O décimo sétimo lugar no ranking

  • Marcelo Lourenço
  • 11 Julho 2025

Ser o 17.º profissional mais admirado em qualquer lista não me dá direito a nada - ninguém consegue uma boa mesa num restaurante por ser o décimo sétimo mais admirado.

Em maio, fiquei chocado: descobri que sou o décimo sétimo profissional mais admirado da criatividade em Portugal.

Chocado e agradecido — estar em 17.º lugar numa lista que incluía centenas de nomes é uma honra e tanto.

Especialmente numa lista feita pela Scopen, uma das empresas mais sérias da nossa indústria.

Também fiquei aliviado: imagine ser o número 1 deste ranking? Quem quer esse peso? A cada nova campanha, pensar — será que isto é algo digno de admiração? Ou será que um jovem criativo, numa agência em Bucelas, se vai deparar com este filme, com este spot de rádio, com este post no Instagram e sentir-se traído e, incrédulo, dizer: “Não pode ter sido o número 1 de Portugal a fazer isto…” O jovem criativo choraria, e as suas lágrimas seriam a prova líquida de que eu sou uma fraude.

Ser o número 2 ou o número 3 também não garante vida fácil a ninguém.

Estar quase no número 1, se calhar, é um peso ainda maior.

Viver na pressão de estar a apenas uma campanha de ser o número 1 deve ser uma fonte inesgotável de ansiedade. Ver cada novo briefing como a derradeira oportunidade de chegar ao pódio absoluto, ser capa das revistas semana sim, semana não, e passar todo o tempo a ouvir à incontornável pergunta que ninguém sabe responder – “de onde vêm as suas ideias?”.

Quem está dentro do top 10 também tem o direito de perder noites de sono a perguntar-se — o que será preciso para chegar ao topo? Ser mais criativo? Ser mais duro com os clientes? Usar ténis mais coloridos? Despedir os accounts?

Eu não tenho nenhum desses problemas.

Ser o 17.º profissional mais admirado em qualquer lista não me dá direito a nada — ninguém consegue uma boa mesa num restaurante por ser o décimo sétimo mais admirado.

Nem me vão convidar para ir a um podcast explicar como cheguei a esta posição cimeira onde dezasseis outras pessoas estão muito mais bem colocadas do que eu.

O décimo sétimo lugar não ganha um troféu, mas leva para casa a paz de espírito de quem não tem nada a perder. Se tiver uma ideia completamente absurda, que nunca foi feita ou testada, posso apresentá-la ao cliente sabendo que, se perguntarem se aquilo vai dar certo, posso responder com a franqueza de quem está praticamente fora do top 20: não faço a mais remota ideia.

O décimo sétimo colocado não precisa de saber tudo.

Não precisa de acertar sempre.

Não precisa de ter sempre razão.

Não precisa de ter tanto medo de falhar.

Que é precisamente aquele lugar perfeito onde as coisas maravilhosas acontecem.

Por isso, agradeço à Scopen e a todos os profissionais do nosso mercado que votaram em mim — mas agradeço ainda mais aos que não votaram.

Se, para o ano, o pior acontecer e eu for promovido ao 16.º ou — Deus me livre e guarde — ao 15.º lugar, conto convosco para não deixarem que o sucesso me suba à cabeça.

  • Marcelo Lourenço
  • Co-fundador da Coming Soon Lisboa

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