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10 milhões de especialistas em comunicação
Eu também sei exatamente qual o sistema de jogo que a minha equipa deve adotar, mas ‘falhei’ todos os níveis de formação exigidos pela UEFA e não percebo nada de metodologia de treino.
Há duas áreas relativamente às quais toda a gente opina: futebol e comunicação. Se no caso do futebol todos sabemos que cada um de nós reúne o melhor de José Mourinho e Guardiola, no caso da comunicação é paradoxal que muitos desconheçam o que fazemos, mas pareçam ter um verdadeiro ‘mestrado’ quando comentam o que se diz.
O futebol é, de facto, o melhor e o mais democrático exemplo disto. Um gestor, um trabalhador agrícola e um cientista entram num bar e, diante de uma televisão, todos partilham a mesma paixão enquanto assistem a conferências de imprensa de treinadores, para delas extraírem conclusões: que “o presidente devia ter ido à sala de conferência explicar”; que o mister “tinha que ter sido mais claro sobre porque é que o jogador não foi utilizado”; ou “que o Rúben Amorim é que sabia comunicar”.
A política é outro extremo, ainda assim um exemplo que ilustra o que digo. Não existe atividade em que os jornalistas melhor entendam a existência e a importância do trabalho dos profissionais de comunicação. O silêncio ou as declarações de líderes são dissecadas ao extremo, com horas de análise política sobre o que disseram, o que disseram entre linhas, o que não disseram e o que já deviam ter dito. E esse tempo de antena, não focado no que se disse, mas em como, quando e onde se disse, desenvolve uma sensibilidade no público sobre a importância da estratégia de comunicação.
Com estas caricaturas é fácil perceber que esta ‘especialização’ também se aplica na área da comunicação empresarial. São vários os momentos em que a nossa formação superior, cursos técnicos e décadas de experiência esbarram nas certezas absolutas de alguns clientes ‘com amigos jornalistas’, com jeitinho para fazer press releases e que até sugerem títulos para as notícias. Perdoem-me a analogia, mas é o mesmo que chamar a cozinheira do restaurante para lhe dizer como fazer o meu almoço.
O problema, no entanto, está nos dois lados. Esta sensação de que todos “sabemos da poda” tem levado ao aparecimento de alguns profissionais e agências que passam a ‘vender’ o serviço de relações públicas como uma extensão de outros serviços de comunicação e sem recorrer a profissionais formados e (ou) experientes.
Já disse antes que gosto de uma certa ‘invisibilidade pública’ desta profissão. É um dos encantos do que fazemos. A não ser em matérias de causa própria, existimos para que os nossos clientes tenham a visibilidade adequada, mas é importante que quem nos contrata tenha consciência das vantagens de um trabalho profissional.
Até um press release exige um fino equilíbrio entre a leitura do contexto, os objetivos de comunicação e a gestão do timing e do conteúdo. Se fosse fácil, tínhamos poupado meia década de formação e cadeiras de estratégia, retórica, public affairs, ética e por aí fora.
É como no futebol. Eu também sei exatamente qual o sistema de jogo que a minha equipa deve adotar, consigo ‘ler’ o jogo e saber quais as substituições que devem ser feitas, mas ‘falhei’ todos os níveis de formação exigidos pela UEFA e não percebo nada de metodologia de treino, fisiologia do exercício, nutrição no desporto ou antidopagem.
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