“PSD de Rui Rio teve tudo praticamente fechado para apoiar Isaltino Morais. Não houve coragem”, assegura coordenador autárquico

Voltar a Isaltino e Santana, avalizar Dores Meira em Setúbal, forçar um candidato em Aveiro contra a vontade de Ribau Esteves ou descartar o presidente de Mafra. Líder autárquico do PSD explica.

Pedro Alves, coordenador autárquico do PSD, em entrevista ao ECO/Local OnlineHugo Amaral/ECO

A um mês das eleições, o coordenador autárquico do PSD explica ao ECO/Local Online algumas das escolhas que mais polémica levantaram a nível local em importantes autarquias, bem como regressos de ex-proscritos do partido. “O PSD de Rui Rio ponderou e teve tudo praticamente fechado para apoiar Isaltino Morais. Não houve foi coragem para finalizar essa vontade”, assegura Pedro Alves. Em Setúbal, faltou engenho à estrutura local para encontrar um candidato social-democrata, pelo que o apoio a Maria das Dores Meira foi a solução da direção nacional. Em Aveiro, Ribau Esteves foi vencido na escolha do candidato do partido a seu sucessor, mas, assegura Pedro Alves nesta entrevista, vai estar ao lado do candidato Luís Souto Miranda.

O PSD é líder em capitais de distrito, quatro das quais em limite de mandato – Aveiro, Braga, Faro e Santarém. Há uma estratégia específica para defender as capitais de distrito?

São situações completamente distintas. O objetivo é procurar ir ao encontro da vontade dos eleitores. Não impor candidatos, porque as bandeiras não ganham eleições, como as camisolas não ganham jogos de futebol. É preciso depois ter candidatos com o perfil adequado aos desafios que cada concelho tem. Nos processos de transição há sempre visões diferentes ao nível das bases. Procurámos ouvir todos e em função daquilo que nos pareceu a fórmula mais consensual, [escolher] o candidato com o perfil mais indicado para o desafio que temos para cada um dos concelhos. Tenho a certeza que todas as escolhas feitas para estes quatro concelhos, estas quatro capitais de distrito, são todas elas vencedoras. Não o faríamos de outra maneira. Independentemente de alguma conflitualidade que possa existir. Quem sai às vezes tem muita tentação de querer deixar quem fica, mas sobretudo nós temos que perceber é o que queremos para futuro. O que é que a população quer para futuro, e ir ao encontro dessas expectativas e eu julgo que cumprimos em todas as escolhas que fizemos nestas mudanças. E não é por acaso que, independentemente de não termos a maioria das câmaras municipais, o PSD tem a maioria das capitais de distrito. Além das que temos, queremos reforçar no futuro com outras soluções, outras estratégias que nos permitirão participar na gestão municipal.

Referiu os que saem e têm tentação de deixar os da sua preferência. Neste contexto, diria que fala de Aveiro, onde é sabido que Ribau Esteves tinha preferência por outro candidato que não Souto Miranda. Afrontar quem tem ganho eleições destacado não é um risco?

Houve efetivamente uma divergência com o Ribau Esteves em relação à solução futura, não à solução em relação às alternativas dos outros partidos. Eu não tenho dúvida nenhuma de que o compromisso do presidente da Câmara de Aveiro é de apoiar o nosso candidato em alternativa aos candidatos dos outros partidos. Por isso, estou perfeitamente confiante de que haverá o momento certo para, de uma forma clara, dar o apoio inequívoco à candidatura do Luís Souto, que é também o presidente da Assembleia Municipal, por ele escolhido. Por isso, certamente que haverá aqui também confiança, só por si, no Luís Souto.

 

Que não era quem Ribau Esteves queria.

São processos de escolha. Há um conjunto de variáveis em apreciação. Nem sempre conseguimos estar todos sintonizados, mas não houve rutura. Houve uma divisão e, neste momento, estamos a trabalhar todos para que o Luís Souto dê continuidade ao projeto do PSD, neste caso na coligação PSD/CDS em Aveiro. E eu penso que isso vai acontecer.

Ribau Esteves estará ao lado de Luís Souto Miranda na campanha em que este enfrenta o irmão, o socialista Alberto Souto Miranda?

Não tenho dúvidas de que, em relação às alternativas, a melhor solução para Aveiro seja Luís Souto e que Ribau Esteves também assim pense.

Estará, portanto, ao lado do candidato na campanha?

Sim, sim…

Outra capital de distrito onde houve uma divisão conhecida é Setúbal. Houve comunicados claros da estrutura local contra a escolha da ex-comunista Dores Meira.

Em primeiro lugar, o PSD não esteve contra a estrutura local, e articulou tudo sempre com a estrutura local. Desde o início.

Há comunicados claros a mostrar o contrário.

