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A (outra) lição de Amorim
Rúben saiu e com ele o 3-5-2. Mas os ensinamentos de comunicação deveriam ter feito escola. Porque esses, quando bem feitos, não dependem de um homem só. Dependem da gestão da marca.
“As nossas condolências à equipa da casa” escreviam o Manchester United e a Nike por ocasião do lançamento do seu extraordinário ‘away kit’, integralmente negro, nos tempos áureos de sir Alex Ferguson. A cultura demolidora do clube inglês associava-se ao ADN da marca norte-americana e não restava outra opção aos adversários senão acender uma velinha.
“E se corre bem?” disparou Rúben Amorim na sua apresentação no Sporting Clube de Portugal, deixando milhões de sportinguistas perplexos pela ousadia, numa instituição onde até o próprio otimismo dá azar. Precisamente o oposto ‘desse’ United.
Mais do que a tática em campo, o antigo treinador do Sporting rompeu radicalmente com a cultura do clube, cujo hábito de perder deu origem a todo o tipo de fatalismos, na forma de arbitragens, maldições do número 7, talentos que fogem cedo demais, claques autofágicas e por aí fora. Tudo isto retira foco e normaliza a derrota. Nisso não há clube mais português do que os leões, sendo o FC Porto e o SL Benfica raros exemplos de confiança e competitividade além-fronteiras.
Amorim transformou para melhor a mentalidade competitiva do balneário. E isso vale títulos. A sua saída deixou incompleta a obra, porque o fado do clube e da bancada parece permanecer igual.
A super mediatização do futebol tornou a comunicação parte do jogo. E nesse ponto o Sporting volta atrás. O fatalismo voltou em força, desta vez na forma de catástrofe clínica: jogadores, adeptos e dirigentes vivem na expectativa da próxima contrariedade. E isso traduz-se diretamente na confiança em campo e nas bancadas.
Jogo após jogo, a comunicação do clube e a do seu novo treinador afundam-se na enumeração dos motivos que o levam a ser menos competitivo. “Estes jogos exigem que estejamos a 200% e nós nem a 100% estamos” afirmou Rui Borges depois da primeira eliminatória dos play-offs da Champions League, entre longos minutos de lenga-lenga mais de natureza clínica do que futebolística ou anímica.
O ex-benfiquista Amorim deu a lição: mais do que se focar no que o torna mais fraco o clube deve mobilizar-se em torno do que o deixa mais perto de ganhar.
Seria tão mais simples — neste mesmo contexto — substituir a lamúria por um pedido de que o estádio estivesse cheio no próximo jogo, porque neste momento de fragilidade a equipa precisa da energia dos adeptos.
Rúben saiu e com ele o 3-5-2. Mas os ensinamentos de comunicação deveriam ter feito escola. Porque esses — quando bem feitos — não dependem de um homem só. Dependem da gestão da marca, cujo papel se torna absolutamente crítico nos momentos mais duros de uma organização., neste caso desportiva.
Preserve-se — e cultive-se — o que não depende dele.
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A (outra) lição de Amorim
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