Mais e melhores boas notícias

  • Rita Serrabulho
  • 5 Abril 2023

Precisamos de um país que pare de se autoflagelar, e que tenha a confiança de comunicar o que tantos empreendedores, tantas empresas e tanto talento estão a dar mundo e a Portugal.

Depois de assistirmos, a partir de 2011, a uma quase rutura financeira do país que levou à morte de inúmeras empresas portuguesas e empurrou tantas outras para os mercados internacionais, foi crucial que estas expandissem o seu legado e conquistassem novas geografias, procurando ganhar notoriedade, posicionamento e novas oportunidades de negócio.

Paralelamente – e porque vivemos nos últimos dez anos uma mudança total do paradigma da comunicação como a conhecíamos até então – gestores, empresários e políticos tiveram de se adaptar aos desafios de um setor que se tornou muito mais segmentado, fragmentado e, acima de tudo, mais global, criando a necessidade de se exporem mais aos mercados externos. Foi com audácia que fizeram de Portugal, mas também do mundo a sua casa, provando que muitas das nossas empresas sabem bater-se de igual para igual com inúmeras multinacionais. Uma comunicação que gerou mais negócio, mais competitividade e que tem vindo a contribuir para um país que sonha ser mais reconhecido.

Mas os ecos de Portugal estão longe do seu enorme potencial. Vivemos numa era em que mais do que nunca a reputação das empresas está exposta ao mundo, e onde a nossa notoriedade enquanto país influencia a confiança que alguns em nós queiram depositar. Creio estarmos todos de acordo que precisamos de um desígnio, de um país mais estruturado, mais pensado, mais transformador. Mas certamente também precisamos de um país que pare de se autoflagelar, e que tenha a confiança de comunicar o que tantos empreendedores, tantas empresas e tanto talento estão a dar mundo e a Portugal.

Falta-nos ambição. É verdade. Mas como podemos ser mais ambiciosos, mais competitivos, ter mais notoriedade, quando somos os primeiros e maiores críticos de nós próprios? Quando o espaço mediático é amplamente ocupado por aquilo que menos nos dignifica, com um ínfimo palco para aquilo que é o melhor de nós? Que líderes teremos nós de futuro, se os mais jovens crescem a olhar para uma ausência de exemplos que os inspirem e os motivem a ser parte de um país que precisa também ele de crescer, de se desenvolver, de investir e capacitar os seus recursos, de cativar as gerações mais novas?

Temos de conseguir inverter este ciclo.

A comunicação social é essencial à democracia, e dela esperamos uma total resistência e impermeabilização às instrumentalizações dos sistemas. O seu rigor, bem distinto da informação das redes sociais, tem um papel fundamental no desenvolvimento económico, cultural e social, e na veiculação isenta daquilo que fazemos, com uma consequência direta na reputação dos cidadãos, das organizações e do país. Mas temos de ser nós – empresas e Estado, – a razão para dar boas notícias.

Só assim conseguiremos iniciar um compromisso mais positivo, mais motivador e mais respeitador aos olhos dos outros, mas ainda mais importante, aos nossos olhos.

É certo que a natureza humana gosta de se confrontar (e também confortar) com o erro e com o fracasso. Principalmente com o de terceiros. Recordo-me bem, que entre 2011 e 2016, Portugal, a par da Grécia, foi falado pelas piores razões. O mundo queria saber como havíamos chegado ali, e como era viver sob resgate e com as dificuldades que todos recordamos. E eis que as portas do palco mediático internacional se abriram para nós. Não havia órgão de comunicação social no mundo que não nos recebesse na primeira pessoa! Mas soubemos também aproveitar(-nos) desse palco, e contar ao mundo no que somos bons. E foi usando esse palco que o mundo descobriu que tínhamos turismo, talento, empreendedorismo, energias renováveis, tecnologia, entre tantas outras coisas.

Não vivemos talvez hoje as de dificuldades da mesma natureza de há dez anos, mas seria bom, que agora e por nós próprios, construíssemos uma estratégia de um Portugal mais positivo e com uma comunicação mais construtiva. Políticas públicas mais amigas do desenvolvimento económico permitirão às empresas capacitar mais o seu capital humano, tornando-as mais atrativas para reter o nosso talento, dando mais condições e oportunidades às gerações mais novas.

Os nossos jovens merecem poder escolher ficar ou voltar para o seu país, e quem sabe até, encontrar a motivação para serem parte ativa de um Portugal mais competitivo, mais inovador, mais desejado, e naturalmente com uma notoriedade que se distinga por mais e melhores boas notícias.

  • Rita Serrabulho
  • Diretora-geral da AMP Associates

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