dia em que a Medialivre pode avançar para uma providência cautelar para ter acesso aos debates na íntegra e em direto. Por que é que estamos a assistir a este diferendo entre as televisões?
Com inteira franqueza, acho que há aqui uma falsa questão. Existe um acordo entre as televisões de sinal aberto, ou seja, entre a TVI, a SIC e a RTP. E as televisões de sinal aberto, justamente por essa razão, não são comparáveis com os restantes canais. Não estou a diminuí-los, considero a CMTV um operador muitíssimo relevante. Embora deva dizer, também, que há dois anos os responsáveis da CMTV se manifestavam de forma muito crítica contra a gritaria dos debates, contra o facto de os debates não esclarecerem nada e a magnífica solução que resultava do esclarecimento das entrevistas.
Com inteira franqueza, acho que há aqui uma falsa questão. Existe um acordo entre as televisões de sinal aberto, ou seja, entre a TVI, a SIC e a RTP. E as televisões de sinal aberto, justamente por essa razão, não são comparáveis com os restantes canais.
Houve um artigo de opinião nesse sentido.
Pelo menos um. Mas isso é o que é, as pessoas podem mudar de opinião e também as circunstâncias se podem alterar. Agora, o facto de existir um acordo para realizar um conjunto de debates, significa que essa realidade não é compatível, nem se pode confundir com outra. Por exemplo, ainda recentemente, foi um acordo de co-regulação, levou dois dias e para aí três telefonemas a fazer, entendemo-nos para fazer um debate entre os candidatos à eleição do Benfica. Transmitimos o bem simultâneo na CNN, na SIC Notícias, na RTP Notícias e na CMTV. As equipas reuniram nas instalações do Correio da Manhã, a equipa técnica era da RTP, havia quatro moderadores, um de cada canal, a coordenação editorial foi de um jornalista da RTP, o trabalho correu bem.
É possível que volte a acontecer no futuro? Com certeza, porque aí estou de acordo com a ERC. Efetivamente, o ecossistema está em mutação e, numa próxima eleição, em que existam debates em canal aberto e no cabo, é possível que a realidade seja distinta daquela que tem sido? É possível que a realidade seja ajustada de acordo com essas circunstâncias. Aqui, daquilo que estamos a falar, são de debates em canal aberto. É isso e apenas isso. E isso não é comparável com mais nada. O nosso ponto é apenas esse.
Sendo esse argumento aparentemente válido e óbvio, como é que o regulador, que é suposto regular e perceber o mercado, não o entende?
Mas o regulador entendeu. Se lermos com muita atenção a longa deliberação da ERC, não diz em nenhum momento que estes debates não se podem realizar.
O regulador não tem poderes para o fazer, como refere na deliberação.
Não diz que este acordo não é legítimo. Desde logo porque já tinha dito que este acordo no passado era legítimo, já tinha validado este acordo e conhece-o. Este acordo entre a RTP, a SIC e a TVI tem muitos anos, já se aplicou em muitas eleições, já se aplicou em momentos em que a Medialivre só tinha um canal e em que esse canal só estava num dos operadores, numa das plataformas de cabo, não tinha relevância nenhuma. Isso já não é a realidade hoje. De facto, as circunstâncias têm-se vindo a alterar. Mas esta nossa história não começou ontem e a ERC também sabe isso. Portanto, a ERC o que faz, no final, é uma recomendação. Uma recomendação, é isso mesmo.
Os debates, desta vez, são todos transmitidos em sinal aberto? Porquê?
Porque achámos que isso colocava as candidaturas em igualdade de circunstâncias.
Voltando à CNN e ao último ano, o que correu melhor e pior?
Não consigo responder. Diria que, em geral, este ano correu bem. Temos hoje a mesma quota de mercado que tínhamos há um ano, por esta altura. Até estamos ligeiramente acima, se compararmos novembro com novembro. Devemos fechar 2025 um pouco acima do que fechámos em 2024 e isso é um sinal de resiliência e de liderança, perante o mercado que se tornou mais exigente e mais competitivo.
