Autárquicas 2025. PSD, tem mesmo de ser agora!
Este tipo de votação de proximidade provoca um aumento significativo da participação. Portanto, sim, a política nacional tem muito a aprender com a política autárquica.
Estão a chegar mais umas eleições autárquicas, as minhas favoritas e creio que a verdadeira personificação da política. Estas eleições de 2025 vão ser bastante importantes por um conjunto variado de razões que me proponho a esmiuçar no texto de hoje. Nos últimos dias andei a investigar os resultados das autárquicas passadas e usarei esses resultados para tirar algumas ilações.
Primeiro, é importante realçar que as eleições autárquicas são formadas por milhares de eleições autónomas, pelo que é pertinente estudarmos o seu vencedor de duas formas distintas: em stock e em variação. A análise em stock é a mais comum, consiste em ver quem tem mais autarquias, em especial Presidentes de Câmara. Já a análise por variação consiste em analisar quem mais cresceu de uma eleição para a outra. Parece-me que esta segunda é a politicamente mais relevante por duas razões: porque o peso da incumbência numa autarquia é imenso, pelo que é improvável tirar um Presidente do exercício antes de findos os 3 mandatos e porque só estes fluxos de autarquias em massa é que podem ter significados políticos nacionais.
Apesar disto, a beleza destas eleições é também a votação livre que significam. Os eleitores fogem das amarras partidárias que costumam ter em eleições nacionais e votam, talvez, em consciência na pessoa que preferem para liderar o órgão em questão. E mais, este tipo de votação de proximidade provoca um aumento significativo da participação. Portanto, sim, a política nacional tem muito a aprender com a política autárquica.
Vitória em 2025 – PS vs PSD
Explicados os dois tipos de vencedores que podemos encontrar neste tipo de eleições, convém olharmos para os seus significados e para o que nos conta a história. Os ciclos de 3 mandatos são evidentes quando olhamos para os últimos 50 anos, mas o mais interessante que descobri é que, sempre que o vencedor em stock difere do vencedor em variação, nas eleições seguintes o ciclo muda. A única exceção foi de 93 para 97, quando aconteceu um empate antes de em 2001 começar o último ciclo do PSD.
Em 2021, o PS teve mais câmaras, mas decresceu e o PSD cresceu, vencendo em variação. Rui Rio tinha razão quando apontava para a centralidade daquelas eleições. Era fulcral que o PSD crescesse naquele ano. Da mesma forma que hoje é vital que o PSD ganhe as eleições em número de autarquias, arriscando-se, caso não consiga, a mais um ciclo de 12 anos de hegemonia autárquica socialista com o peso nefasto que isso pode ter nas bases e hostes laranjas.
A situação à partida seria favorável ao PSD, depois da reviravolta de 2013, já passaram 12 anos e mais de 1/3 dos Presidentes enfrentam o limite legal de mandatos. Já muitos foram aqueles que saíram para deixar o seu vice-presidente numa posição mais benéfica, mas 54 autarcas socialistas e 30 do PSD não se podem recandidatar. A porta fica entreaberta.
Câmaras como Porto, Sintra, Vila Nova de Gaia, Cascais, Braga, Aveiro, Santarém ou Faro ficam livres e outras como Lisboa, Setúbal ou o Funchal parecem estar também verdadeiramente em jogo. A perceção da vitória é também em muito influenciada pelos resultados nas maiores autarquias. Andei por isso a ver o comportamento dos 10 maiores municípios em população + Coimbra + Funchal e a comparar com os resultados nacionais, e percebi que em 77% dos casos quando um partido vence a maioria das câmaras mencionadas, vence as eleições em stock.
Apesar da variação nas eleições anteriores e do número de municípios socialistas onde o atual presidente não se pode recandidatar, o objetivo do PSD pode ser mais difícil do que parece. O crescimento autárquico que se pode esperar dos partidos à sua direita, principalmente do Chega, pode condicionar vitórias do PSD em concelhos mais divididos.
Estou certo de que muita gente está ainda a pensar que para além do que já disse, o partido no governo sai sempre prejudicado das eleições e por isso o PSD pode enfrentar um cenário ainda mais negro. Não estou certo disso. Em 1979 e em 1993 (fim do cavaquismo), o PSD venceu em variação, pelo que não é impossível de voltar a acontecer. É certo que o PSD tem historicamente mais dificuldade em vencer quando está no governo, mas em política não há impossíveis e o momento atual é muito peculiar.
PCP, CDS, Independentes e Chega
Olho agora para mais quatro casos particulares que pode interessar ter em atenção nestas eleições que se seguem. Primeiro, a CDU, face a 2013, já perdeu 15 presidências municipais e os resultados nacionais não auspiciam nada de muito bom. Hoje, tem 19 autarquias e destas, 12 têm presidentes a terminar o terceiro mandato. Aí o PS, certamente, apresentará candidaturas fortes para tentar tapar possíveis derrotas para o PSD em outras geografias. A somar a isto, há o caso de Setúbal, com um presidente do PEV pouco popular e aparentemente com uma derrota anunciada. No entanto, a proliferação de candidaturas à esquerda a somar à independente, da ex-presidente Maria das Dores Meira, torna este palco um dos mais interessantes da campanha e da noite eleitoral.
Depois, o CDS pode dar mais um passo em frente rumo ao precipício há muito anunciado. As saídas do partido continuam a acontecer e parece inevitável a total ‘PEVitivização’ autárquica do que sobra do partido. Metade dos 6 concelhos que o partido lidera, vão a eleições sem o presidente recandidato. Antecipo que seja um dos grandes derrotados, vítima do crescimento autárquico do Chega, mas cantará vitória pelos municípios que ajudar o PSD a vencer.
Vai ser ainda interessante observar as candidaturas independentes. Desde 2001, com a primeira vitória independente, cresceram todas as eleições, chegando hoje às 19 presidências. Em 2025, vão perder o seu expoente em Rui Moreira e será bastante relevante perceber se mantêm a tendência de constante crescimento.
Por último, e para mim o mais cativante destas eleições vai ser acompanhar o resultado dos outros partidos. Em Portugal, nunca nenhum partido para além dos quatro fundadores do regime (PS, PSD, CDS e PCP) conseguiram ter implantação autárquica. Mas é verdade também que nunca tivemos um terceiro partido tão forte como Chega e nunca mais nenhum partido para além dos 4 referidos havia conseguido, efetivamente, vencer um distrito, mostrando uma força eleitoral concentrada territorialmente, elemento necessário para disputar de forma competitiva as eleições.
Dito isto, parece-me certo que, pelo menos, o seu resultado dificultará em grande medida os objetivos do PCP de manter autarquias no Alentejo e do PSD de vencer as eleições em número de presidentes concelhios. Só isto já é suficiente para voltar a fazer do Chega e de André Ventura elementos centrais das próximas eleições. A ver vamos, mas que serão eleições com significado político para o futuro, estou certo.
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