Foi tudo explicado depois em assembleia de militantes, tive o cuidado de lá ir explicar tudo o que aconteceu. E se os militantes não souberam, foi porque o presidente da secção não os quis informar. Desde o primeiro minuto que a articulação foi integral. As primeiras conversas [com Maria das Dores Meira] foram do presidente da Comissão Política da Secção de Setúbal. Não foi a direção nacional que as fez.

Foi o próprio?

Foi o próprio que encetou as conversas, por isso, a partir daqui estamos esclarecidos quanto ao envolvimento, à imposição… Nunca houve nenhuma imposição.

O PSD deve ter a capacidade e humildade de perceber que temos que fazer parte das soluções que a comunidade validar. Entendemos desde cedo que a solução poderia passar por apoio à candidatura independente de Dores Meira [em Setúbal].

Explique-nos então o processo.

A secção nunca cumpriu com a sua prerrogativa estatutária de apresentar um candidato. Nunca, nunca houve nenhum candidato proposto por parte da Comissão Política da secção. Houve, efetivamente, discussões, conversas, mas nunca o fez. Por isso mesmo, sem candidato não ficávamos. De acordo com a orientação nacional que foi aprovada pelo Conselho Nacional, havia e há por parte do PSD o respeito por candidaturas independentes em função daquilo que é a sua capacidade de mobilização e de implementação de projetos políticos naquelas qualidades. Se são pessoas que têm uma capacidade maior do que o partido de mobilizar os eleitores e ir ao encontro daquilo que são as suas expectativas, o PSD deve ter a capacidade e humildade de perceber que temos que fazer parte das soluções que a comunidade validar. Entendemos desde cedo que a solução poderia passar por apoio à candidatura independente de Dores Meira. Com a integração de elementos do PSD. Não é um processo fácil, por isso o fizemos com muito tempo de antecedência.

Quando teve início esse trabalho?

Começou a ser trabalhado há mais de 1 ano.

A própria candidata nunca assumiu que haveria aproximação.

São processos que são trabalhados dentro do partido, nas abordagens que fomos fazendo. É óbvio que isto é um processo de construção, seja de aceitação por parte de quem está no terreno e que passou anos a fazer oposição ao projeto do PCP… não há nenhum projeto do PCP. Hoje, ela demarcou-se do projeto do PCP para não ter amarras também nalguma visão que tem para a comunidade e que nós também subscrevemos. Não é por acaso que tem um forte apoio popular espontâneo de todos os quadrantes políticos. Não é só o PSD que está a apoiar Dores de Meira, por isso, para nós também nos dava esta tranquilidade de ser um projeto político mais abrangente e mais de acordo com aquilo que é a necessidade do território.

Estava por um lado limitada naqueles grilhões que o PCP coloca, do ponto de vista ideológico, na ação política de todos os eleitos. Como se sentia ainda útil e a comunidade também, fez o seu caminho. E nós fizemos também a nossa interpretação, mas falemos aqui do mais importante: não há nenhuma imposição em relação à vontade da concelhia nem da distrital, porque o contacto foi sempre permanente, estreito e feito por mim, e por isso sei bem que as conversas que tivemos. Sei o nível de compromisso que existia e a incapacidade que houve por parte da Comissão Política de Secção de apresentar uma proposta alternativa. Expliquei isto numa Assembleia de militantes. Tudo claro, as conversas que foram tidas, quem disse o quê.

O que aconteceu em Setúbal acontece em todos os outros sítios. Não temos que encontrar apenas dentro de casa as soluções. Temos que encontrar as melhores soluções, sejam militantes, sejam independentes. E a Comissão política de Secção não teve esta capacidade de convocatória.

Posso depreender das suas palavras que se houvesse uma boa alternativa social-democrata não dariam o apoio a Dores Meira?

Se tivéssemos capacidade de convocatória para outras alternativas, e que percebêssemos que essas alternativas são capazes também de ser mobilizadoras, é óbvio que sim, mas caberia também à Comissão Política de secção apresentar as alternativas melhores. O que aconteceu em Setúbal acontece em todos os outros sítios. Não temos que encontrar apenas dentro de casa as soluções. Temos que encontrar as melhores soluções, sejam militantes, sejam independentes. E a Comissão política de Secção não teve esta capacidade de convocatória. Se não teve, nós tivemos que encontrar solução, e julgo que estamos a corresponder também àquilo que é a vontade da maioria dos setubalenses.

Nestas eleições, o PSD reabre a porta a Isaltino. E vice-versa… “Não tenho dúvidas que o doutor Isaltino é o melhor candidato que poderíamos oferecer a Oeiras. Não é por acaso que tem ganho as eleições sucessivamente”, diz Pedro AlvesHugo Amaral/ECO

É essa a lógica de voltarem a dar o apoio a Santana Lopes e Isaltino Morais, dois ex-autarcas do PSD que passaram a independentes e se mostraram vencedores por si próprios?