Vamos passar ao digital. No ano passado dizias que é pelo meio digital que se pode fazer o crescimento das empresas de media, não tanto pelos meios convencionais, pela televisão clássica. O que estão a preparar no digital? Na entrevista do ano passado dizias também que a cross-promotion entre antena e digital estava a falhar. Falávamos da perceção da CNN no digital, comparando com a antena.
Esse aspeto, objetivamente, melhorou. O que é que queremos fazer em 2026 na área digital, para além de tudo o que já fazemos? E ainda, por exemplo, agora nas eleições autárquicas, tivemos números estrondosos no digital…
Estão a crescer no digital? Os dados não são conhecidos.
Estamos a crescer e a contribuir muito para a liderança que a Media Capital tem no digital. Queremos introduzir mais vídeo. O vídeo no digital é consumido de forma diferente, desde logo é vídeo vertical, na esmagadora maioria das vezes. Vamos introduzir mais vídeo e mais histórias com vídeo. Temos dados que nos permitem dizer que isso capta, desde logo outro tipo de públicos, mas também é uma forma de fazer com que as nossas notícias, os nossos conteúdos, cheguem mais depressa a mais pessoas. Este é um eixo do trabalho para 2026.
Um outro, é que vamos ter mais informação da área da economia. Da economia lato senso, da economia na ótica do consumidor, mas também daquela que está ligada às empresas e à atividade económica de uma forma geral.
E depois há uma dimensão, que durante muito tempo foi minimizada, mas que está hoje testada e comprovada que isso não tinha correspondência com a realidade, e que é o facto de, no digital, as pessoas também gostarem de ler artigos ou textos longos. Já temos uma oferta bastante boa, uma parte dela até vem da CNN nos Estados Unidos, mas queremos melhorar ainda a oferta com alguma – para não dizer com bastante mais – produção própria.

Vai implicar alguma alteração em termos de equipa?
É sempre preciso reforçar a equipa e ter mais pessoas, é aquela boa batalha entre as direções e as administrações. Ou, se transportarmos para o universo do futebol, entre os treinadores e os presidentes. Achamos sempre que o plantel precisa de mais reforços e quem está acima acha sempre que temos o número de jogadores suficientes. Temos uma boa equipa, com boa capacidade de resposta. Agora, se perguntares se gostava de ter mais jornalistas em número absoluto e mais jornalistas qualitativamente, a resposta é sim, com certeza que sim.
Um dos objetivos para este ano era o reforço da opinião e também de podcasts. Qual o balanço?
Nos podcasts ainda não estamos onde, do meu ponto de vista, precisaríamos de estar. Aí sim, não afinamos ainda o tom e precisamos de o fazer. Por vezes – creio que não vou cometer nenhuma inconfidência –, mas há uma espécie de uma discussão que se gera sobre qual é a rentabilidade dessa área de negócio. E costumo dizer que nas áreas onde não estamos é que não há rentabilidade nenhuma.
Estamos mais hoje do que estávamos, não só com produtos que decorrem do que se produz para a televisão, como até com alguns produtos próprios, alguns deles premiados. Um trabalho da Sara de Melo Rocha sobre o Gungunhana [Gungunhana. Quando Portugal Raptou um Rei] foi premiado internacionalmente e esteve nos principais festivais. Resultou de um projeto que ela propôs, de uma parceria que procurou. E, portanto, muitas vezes isso chega-me de alguns dos nossos melhores jornalistas.
Por vezes – creio que não vou cometer nenhuma inconfidência –, mas há uma espécie de uma discussão que se gera sobre qual é a rentabilidade dessa área de negócio [podcast]. E eu costumo dizer que nas áreas onde não estamos é que não há rentabilidade nenhuma.
Essa espécie de discussão é se é rentável apostar no formato ou se é investir tempo e recursos e ainda não ter retorno?
Não quero entrar nesse detalhe. Estava a falar em termos absolutos, digamos assim. Mas, aí sim, temos de melhorar. Quando olhamos para as grandes marcas, incluindo para a própria CNN à escala global, todas têm essa divisão. Ora, isso não é por acaso.
