
Ghosting corporativo: um ruído na reputação
Responder exige trabalho, mas gera respeito, constrói pontes e relações e, no fim do dia, é isso que suporta qualquer marca, pessoal ou institucional.
Há fenómenos que saltam da esfera pessoal para a profissional com uma espontaneidade que desassossega. Desengane-se quem pensa que o “ghosting” é um exclusivo das relações amorosas. Esta arte de desaparecer sem deixar rasto ou explicação, de que tanto hoje se fala, afeta também as dinâmicas corporativas, silenciosamente, mas com impacto significativo.
Cada vez mais, em mais de 25 anos de experiência em jornalismo e comunicação institucional, tenho ouvido relatos de colegas, profissionais de agências, empresas e serviços públicos. Todos têm histórias a contar. Muitas histórias.
Na vida pessoal, o “ghosting” é uma experiência dolorosa, no mundo organizacional, é quase oficializado: o email que fica no ar — “o ‘seen’, mas adiante” — a chamada não devolvida, a proposta urgente ignorada, a entrevista de emprego com um candidato promissor que nunca recebe feedback, departamentos que deixam colegas no éter, um “pitch” perfeito e… depois, nada além do eco do silêncio. E já nem nos surpreendemos?
É neste encontro de vivências que traço este retrato, uma espécie de mosaico do que se observa no mercado e nos convida à reflexão.
E não. A questão não se limita a uma falha na cortesia “old school”. Trata-se de uma questão de comunicação, ou mais precisamente, da ausência dela. O “ghosting” representa um desinvestimento na relação, uma quebra na confiança. Um ruído na reputação.
Atrevo-me a dizer que na maioria dos casos nem há intenção negativa. Há sim dias com sobrecarga real, em que a caixa de entrada parece um “escape room” sem solução e de priorização do urgente sobre o importante. Todos podem cometer falhas, errar ocasionalmente é humano. Agora, sistematizar o silêncio é cultura organizacional. E a falta de cultura de resposta não é sustentável.
O antídoto? Tratar a resposta a mesma dedicação que a um desporto de resistência.
Responder é um princípio. E outras boas notícias? Existem métodos relativamente simples para evitar o desaparecimento institucional. Por exemplo, responder com um “agradeço o envio” ou um “obrigado, mas o momento não é oportuno”. Um “não” dito com respeito é mais valioso do que um “visto” que ecoa no vazio. Automatize respostas, crie boas práticas de comunicação e de “follow-up” ou processos internos que incentivem a resposta, negativa ou provisória.
Responder exige trabalho, mas gera respeito, constrói pontes e relações e, no fim do dia, é isso que suporta qualquer marca, pessoal ou institucional. É um gesto simples, mas poderoso, que influencia a imagem das organizações. Fechar conversas com clareza e respeito demonstra profissionalismo e humanidade.
Porque, sejamos francos, nas relações pessoais ou nos negócios, ninguém deseja ser responsável por deixar o outro no limbo.
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