Nas últimas eleições, o PSD de Rui Rio ponderou e teve tudo praticamente fechado para apoiar Isaltino Morais. Não houve foi coragem para finalizar essa vontade. Aqui é ao contrário: há coragem política para assumir aquilo que entendemos ser o melhor. Não é para o PSD, é o melhor para Oeiras. Se interpretarmos os resultados eleitorais que o PSD tem no concelho, e depois que tem nas autárquicas com o doutor Isaltino Morais, percebemos que também estamos a ir ao encontro da vontade do eleitorado do PSD. Nós não somos um partido de esquerda ou autoritário, que se organiza através de diretórios partidários, que dá orientação ao eleitor e ao militante de base. Não é esse o nosso objetivo.

Temos que saber interpretar, cabe-nos fazer o melhor que conseguirmos dessa interpretação, para oferecer aos eleitores o melhor projeto político com as melhores equipas. Não tenho dúvidas que o doutor Isaltino é o melhor candidato que poderíamos oferecer a Oeiras. Não é por acaso que tem ganho as eleições sucessivamente, de cada vez que se submete a votos, ou mesmo quando não se submete, quando apoia. Há uma estratégia para Oeiras do ponto de vista autárquico que é um exemplo. E o PSD revê-se nesse sucesso de governação local e, naturalmente, apoia esta solução.

E Santana Lopes, que após ter sido primeiro-ministro pelo PSD até criou um partido, o Aliança?

São soluções diferentes. A solução de Santana Lopes é o contrário, é um movimento independente que agora vai [a eleições] com o apoio do PSD. Ali, é o PSD que apoia o movimento independente. São situações diferentes. Também nos agrada ter a capacidade de atrairmos movimentos independentes como candidatos do PSD.

Vou dar-lhe mais um exemplo de um movimento independente, ou dois. Em Castelo Branco, o movimento independente que teve maior votação, o Sempre, integra uma coligação com o PSD. São João da Pesqueira, Pela Nossa Terra, também candidatos pelo PSD. Nós [o país] é que só olhamos para aqueles que têm mais mediatismo. Nós não o fazemos. Fizemos por estratégia, indo ao encontro daquilo que é o interesse de cada uma das comunidades, e a forma como poderemos ajudar a transformar essas comunidades.

Se não conseguirmos ser poder, não conseguimos implementar nenhum projeto político. Para isso, temos que ganhar, e se a forma de podermos ganhar é com aqueles que têm tido capacidade de mobilizar mais pessoas, então o PSD tem que se associar, sem qualquer tipo de preconceito ou vergonha. O objetivo na política é transformar, e para transformarmos temos que exercer poder, e para exercer poder, temos que ganhar, para ganhar temos que nos juntar àqueles que conseguem ter mais força e mais representação junto dos nossos eleitores.

Se não conseguirmos ser poder, não conseguimos implementar nenhum projeto político. Para isso, temos que ganhar, e se a forma de podermos ganhar é com aqueles que têm tido capacidade de mobilizar mais pessoas, então o PSD tem que se associar, sem qualquer tipo de preconceito ou vergonha.

As autárquicas são, por excelência, palco para independentes. O PSD preteriu Sérgio Costa em 2021, ele foi como independente e ficou presidente da Guarda. Em Sintra, Marco Almeida foi preterido e quase ganhou como independente contra Basílio Horta, e agora é candidato do PSD. Em Mafra, Hugo Luís mereceu a confiança para presidente quando foi necessário substituir o líder a meio deste mandato, mas o PSD escolheu outro para 12 de outubro. Os independentes são ameaça para o PSD?

Os movimentos independentes são uma ameaça para todos os partidos, porque concorrem contra todos, não concorrem contra o PSD. Agora, é óbvio que quando as dissidências são dentro do PSD, o prejuízo é maior para o PSD. O que aconteceu na Guarda foi isso mesmo. Não sei como vai ser o resultado de Mafra. É com respeito que temos que olhar para isso, e para a ambição legítima das pessoas de poderem protagonizar candidaturas e projetos políticos autónomos. O PSD é uma marca que tem credibilidade nesses territórios, neste caso em Mafra em particular, e eu espero que continuem a acreditar e a apoiar o PSD de forma robusta, para ganharmos as próximas eleições também em Mafra. Naturalmente, preferíamos que o processo tivesse sido de outra maneira. Não foi.

Intransigência do ainda presidente pelo PSD e agora candidato independente? Ou do partido?

São vontades. O PSD fez uma escolha, a escolha estava definida previamente. O candidato independente já sabia qual era a escolha do PSD, mas sentiu que tinha condições também para avançar com um projeto político. Ofereceu-se ao PSD, achando que tinha as condições. Fez outra escolha. Gostávamos que tivesse sido diferente. Não é. A política é a arte do possível.

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