Falavas também da opinião. É um dos temas mais discutidos nas nossas reuniões internas. O peso da opinião, versus o peso da análise, versus o peso do vídeo, dos factos e das notícias. Quando alguém procura um canal de notícias, em tese, vai à procura de notícias. E, portanto, não há nada mais importante do que as notícias, não há nada mais importante do que os factos.
O que é verdade tanto para a antena como para o digital?
O que é verdade tanto para a antena como para o digital, mas mais para a antena do que para o digital. No digital, podes ter a tentação de clicar www.cnnportugal.pt para ler uma determinada pessoa. Dito isto, o primeiro foco de atração são as notícias e os factos. Mas, para nós, e acho que isso ajudou a impor a CNN, a análise das diferentes situações – políticas, económicas, da área internacional – é muito importante, porque isso é uma forma de interpretar o que está a acontecer.
Quando alguém procura um canal de notícias, em tese, vai à procura de notícias. E, portanto, não há nada mais importante do que as notícias, não há nada mais importante do que os factos.
Distinguindo análise de opinião?
Distinguindo análise de opinião. Depois, na opinião, também gostava de fazer uma distinção, para deixar claro o seguinte: muitas vezes, as pessoas convivem mal com a divergência de opinião. Porquê? Porque Portugal é este país do respeitinho, em que parece que temos de achar que verde é que é bom, ou que azul é que é bom. As pessoas, quando há divergência de opiniões, ficam muito inquietas, não gostam, acham que prejudica, acham que é um aborrecimento. E eu acho exatamente o contrário.
Dentro dos limites da urbanidade, dentro de um registo que seja de respeito mútuo entre pessoas que pensam de maneira diferente, acho que é preciso que haja opinião forte na antena e, sobretudo, diferença de pontos de vista. E a CNN também tem tido essa marca desde o início. E, às vezes, pagamos o nosso preço. Eu não me importo de pagar esse preço. E até isso já significou que houve pessoas que quiseram sair, depois muitas vezes é levado para o espaço das redes sociais e nós somos…
Mas aí falamos de quê? De comentadores pró Rússia, por exemplo?
Comentadores conotados com o partido X ou o anti o partido Y, a posição A versus a posição B. E as pessoas convivem mal com isso. Acho um erro, temos que ter diversidade de pontos de vista, é muito importante.
As pessoas convivem mal com a divergência de opinião. Porquê? Porque Portugal é este país do respeitinho, em que parece que nós temos que achar que verde é que é bom, ou que azul é que é bom. As pessoas, quando há divergência de opiniões, ficam muito inquietas, não gostam, acham que prejudica, acham que é um aborrecimento. E eu acho exatamente o contrário.
Em termos dessa diversidade dos pontos de vista, como se deve refletir em antena o resultado das últimas legislativas?
No nosso caso é uma falsa questão. Quando o Chega deu o primeiro salto, e o primeiro salto foi deixar de ser o partido de um deputado, para passar a ter um grupo parlamentar já com um número significativo de deputados, nós nessa altura já tínhamos regularmente pessoas do Chega na antena da CNN.
Isto é, não chegámos atrasados a essa questão. Agora vejo com algum interesse que alguns dos nossos concorrentes têm imensos debates onde estão pessoas do Chega e acham que as pessoas do Chega devem estar no espaço público. E, em alguns casos, que é bom também confrontar as pessoas do Chega com as suas incoerências, com o facto serem hostis em relação à questão A ou à questão B. Ora, no nosso caso, desde essa altura em que o Chega começou a ter relevância para os eleitores, sempre tivemos pessoas do Chega no ar.
Ricardo Costa, a seguir às legislativas, a propósito dos comentários de Sebastião Bugalho, em antena – no sentido de as televisões não estarem a conseguir olhar para o país e representar o voto que decorreu das eleições – dizia-nos que as televisões, os jornalistas, conheciam menos bem o Chega, era mais difícil fazer o acompanhamento e escrutínio. Concordas com a ideia?
