Douro – que caminhos para o futuro?
A uva deve ser valorizada de acordo com o custo de produção, privilegiando relações comerciais transparentes e sólidas. Não é admissível a venda sem preço Este não pode flutuar abaixo do valor justo.
O Douro Vinhateiro, exemplo mundial de uma boa organização/demarcação do território, conhecido pela sua paisagem deslumbrante e seus vinhos de excelência, enfrenta atualmente uma série de desafios que ameaçam a sua sustentabilidade e futuro próspero.
A região viveu a vindima 2024 sob a pressão da falta de compradores das uvas sem “benefício” (direito à produção de Vinho do Porto). As notícias e as conversas sobre esta incerteza na venda das uvas e o atual desânimo na atividade vitícola extravasaram a nossa região.
Em devido tempo, a ProDouro fez a seguinte recomendação ao Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP): uma adenda à Declaração de Colheita e Produção de 2024, na qual o viticultor apresentaria a área e o modelo de vinha que não vindimou por falta de comprador. As vinhas declaradas para este fim conservar-se-iam sem vindimar até 15 de dezembro de 2024, para a verificação necessária.
Foi com particular satisfação que constatamos a anuência do IVDP a esta pretensão. Só se podem tomar medidas e orientar ações futuras conhecendo bem a dimensão do problema e saber até que ponto aquele cenário foi concretizado.
Trata-se de uma situação atípica numa região com a imagem e prestígio que o Douro possui no panorama internacional. Um cenário como o vivido na vindima de 2024 tem de ser motivo de forte reflexão por todos os agentes envolvidos na cadeia de valor, desde o viticultor até ao vendedor, sem esquecer os agentes públicos e governamentais que regem a atividade vitivinícola. É tempo de parar para pensar e tomar as medidas necessárias para que não se repita!
A situação do excesso de stocks de vinho é uma preocupação real que precisa de ser abordada de maneira eficaz. O IVDP impôs, em maio deste ano, restrições à entrada de vinhos de fora da região, que, apesar de tardias, finalmente estão em vigor. E as restantes regiões do País, vão continuar a ignorar o problema?
É muito importante que as entidades nacionais (IVV, CVR’s) se envolvam e tomem medidas efectivas, assim como as entidades fiscalizadoras (ex. ASAE) tenham meios para que possam cumprir o seu papel e controlar de forma eficaz os vinhos que dão entrada nas adegas. Trata-se de um problema nacional e não apenas de uma região, é tempo de o assumir frontalmente e sem reservas mentais.
Não conseguindo controlar a produção de acordo com as necessidades do mercado, a viticultura pode ultrapassar este problema com a colheita em verde, uma medida drástica, à partida indesejável, mas cujo bom senso de uma aplicação avulsa deve ser admitido. Já se aplica noutras regiões vitícolas do mundo (ex. Espanha) que demonstram grande maturidade e gestão eficiente do negócio. A ProDouro foi pioneira na divulgação desta ideia, defendemo-la em 6 de Maio numa carta aberta ao Senhor Ministro da Agricultura, que já assumiu inscrever a medida no orçamento do sector para 2025. Regozijamo-nos por constatar que outras organizações apadrinharam a ideia, Produção e Comércio estão em sintonia nesta matéria.
Por outro lado, a uva deve ser valorizada de acordo com o seu custo de produção, privilegiando relações comerciais transparentes e sólidas. Não é admissível a venda de uva sem preço e este não pode flutuar abaixo do valor justo sob pretexto de estar a obedecer à lei da oferta e da procura.
A ProDouro está a iniciar um trabalho em colaboração com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro de apuramento dos custos efetivos de produção da região do Douro. Pretendemos com este estudo acabar com as especulações que tantas vezes se apregoam sobre esta matéria e garantir que o agricultor seja justamente remunerado. A viticultura é uma atividade económica como outra qualquer e não tem futuro se o produtor de uvas não tiver rendimento do seu trabalho. Esta é a verdadeira sustentabilidade!
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