Para abordar essa questão, gosto de me socorrer de uma ideia do Karl Popper que diz que a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, também só existe se a imprensa for livre dos seus próprios vícios. Temos de ter a capacidade, em cada momento, de não ficarmos amarrados a ideias feitas, não ficarmos fechados na nossa torre de marfim, não acharmos que as pessoas tomam determinadas decisões, mas nós pensamos melhor do que elas, ou que as pessoas são todas estúpidas. Quando o jornalismo não acompanha o ar dos tempos, mesmo sendo crítico, mesmo sendo vigilante, mesmo fazendo uma verificação dos fatos, não está a cumprir o seu papel. Diria que é preciso que estejamos em condições de perceber que a sociedade portuguesa em 2025 não é igual à sociedade portuguesa onde estávamos, eu e o Ricardo, em 2001, quando estivemos juntos no lançamento da SIC Notícias.
Temos que ter a capacidade, em cada momento, de não ficarmos amarrados a ideias feitas, não ficarmos fechados na nossa torre de marfim, não acharmos que as pessoas tomam determinadas decisões, mas nós pensamos melhor do que elas, ou que as pessoas são todas estúpidas.
Portanto, o jornalismo não tem estado a acompanhar da melhor forma o ar dos tempos.
O jornalismo tem de fazer um esforço para perceber o ar dos tempos.
Um dos trunfos da CMTV e do Now será esse?
Vamos lá ver, espero que não estejamos a falar da mesma coisa, porque por vezes o que me dizem é que há uma semelhança entre as duas marcas, e quando uma foi lançada, foi lançada justamente para ser distinta da outra, foi isso que foi dito na altura. A CMTV é uma marca de televisão, generalista, que entende bem o país. Sobre isso não tenho a menor dúvida. E que reflete bem o país. Quando faz informação, quando faz entretenimento, quando faz uma determinada cobertura desportiva, acho que eles refletem bem o país. E isso é, aliás, uma questão que observamos a partir da TVI e que eu julgo que a SIC e a RTP também observarão. O Now, tanto quanto foi dito na altura, era um canal de notícias.
Na entrevista do ano passado falámos também na importância da rentabilidade.
Mas somos um projeto, neste momento, que é também rentável e lucrativo.
A CNN já é um projeto rentável e lucrativo?
Sim.
É o primeiro ano?
Não é o primeiro ano, isso posso dizer. E posso dizer também que o nosso crescimento em termos de receita publicitária é muito significativo. Já tinha sido muito significativo de 2023 para 2024 e é muitíssimo significativo de 2024 para 2025.

Os números da CNN não estão discriminados. É um crescimento de que ordem? As receitas do grupo de publicidade cresceram 3%, os rendimentos totais 8% e os custos 6%.
Há uma dinâmica em cadeia. A CNN também beneficia objetivamente do facto de a TVI ter sido líder de mercado em 2024 e ser líder de mercado em 2025. Há aí, do ponto de vista comercial, uma sinergia entre as duas realidades. Mas a CNN, porque trabalha para um segmento de mercado diferente, basta olhar para a antena, demos um salto muitíssimo grande neste ano. Depois também tenho que fazer esse equilíbrio, sou o garante desse equilíbrio, entre termos uma antena que, sendo um canal de notícias, não pode ter breaks publicitários a toda hora e, ao mesmo tempo, a boa pressão comercial que existe para estar na CNN.
É possível crescer a nível comercial?
A resposta é sim, é possível crescer. Embora o facto de o mercado se ter tornado também mais diverso, com mais players, com mais oferta, para quem compra, é uma oportunidade.
E o orçamento da CNN encolheu ou não neste último ano?
Mantém-se relativamente estável. É preciso distinguir duas fatias. Uma é aquela que tem a ver com as pessoas, quanto é que custam as pessoas. E depois a outra tem a ver com os acontecimentos. Aí há uma variável que não controlamos, mas temos uma espécie de uma caixa de ar, que é o que nos permite que, se estamos a gastar mais dinheiro de um lado, precisamos de gastar menos dinheiro do outro.
Portanto, é uma compensação que fazemos quase dia a dia, para chegarmos ao fim dentro do padrão com o qual nos comprometemos no início do ano com o conselho de administração.
Assista à entrevista completa, com estes e outros temas, aqui:
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